sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vila Isabel

                                                 


Quando me mudei para Buenos Aires cheguei lá crente que era Boca. Era o óbvio. Futebol para mim sempre teve uma conotação popular e não tinha o menor sentido torcer pelo River embora, como mineiro, tivesse mais lembranças do time de Nuñes .Afinal foi um jogador do River quem marcou o primeiro goal  do Mineirão em sua inauguração que contou com o time porteño.
Mas não. Mesmo que suas origens no Brasil nada tenham de popular, vejo no futebol uma expressão de massas, de maiorias. Não vejo sentido algum em alguém torcer pelo Fluminense ou pelo Cruzeiro ou ainda pelo São Paulo quando há o Galo, o Flamengo, o Vasco ou o Coríntians para torcer. Não entendo alguém ser tricolor, das Laranjeiras ou do Morumbi ou, pior ainda, de Porto Alegre. Desconfie sempre de times tricolores.
Mas como ia dizendo, cheguei em  Bs As  achando que era Boca até o dia em que acompanhava pelo rádio ( naquela época não havia futebol na televisão argentina, Só um vídeo tape domingo de noite e mesmo assim resumido) o jogo Boca Juniors x  Racing. O primeiro tempo terminara 2 x 0 para  los bosteros mas no segundo tempo veio a virada. O time de Avellaneda  tinha um ataque maravilhoso com Medina Bello então com dezenove anos, Totti Iglesias e Gualter Fernandes. No meio campo imperava o uruguaio Ruben Paz alem de contar com “El Pato” Fillol no goal e Nestor Fabri na zaga. O técnico era Alfio “Coco” Basile.
E foi “El Totti” Iglesias quem comandou a virada metendo três goals. Os três de cabeça. Pronto, eu era racinguista. Acompanhei o time, pelo rádio, durante toda a temporada que o deixou em terceiro ou quarto lugar. Nesse ano o Racing ganhou um torneio continental em cima do Cruzeiro. Bom demais da conta.
Nesse caso lembro com precisão quando me tornei torcedor do Racing durante minha estada argentina. Mas houve outras conversões das quais não tenho idéia como se deram.
Quando deixei de acreditar que era mangueirense e me converti às cores de Vila Isabel? Não sei. Só sei que hoje torço pela Vila no desfile das escolas.  Não é por ser do bairro de Noel, afinal todas as escolas tem  grandes e admiráveis nomes ligados às suas cores. A Mangueira de Cartola, a Portela de Monarco o Império de D. Ivone Lara. Etc, etc e etc. Tampouco há, como no futebol, grandes diferenças nas origens das agremiações. Todas nasceram no seio do povo mais humilde do Rio de Janeiro. Nos morros e periferias. A Mocidade nasceu de um time de futebol que depois virou bloco e depois escola de samba, isso lá na Vila Vintém.
Freqüentei os ensaios da Vila por algum tempo, mas também ia á quadra da Portela quando esta se hospedava em Botafogo. Minha tia foi vizinha da "Em cima da hora" em Cavalcanti e de sua casa escutava-se a bateria da escola. Tenho aproximação afetiva com outras escolas por seus compositores que admiro. Mas torcer, torço pela Vila.

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