sábado, 29 de outubro de 2011

O juiz e o vernáculo

                                              



Era véspera de carnaval. O advogado do governador de Brasília impetrara junto ao Supremo Tribunal Federal, um “Habeas Corpus” para resgatar seu cliente da” masmorra”, que era como o causídico denominava um quarto com t.v  e frigobar em que estava preso o Arruda. O juiz que julgaria o pedido seria o Ministro Marco Aurélio. Temi. Afinal o grande magistrado, a quem devemos a criação da TV Justiça, é conhecido pela forma como ataca qualquer restrição à liberdade de ir e vir assim como não admite qualquer medida que reduza o direito à ampla defesa. “Mas isso está certíssimo” Você dirá. Sim, devo concordar que estes princípios devem nortear qualquer sociedade que queira gozar do estado de direito. Mas tem um senão.
Aqueles que merecem o douto voto do ilustríssimo ministro são apenas os que, através de seus bem remunerados advogados, conseguem levar seus pleitos ao tribunal supremo, justiça dos ricos e riquíssimos. Para preso pobre, algemas, cadeia e a cara estampada no programa do Datena.
Mas, surpreso, leio no “Congresso em foco” que Sua Excelência denegara o pedido em substancioso voto. O panetônico governador passaria o carnaval preso.
Com uma alegria sádica passo a ler a íntegra do parecer do Ministro Marco Aurélio e lá pelas tantas me deparo com a expressão “veio à balha.” O ministro errara tão grosseiramente? Para ter certeza fui ao “Aurélio” que tenho no computador  e constatei que só havia a expressão “à baila.” Quanto “à balha,” nada. Só poderia ter sido erro de impressão,ou algum secretário distraído   Fiquei pensando como pode um documento de tamanha importância vir à público com semelhante falha. O ministro estaria  indignado.
Passou o tempo e eis que um dia assistindo a um julgamento daquela colenda corte, escuto o nobre magistrado cometer o mesmo erro, desta vez de viva voz. Mais duas ou três vezes ouvi de Sua Excelência a mesma dicção. _Como pode? Perguntavam meus botões. Eu dava de ombros.
Semanas atrás, numa dessas tardes frias do sul, acompanhando o julgamento de um dos membros de nossa elite, ouço novamente e dos mesmos doutos lábios a citação e antes que pudesse retirar meu riso galhofeiro do rosto, o ministro aclarou:_“A expressão é vernacular , Balha com L H “ Desta vez, computador desligado, corri ao meu velho dicionário Lep edição de 1964 e lá estava;” à balha ; a propósito, vir à balha fazer-se lembrado de modo oportuno”. O Ministro estava certo e o “Aurélio” errado. E eu também e algum outro que por certo questionou o Ministro fazendo-o aclarar, em público, o uso da locução.
Ficou a lição. O meu desconhecimento não é prova da inexistência de nada.




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