Em 1988, Carlos Menem concorria
com Antonio Cafiero pela indicação de seu partido para disputar a presidência
da República Argentina. Foram prévias renhidas com simpatizantes exaltados e
grandes frases no melhor estilo grandiloqüente dos políticos daquele país. Num
dos últimos atos públicos de sua campanha, Menem proferiu discurso no qual expunha
os motivos que o levavam a querer disputar a Casa Rosada e por quem lutaria
caso fosse eleito presidente. Disse o homem das costeletas:_”Por los niños
pobres que tienen hambre, por los niños ricos que tienen sed de amor”. Pois é,
ele não deixava escapar ninguém. Mas se esse discurso é risível, em outra fala, o filho de La Rioja
resolveu citar o prócer de seu partido e mandou essa:_ “Como dijo Perón, nunca
tantos hicieram tanto por tan pocos”.Isso ninguém me contou, eu mesmo ouvi
ambos os discursos transmitidos pela Rádio Del Plata, presente nos comícios com
seus microfones.
Mas se trocar o nome do autor ao
citar uma frase já é pecado, o que dizer de quem cita, como se sua fosse, a
frase de outro? Indesculpável. Mas há pior.
Outro dia, corria os olhos por
um sítio informativo quando me deparei com a reprodução da coluna que Luis
Felipe Pondé escreve na Folha de São Paulo. O filósofo, em seu texto áspero,
fazia considerações sobre essa mania tão caipira de nossas classes médias de
enaltecer a Europa em tudo.
Eu , ainda que com certo receio, ia concordando com o pensador
da Avenida Paulista quando encontro a frase:_”Eu não sou patriota, patriotismo
é para canalhas”. Tive a certeza de estar diante de uma adulteração.A frase
fora corrompida, deturpada, mas ainda estava lá., reconheci-a. “O patriotismo é
o último refúgio de um canalha”
Quando o Samuel Johnson cunhou o
dito, me parece óbvio que quis dizer que esgotados todos os recursos de
canalhice, o sujeito de pouco caráter usa o artifício de um patriotismo postiço
para perpetrar seu derradeiro golpe. De maneira nenhuma afirma que o
patriotismo é coisa de canalhas, pois qualquer um olhando em volta, encontra
patriotas dignos. Homens e mulheres que através da história fizeram do seu amor
à terra em que nasceram, fonte de inspiração dos mais altos e desinteressados
ideais. Basta lembrar o Tiradentes e os outros componentes da conjuração
mineira. Ou, no século seguinte, toda a geração de literatos que instauraram o
romantismo no Brasil. Claro que entre estes houve um grande número de canalhas
e postiços, mas creio que não se pode mencionar Paula Brito, Teixeira e Souza
ou Gonçalves Dias, nesses termos. Estes homens que iniciaram a puberdade à
época da independência, tinham no amor à pátria nascente, algo mais que a pose
ou o trejeito de alguns contemporâneos seus. E não vou mais alem nos exemplos
para não começar a citar os vivos que poderiam me desmentir no futuro.
Mas como sabemos, Pondé ama as
câmeras e, diga-se a verdade, por elas é amado. Talvez, as horas gastas
maquiando-se para suas aparições na televisão ou sua ida a jantares e lugares
finos o tenha impedido de pesquisar para citar corretamente.e com a cabeça na
sua nutrida agenda, não foi capaz de meditar no que escrevia. Saiu-lhe o
monstrengo em forma de oração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário