quinta-feira, 1 de março de 2012

Em se plantando tudo dá







A vocação agrícola do Brasil é inegável. À grande dimensão territorial soma-se a fertilidade do solo e o gosto natural de nosso povo pelo trabalho do campo. Em contrapartida temos o maior dos empecilhos; o latifúndio e sua representação parlamentar que impede o estado de formular uma política agrária moderna. Nossa gigantesca produção de grãos convive com a subnutrição e o êxodo rural.
A falta dessa política faz com que imensas parcelas da melhor terra do país esteja ocupada para produção de soja, cana e outras culturas de exportação. O espaço para cultivo de produtos tradicionais na alimentação dos brasileiros mingua. Feijão e mandioca não são culturas típicas do latifúndio. Os grandes produtores a cada safra gabam-se dos números das exportações enquanto pedem mais crédito público e refinanciamento de suas dívidas jamais pagas. A choradeira desses milionários é a sinfonia do atraso.
Mas se temos muitos problemas no setor, nossos patrícios sabem buscar soluções e o melhor exemplo disso é a Embrapa. Suas pesquisas têm mostrado caminhos para diminuir a fome e melhorar o desempenho agrícola. O problema é que sendo ligado ao Ministério da Agricultura, depende do titular da pasta o direcionamento das pesquisas. Com o loteamento dos ministérios, tem cabido aos representantes do latifúndio geri-lo.
Estudos mostram que o Brasil poderia ampliar muito sua produção de alimentos utilizando apenas as terras que hoje são destinadas para esse fim sem que seja preciso desmatar ou criar novas fronteiras agrícolas, bastando a aplicação da tecnologia já existente no país. Mas com lucros tão vultosos dos grandes produtores rurais é difícil que estes se interessem em modificações e modernizações. Moderno para essa gente é adquirir maquinaria, expulsar o homem da terra e falar “agro busines”.
Alem desses inimigos tradicionais do avanço brasileiro na agricultura, somam-se outros e estes estão na moda, são os preservacionistas de araque. Desde os anos 60 são as mesmas pessoas que dizem defender o meio ambiente as que introduzem os preconceitos alimentares geralmente associados a práticas religiosas orientais. Vegetarianos não dizem que destino seria dado as mais de 200 milhões de cabeças de gado existentes hoje no Brasil caso todos lhes fizessem caso e deixassem de consumir carne. Negadores da tecnologia agrícola propugnam pelos  produtos orgânicos sem considerar que seu alto preço afastaria milhões de pessoas do consumo de alimentos básicos. Também não concluem que, os preços altos desse tipo de alimento, decorrem de sua menor produtividade Claro que existe a especulação mas no geral são os fatores lógicos que elevam os preços. O valor da terra, os juros bancários, o custo de maquinarias e mão de obra são os mesmos para quem produz organicamente ou não. Como a produtividade é menor no cultivo orgânico, o preço do produto forçosamente tem de ser maior para que se obtenha lucratividade igual. Os danos provocados por essas posturas só não são grandes porque as pessoas que as defendem na verdade não querem mudar o mundo através da alimentação nem que suas práticas “saudáveis” sejam copiadas por todos. Eles são seres tribais e preferem que esteja bem delimitada a diferença entre eles e os outros. Comer caro os distingue. 
Nos anos 70 se dizia, com razão, que alimentos havia para todos os habitantes do planeta e que o problema estava na distribuição. Citava-se, com razão, que os Estados Unidos apesar de terem menos de 5% da população mundial, consumiam mais de 25% dos alimentos produzidos. Nos dias de hoje esta relação permanece e países como o Brasil, a Índia e a China, entre outros, aumentaram, através da inserção social, sua demanda por alimentos. Por outro lado a F.A.O vem alertando há alguns anos para a diminuição da produção agrícola, a especulação e a extinção de áreas de plantio devido ao clima ou a simples ocupação de terras para abrigar a população crescente.
