quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Malditas sacolinhas







Em Copacabana, na Hilário de Gouveia esquina de Nossa Senhora de Copacabana há uma igreja. Eu nunca soube que santo a patrocina, sempre a chamei de Igreja de Nossa Senhora do Peg  Pag. Isso porque estava ao lado de um supermercado com esse nome. Não propriamente ao lado. Parecia que ambos, igreja e supermercado, faziam parte da mesma estrutura arquitetônica. Mas não sou de ir a igrejas. Vou a supermercados.
Costumava ir a esse Peg  Pag  da igreja no final dos anos setenta. Ficava no caminho do trabalho para casa. Alem do mais havia duas coisas lá que eu gostava; uns biscoitinhos de araruta que desmanchavam na boca e uma máquina expedidora de café.
O engenho moia e empacotava o café mediante a inserção de uma ficha que era adquirida de uma funcionária que estava ao pé da máquina. Havia três fichas equivalentes ao peso desejado, 250, 500 ou 1000 gramas. O cliente inseria a ficha, colocava o saquinho em posição e apertava o botão correspondente ao valor pago. Havia um rolo de fita adesiva para selar o pacote. Nunca mais vi dessas máquinas. Claro, é muito mais prático para o dono do supermercado vender o café já empacotado. Economiza o espaço que a máquina ocupa e o salário da vendedora de ficha. A tecnologia disponível naqueles tempos não dava para mais.  Hoje porém, máquinas expedidoras fariam todo o sentido.
Imagine se você pudesse levar sua embalagem vazia e enche-la com o produto idêntico que estaria armazenado numa dessas máquinas. Produtos de higiene e limpeza, por exemplo. O pagamento seria feito com cartão de crédito e ao passar pelo caixa o código de barra apontaria “zero”, por já estar paga antecipadamente. Para quem não tivesse cartão, o código de barra indicaria o preço. A economia em embalagens seria enorme, o que poderia baratear o produto, alem de ser ecologicamente bom. A mão de obra que ficasse ociosa pela diminuição do uso de embalagens, poderia ser absorvida, mediante qualificação profissional, pela indústria de máquinas expedidoras que deveriam ter tecnologia e fabricação nacionais.
Claro que isso não interessaria nem aos supermercados nem aos fabricantes. Com a diminuição do preço dos produtos, diminuiria também o fluxo financeiro ainda que o lucro gerado pudesse ser idêntico e até maior. Mas já faz muito tempo que comércio varejista é muito mais do que comprar no atacado e vender no varejo com a margem de lucro devida e uso do prazo de pagamento como fator de ganho. Não é interessante para o comércio movimentar volume igual de produtos com menor movimentação de dinheiro. Isso dependeria de leis que obrigassem comerciantes e industriais a trabalharem para o bem comum.
A tecnologia disponível poucas vezes é usada em proveito do cidadão. Postos de gasolina economizam em mão de obra usando bombas que são operadas pelo próprio cliente. Os bancos obrigam seus correntistas a usarem os caixas eletrônicos diminuindo a necessidade de bancários. Restaurantes populares usam e abusam do auto-atendimento em detrimento dos garçons. Nada disso tem impacto positivo no preço ao consumidor.
 O fato é que há tecnologia que pode melhorar as relações de consumo e contribuir para o ambiente. Mas isso não é usado. Preferem, ambientalistas e donos de supermercados, acusarem as sacolinhas plásticas de vilãs da poluição ambiental. Ao lado dos fumantes, são os grandes inimigos a serem combatidos.
 Algum tempo atrás escutei num programa de televisão que uma grande rede de supermercado gastava 5 milhões de reais por ano com as sacolas.. Não avalizo o número, afinal já escutei todo tipo de aberração numérica em nossos telejornais. Diria apenas que os varejistas gastam uma nota preta para cumprir a lei que os obriga a entregar o que vendem, embalado. Ou seja, ninguém tem mais interesse na extinção dessa obrigatoriedade do que eles. Os ambientalistas vão atrás.
A maneira de levar rapidamente as vilãs para reciclagem é tão óbvia que temo estar desperdiçando seu tempo com a explanação. Mas vá lá. Bastaria um simples sistema de troca. 100 sacolinhas valeriam um quilo de sal, 150, um quilo de feijão, 200, um quilo de arroz , 250, uma lata de óleo e assim por diante. Isto valeria apenas para produtos da cesta básica e em quantidades compatíveis com o consumo familiar. Os governos estaduais criariam centros de recepção dessas embalagens. Centros fixos onde fosse possível e centros móveis que funcionariam nos fins de semana em estacionamentos de repartições públicas, escolas e outros espaços ociosos. O importante é que houvesse um grande número deles. Os clientes que levassem as sacolas usadas receberiam um comprovante que poderia ser usado como moeda em qualquer supermercado. Como teriam um código de barra só poderiam ser trocados pela mercadoria correspondente. Aposto que não veríamos mais sacolinhas voando por aí e devido à situação econômica de grande parcela de brasileiros, até mesmo os lixões se veriam livres delas. Os custos poderiam ser divididos entre o governo federal e os próprios supermercados. Os governos estaduais e prefeituras entrariam com local de coleta e mão de obra respectivamente.
Sistemas assim foram usados até bem pouco tempo. Para combater a sonegação de impostos, governos estaduais trocavam notas fiscais por ingressos nos estádios de futebol ou faziam sorteios de automóveis dos quais participava quem houvesse trocado suas notas fiscais por um bilhete numerado.
Em algumas cidades brasileiras já está proibida a entrega de mercadorias em sacolas plásticas. Claro, proibir é sempre mais fácil. Principalmente quando o paciente da proibição está de acordo. Resta rezar para Nossa Senhora do Peg  Pag  para que mais esta bobagem proibicionista não ganhe força e que o ministério público atue, fazendo valer a lei que obriga comerciantes a entregarem o que vendem devidamente embalado.Que eu saiba, esta lei continua vigorando.






Um comentário:

  1. Eu conheci o Peg-Pag e acha va o maior barato. Voltando aos anos 70, excluindo os anos de chumbo, td. era mais fácil.

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