domingo, 22 de janeiro de 2012

Obama e o Bairro Peixoto







Fora dos limites de Copacabana pouca gente conhece o Bairro Peixoto. Esta parte do bairro famoso se restringe a uns poucos quarteirões entre Santa Clara e Figueiredo Magalhães, da Toneleros pra cima. Neste ponto os morros recuam afastando-se do mar dando espaço ao bonito recanto.
Na infância vivi aí. Rua Maestro Francisco Braga. Rua sem saída que era palco de nossas peladas. Também jogávamos na Praça Edmundo Bittencourt sob um sol de meio-dia em pleno verão. Depois da bola um Grapete, às vezes um Chicabon.
Anos depois voltei a freqüentar o bairro que mantinha seu ar de vila com seus prédios baixos,o chafariz da praça, sempre festiva e com bancos para um bom namoro.
Certo dia, num botequim do bairro, um amigo chamou-me a atenção para o andar da rapaziada que ali morava. Todos pareciam caminhar da mesma maneira, com o mesmo gingado. Era um andar malandreado. Mas não um andar malandreado qualquer. Tinha seu próprio estilo que o diferenciava de um andar malandreado de Oswaldo Cruz ou do Méier, por exemplo. Não saberia como descrevê-lo e nem preciso. É o mesmo andar do Obama.
O presidente americano caminha como quem desce a Décio Vilares em direção à Anita Garibaldi. Mesmo hoje, quando uma das maiores crises da história assola os Estados Unidos, o havaiano não perde o gingado. O vemos ir em direção aos microfones que esperam ávidos uma boa notícia sobre o emprego ou o crescimento econômico de seu país, e é como ver alguém que foi comprar um baseado na Ladeira dos Tabajaras e voltou contente, sem pressa. Em outra situação, ele ficaria conhecido como Obama, o sereníssimo. Mas as condições da economia não ajudam e imagino que muitos americanos se impacientem com tamanha fleuma.
Os índices de aprovação popular da administração Obama são baixíssimos e sua derrota eleitoral só não é dada como certa, porque entre as fileiras republicanas não há nome que empolgue o eleitorado conservador e a maioria silenciosa. Mesmo o favorito, Mitt Romney sofre restrições por ser mórmon. Num país de forte sentimento religioso, a maneira de interpretar as escrituras conta muito. Ademais os adversários de dentro do partido republicano já começam a jogar umas cascas de banana em seu caminho. Já foi divulgado que o milionário ex-governador de Massachusetts .paga apenas 15% de impostos, quase 10 pontos percentuais menos que a média dos outros americanos.
Após as primeiras prévias em Iowa, duas pré-candidaturas já se retiraram da disputa. Até a convenção republicana em agosto, sobrarão apenas dois ou três nomes para disputar a indicação. Até lá, Obama respira.
E se respira é porque a oposição republicana está sem discurso. As medidas de combate à crise, tomadas pela presidência, foram tão conservadoras que dificilmente algum adversário irá combatê-las. Preferem centrar seus ataques em questões de fundo que sempre opuseram democratas e republicanos.  A reforma no sistema de saúde, que foi tratado como “socialismo”, é alvo dos adversários. Mas o certo é que seja quem for o escolhido entre os republicanos para enfrentar Obama nas urnas, terá total apoio do partido e dos pré-candidatos derrotados. É tradição.
 Um tema que talvez empolgasse em tempos de economia sólida, se refere às guerras travadas pelos Estados Unidos. Resta saber que impacto terá no eleitorado a retirada das tropas americanas do Iraque, já que, mesmo descumprindo promessa de campanha, Obama mantém aberto o campo de concentração de Guantánamo sem que isso provoque qualquer reação dos americanos. Como uma coisa está profundamente ligada à outra, não é de se esperar um benefício, em votos, tão grande assim. Ao contrário do veto na ONU  às pretensões palestinas de criação de seu estado e a posição de enfrentamento com o Irã, que deverão trazer o voto judeu para o havaiano. O assassinato de Bin Laden já é jornal de ontem.
Caso venha a confirmar seu favoritismo, a candidatura mórmon de.Romney promete entregar de bandeja o eleitor católico para Obama. Questão religiosa. Numa eleição que promete ter um baixo índice de comparecimento às urnas, estes nichos eleitorais podem ser o fiel da balança.
A última vez que vi o simpático havaiano pela televisão, ele caminhava malandreadamente em direção ao púlpito usado pelos presidentes americanos para seus pronunciamentos. Anunciou, entre outras medidas para melhorar o desempenho da economia americana, uma maior liberalidade na expedição de vistos de entrada nos Estados Unidos para os brasileiros. Só no sapatinho e de olho na nossa grana.










Um comentário:

  1. O gingado do Obama, permita discordar, é o gingado padrão do mascador de chiclete liberal-belicista-nerd, ou seja, o gingado americano típico que o cinema dos anos 50 popularizou - o pretensiosismo lapidar de um Sammy Davis Jr, de um Sinatra, de um Kennedy, que só Jack Lemmon e Walter Matthau souberam avacalhar em regra. Os americanos andam assim, como os seres superiores que acham que são - e não sei o que é mais chato de aturar, se democrata negro fiel aos valores da águia voraz ou branco azedo republicano armado até os dentes. Mas concordo com você que essa ginga traduz também uma sensação de descanso e prazer no ócio que lembra muito o flanar vagabundo dos cantões de Copacabana - é o lado Obama que dá pra curtir descendo a Décio Vilares.

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