Por mais contraditório que seja, os que querem consumir alimentos especiais são os mesmos que querem abolir as sacolinhas plásticas dos supermercados para o bem do planeta. E o que propõem? Que plantemos sacolas. Para substituir o descartável querem sacolas duráveis feitas de fibras naturais. Nos próprios supermercados, que economizam negando a embalagem que temos direito por lei, estão à venda as novas sacolas fabricadas no mais puro algodão. Os ambientalistas deixam claro que não manjam nada nem de agricultura nem de indústria têxtil. O algodão que encontramos nas lojas de tecidos pronto para ser utilizado em roupas ou sacolas, já passou por um processo químico que é dos mais poluentes. Das fibras naturais é a que provoca maior impacto no meio ambiente para ser transformado em tecido maleável apto para confecção. Podemos usar outra ciência totalmente desconhecida pelos defensores do planeta para demonstrar o grande equívoco de sua proposição; a aritmética. Se tomarmos um tecido enfestado (1.20m de largura), precisaríamos de pelo menos 60 centímetros para fazermos uma bolsa de compras. Temos 40 milhões de lares no Brasil, se em cada um deles houvesse duas bolsas, necessitaríamos 48 milhões de metros de tecido. 48.000 km. Dá para circundar a terra, fazer um lacinho e esconder as pontas. Você sabe quantos pés de algodão seriam necessários para produzir 48 milhões de metros de tecido? Pois é. Eu também não faço a menor idéia. Nisso estou igual aos preservacionistas de araque.
Como as idéias absurdas têm o poder de propagar-se, é bem possível que algodoais venham a fazer concorrência com os canaviais porque também estamos plantando combustível. A cana que nos adoçava o café e a alma, agora é matéria prima do etanol. Já se pode imaginar o aumento do preço do açúcar e da cachaça como conseqüência imediata e para o futuro a escassez de ambos e do etanol também, pois como vivemos numa economia de mercado, nada impede que nossos latifundiários usem a terra brasileira para mover automóveis na China ou no Japão.
Com a demonização dos combustíveis fósseis, podemos prever também o avanço da soja no Brasil, pois o bio diesel terá essa leguminosa como principal matéria prima e não, como era propalado até bem pouco tempo, os restos não utilizáveis de outras culturas.
No caso dos combustíveis renováveis há um claro choque entre o estatal e o privado. Para facilitar a aceitação pelo público da utilização da terra para produzir menos alimentos e mais combustíveis, cada acontecimento negativo envolvendo a Petrobrás ganha dimensão de catástrofe ambiental mesmo que sejam uns poucos barris de petróleo que tenham vazado de alguma plataforma.
A experiência brasileira com o álcool combustível é das piores. Nos anos 70 e 80 chegamos a ter quase metade da frota nacional rodando com álcool mas como os preços internacionais do açúcar eram convidativos os usineiros preferiram agir naquele mercado deixando milhões de consumidores nas filas dos postos tentando abastecer seus veículos com o escasso combustível renovável. O final da história, já conhecemos. A fabricação de carros a álcool no Brasil chegou perto do zero. Hoje com a tecnologia dos carros flex, o contratempo para o consumidor deixa de existir. Mas a pressão, sobre as terras ainda não cultivadas, aumenta. Assim como aumenta a pressão sobre o preço dos alimentos. Com a terra prometendo dar lucros cada vez maiores aos que plantam combustível, é natural, numa economia que vive ao sabor dos ventos especulativos, que mesmo o pequeno produtor deixe de plantar feijão e se dedique à mamona que também é usada para fabricação de bio diesel.
O conceito de segurança alimentar passa longe dos interesses comerciais dos grandes plantadores assim como das idéias preservacionistas dos defensores do meio ambiente que parecem ter uma escala de valores na qual o ser humano é apenas um estorvo que insiste em se alimentar e morar.
É comum entre os ambientalistas a idéia do vegetarianismo e da defesa intransigente dos direitos dos animais. Nas redes sociais abundam postagens preocupadas com a vida e morte das galinhas nos aviários modernos. Outro dia vi uma dessas postagens em que seu autor comentava, horrorizado, que haviam inventado um método de matar as penosas por sufocação introduzindo espuma do tipo usado para lavar carros, nos locais onde estavam os animais. O dia que descobrirem que os peixes também morrem por sufocação vai ser um auê dos diabos.
Quando eu era menino, e as galinhas eram criadas livres pelos quintais ciscando a minhoca de cada dia, sempre ouvia nos programas humorísticos de tv que “quando pobre come galinha, um dos dois está doente” ou que”pobre só come frango quando joga no gol”. Que milhões de pessoas fossem privadas dessa fonte de proteínas não provocava horror, virava piada. Creio que minha avó, Benita, também ria dos chistes mas quando lhe caía nas mãos uma galinha viva, ela a segurava firme pela parte do pescoço mais próxima da cabeça, prendia as asas no chão com os pés e depois de dar umas pancadinhas no gogó da infeliz com o lado da faca, a sangrava com todo cuidado para não perder nem uma gota do sangue que era aparado numa cuia. E duas horas depois, meu amigo, era galinha ao molho pardo com muito temperinho verde por cima. Para acompanhar, arroz, feijão e bom senso.




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