quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Colunista





Em um grande jornal houve um pedido de cancelamento de assinatura. Como o pedido havia sido feito por um dos mais antigos e fiéis assinantes, o departamento comercial do diário mandou que um funcionário fosse pessoalmente inquirir sobre o motivo do cancelamento. Encontrado o homem, perguntou-lhe o enviado do jornal:_ Afinal o que o fez cancelar sua assinatura? Foi a mudança na linha editorial? Alguma falha na entrega? Algum artigo o incomodou? _Nada disso, respondeu o outro, é que eu me aposentei, vendi a peixaria.
 Confesso que não leio jornais. As informações que busco , encontro na internet, na televisão, no rádio. Faço dos jornais impressos, que me caem nas mãos, uso semelhante ao do antigo peixeiro. Forro as latas de lixo. Claro que dou uma olhada nas manchetes, e se há alguma coluna com foto do colunista, leio por alto, sem buscar os óculos. Colunista com retratinho é irresistível.
 Roberto Arlt, o maior escritor argentino de todos os tempos e estilos, escrevia uma coluna jornalística intitulada “Águas fuertes porteñas” que era a mais lida em Buenos Aires, mas, seu rosto era desconhecido. Não havia retratinho encimando sua coluna. Quando morreu, em 1942, circulavam lendas sobre ele. Diziam que de tão alto, seu caixão não passara pelas curvas das escadas do prédio em que morara e foi necessário baixa-lo por cordas. Hoje saberíamos o número de seu sapato. Sua escrita não seria suficiente para imortaliza-lo. Nos nossos dias o escritor e o jornalista devem ser reconhecidos nas ruas. Daí os retratinhos.
De manhã ao forrar a lata de lixo com o lixo impresso, deparo-me com a coluna (retrato e tudo) do Sr. Cacau Meneses. Este “jornalista” mantém, além de página inteira no “Diário Catarinense”, alguns longos, intermináveis minutos no “Jornal do almoço”, noticioso que é exibido pela televisão pertencente ao mesmo grupo empresarial do diário. E é uma celebridade na província. Gaba-se de ter sido narrador esportivo aos doze anos mas esquece-se de dizer que a rádio, na qual fazia-se de locutor, pertencia a seu pai. Em sua coluna trata de politicagem local e festinhas de grã finos. Em um número da semana passada, sob o título “Esqueceram o metrô”, o Sr. Cacau nos brinda com o seguinte: _“Que a maquete da quarta ponte impressionou, isso ninguém tem dúvida. Que ela vai ser construída, saindo do mundo virtual para o mundo factível, isso é outra coisa que não tem mais como ser protelada”
 Ora, uma maquete é a visão de algo factível. Lá está, em escala reduzida, algo que pode ser feito. Algo factível. Acho que ele quis dizer “do mundo virtual para o mundo real” mas, talvez achasse que a imagem já está demasiado gasta e resolveu usar seu vasto vocabulário. O resto da frase também é um desastre. Mas continua o Sr. Cacau: _”Afinal, o trânsito há muito que já não atende à mínima necessidade para uma mobilidade razoável.” Que confusão do cacete.
Mas não pára por aí. Na mesma edição de 5 de novembro de 2011 agora sob o título “Floripa sem miséria (1)” o Anselmo Góes da imprensa catarinense manda a seguinte letra que não resisto a reproduzir na íntegra: _”O presente e o futuro da Capital, convenhamos, tem sido discutidos em torno das classes A,B e C. As classes menos favorecidas ou têm sido esquecidas ou entram no contexto estatístico, ou seja, ao se analisar os grupos com maior poder aquisitivo, engloba-se, automaticamente,os de menor renda. A partir dessa constatação, cuja veracidade teria que ser confirmada por estudos mais aprofundados, pergunta-se: o Programa Brasil sem Miséria, lançado pelo governo federal, precisa ser aplicado na Ilha da Magia? Reiterando: é uma questão para análise”
Amigo, você que alem de ter bom coração, possui o dom da inteligência, cursou uma boa faculdade e já mergulhou nos confins da metafísica, poderia me explicar que porra é essa? Por mais que me esforce não consigo entender o que quis dizer o aprofundado Cacau Meneses. Seria uma crítica às estatísticas? Um questionamento sobre a política do Governo Federal? Ressaca? Overdose de santo daime?
Bem, talvez você não possa me ajudar ou nem mesmo queira, afinal pode estar pensando: _Olha quem fala. Pontua mal, conjuga que é um despautério, craseia como um chimpanzé e quer falar mal do outro. Mas aí, embora concorde, trago mais uma estorinha jornalística em meu socorro. Lá pelos anos trinta nos Estados Unidos, um proprietário de um tablóide sensacionalista foi questionado por um colega da imprensa “séria”: _Como você pode publicar um jornal tão ordinário? Respondeu o outro sem perder a pose: _ É ruim, eu sei, mas só custa 10 centavos . Pois bem, é o mesmo caso. Para ler o Sr. Cacau Meneses há que pagar 2 reais, enquanto que aqui é de graça.


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