Não sou de comprar livros. Pelo
menos de uns tempos para cá. Na juventude comprei alguns que ainda possuo e
outros que se extraviaram ou foram vendidos em momentos de aperto. Desses, me
lembro especialmente de um, “Moçambique, primeiras machambas” de Sônia Coutinho
e Eduardo Homem. Embora já o tenha perdido há muito tempo, tenho por esse livro
um enorme carinho. Creio que Chico Buarque também o leu, pois em sua música
“Morena de Angola” cita uma frase de Sônia Coutinho adaptando-a ao outro país
lusófono da África. É quando diz “eu acho que deixei um cacho do meu coração na
Catumbela”. Sônia havia deixado um cacho do seu em uma região de Moçambique que
visitara durante a feitura do livro.
Dos que tenho em meu poder desde
aqueles remotos dias, dois são de crítica literária; “Poesia observada” de Lêdo
Ivo e “Livros na mesa” de Otto Maria Carpeaux. Com esse mestres aprendi muito
do pouco que sei.de literatura. Ademais tive, na época que li Carpeuax, uma
enorme satisfação quando descobri que tínhamos a mesma opinião sobre um livro
que fazia furor entre os de minha geração; “O apanhador no campo de centeio” de
J.D. Salinger. Nem o mestre, nem eu, achamos a menor graça.
Em sebos e feiras de livros
usados, fui encontrando os volumes que me foram formando. Conheci Bertrand
Russel através de uma coletânea de sua correspondência trocada ao longo de décadas
com seus amigos. Este achado diz bem o que tenho como formação. O conjunto de
cartas era dividido em três volumes, mas eu só consegui o primeiro e o
terceiro. Essa lacuna sou eu.
Machado, Lima Barreto e outros
grandes da literatura brasileira eu comprava em edições de bolso,.assim como
Fernando Pessoa. De Eça de Queiros eu encontrei em um sebo, dois livros que
lastimo muito não ter mais, “Ecos de Paris” e “Cartas de Inglaterra”. São
livros de viagem. Das crônicas ali contidas, eu me lembro de algumas ainda
hoje.
Em épocas de vacas gordas eu
comprava livros novos e assim foi com a obra magistral de Pedro Nava, a poesia
de Drummond, e com Rosário Fusco. Deste, li e reli “O agressor”, que possuo não
o que havia comprado nessa época, senão edição idêntica achada em um sebo de
Floripa depois de anos de saudades. Também fui sócio do clube do livro e
conservo “Os miseráveis” de Vítor Hugo como lembrança daqueles dias.
Mas a maioria dos livros que li,
busquei em bibliotecas.
Os russos, Dostoiévisk Tolstoi, Gogol, vieram daí e também a
adorável Adélia Prado e João do Rio, Murilo Rubião e Nelson Rodrigues. Li
também muita coisa emprestada por amigos e devolvi quase tudo.
Hoje leio pela internet. Não é
lá muito cômodo, mas é de graça. Recentemente pude ler a colaboração
jornalística de Lima Barreto em duas seleções de crônicas. E também “O
subterrâneo do Morro do Castelo” livro delicioso e difícil, para mim, de
classificar por gênero. Outra obra que me causou espanto foi “As religiões do
Rio” de João do Rio. O autor descreve todos os cultos religiosos praticados no
então Distrito Federal, mas só tem críticas severas para os ritos
afro-brasileiros. Com eles é implacável.
Agora estou lendo a “História da
literatura Brasileira” de José Veríssimo. Esta obra publicada em 1915, é dessas
que provocam enorme prazer, seja pelo conhecimento do autor sobre o tema que
aborda, seja pela linguagem utilizada, ou por sua visão histórica. Aliás, é
sobre o pano de fundo histórico que reside seu maior interesse.
Ao analisar a geração de poetas mineiros do
final do século 18, o autor nos brinda com uma visão que é totalmente diferente
de tudo que eu sabia sobre a Inconfidência Mineira. Afirma Veríssimo que Tomás
Antônio Gonzaga, a quem ele chama de Tomás Gonzaga, nada teve a ver com o
movimento. Sua afirmação de “inocência” do poeta é, senão irrefutável, muito
robusta. Chega mesmo a duvidar da existência da conjura.
Quanto a Gregório de Matos, José
Veríssimo o descreve de maneira , para mim, também, inédita. Destrói o mito do
herói literário, do anti-escravista , do precursor de nosso nacionalismo
literário, do repúblico austero. Mostra-nos Veríssimo, um Gregório de Matos
racista, vaidoso, contrariado por encontra-se nessas terras onde veio ter
depois de desagradar algum poderoso do reino com seu espírito satírico. Tudo
isso, claro, sem negar o valor de seus escritos.
Tanto o Veríssimo quanto o Lima
Barreto e o João do Rio, baixei de um sítio na internet , o “Domínio Público”.
Para minha sorte descobri uma outra biblioteca virtual com grande acervo em
língua castelhana, é o “Projeto Inacayal”.Daí já baixei obras de Roberto Alrt,
o maior escritor argentino de todos os tempos e estilos. E são tantos os
títulos e autores à disposição que não decido sobre o que ler primeiro. Dessas
bibliotecas virtuais, há várias outras prestando serviço inestimável à difusão
do conhecimento, da cultura e do prazer de ler.
Eu pego a dica do José Veríssimo pra falar do Sílvio Romero, da sua "História da Literatura Brasileira", um livro enorme, em vários tomos, que lê com prazer todo aquele que se interessa pelo tema. Embora com uma visão conservadora em muitos aspectos, é um trabalho importante, superdetalhado e informativo, que abrange a trajetória de praticamente todos os movimentos literários de nossa história até o final do século 19 - o livro é dessa época. Espécie de compêndio ou enciclopédia de nossos jeitos, estilos e concepções de mundo, é uma viagem interessantíssima pelo Brasil escrito. Claro, sempre descontando as visões ultrapassadas de época e os senões de um espírito muitas vezes bem tradicionalista. Acho que é um trabalho precioso. Existe uma edição moderna e cuidada, de uns 30 anos atrás, creio que da Civilização Brasileira, mas mesmo essa penso que só se vê em sebos - ou na internet. O site da Biblioteca Nacional deve ter à disposição.
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