sexta-feira, 30 de março de 2012

Ocupem as escolas






            Com o anúncio do novo piso salarial nacional para os professores, o que poderia ser o começo de uma relação mais estável entre os docentes e o governo, tende a se transformar em mais um motivo de atrito. Governos estaduais não aceitam a imposição  e alegam diferenças regionais e cofres vazios. Mesmo o governo petista do Rio Grande do Sul, já remeteu à assembléia legislativa local, projeto de aumento salarial inferior ao proposto pelo Governe Federal.
Quanto aos professores, sua disposição para o diálogo é, no mínimo, duvidosa. Nas assembléias que decidem o posicionamento da categoria frente às propostas do governo, geralmente é uma minoria radicalizada, que há muito tempo não pisa em sala de aula, quem comanda as discussões e infalivelmente propõe a greve. Esses sindicalistas profissionais, pouco pensam nos colegas e em quem deveria ser o centro dos interesses da classe: os alunos da rede pública de ensino. Sua principal ocupação é fazer oposição ao governo, seja municipal, estadual ou federal, dependendo de quem está à frente do sindicato.
A baixa remuneração dos professores é fato notório e não creio que ninguém no país vá argumentar em contrário, mas distorção de tão grande vulto não pode ser corrigida do dia para a noite e o novo piso é um passo na direção certa. Não nos esqueçamos que há escassos 20 anos, o salário mínimo mal alcançava os 50 dólares e que antes da constituição de 88 havia aposentadorias que eram pagas em moedinhas, inclusive para ex-docentes. Nem o salário básico nem as aposentadorias atingiram um patamar que possa ser considerado digno, mas houve avanços significativos. Não se pode negar. O mesmo se poderia esperar no caso dos salários dos professores se estes se mostrassem propensos a apoiar a proposta do Governo Federal e ajudassem a anular os movimentos em contrário dos governadores. Mas parece que não se pode contar com tal apoio. Ao contrário.
Embora a categoria ainda não esteja se posicionando quanto ao novo piso salarial, pelo menos pelos meios de comunicação, há no ar um prenúncio de greve, que deve ser deflagrada tão logo os governadores, que se mostraram insatisfeitos com a imposição federal, proponham aumentos inferiores para os professores dos estados que governam.
Ora, a deflagração de uma greve no âmbito da iniciativa privada tem como objetivo forçar a negociação com os patrões, que vendo sua produção paralisada, suas datas de compromissos se aproximando e temendo não poder cumprir contratos assinados, tenderiam a aceitar as reivindicações de seus empregados ou pelo menos parte delas. No caso do funcionalismo público é bem diferente, na há produção parada e o patrão, o governo estadual ou municipal, pouco interesse têm na resolução do conflito. Os filhos dos políticos não freqüentam a escola pública. Os próprios eleitores se esquecem das greves havidas quando vão às urnas e o desgaste da paralisação só é sentida pelos próprios grevistas que acabam aceitando propostas ridículas ou que muitas vezes são do interesse do governo-empregador.
Me custa crer que a única maneira dos docentes demonstrarem seu descontentamento pelos baixos salários seja a greve se de antemão sabem que a educação pública é a última das preocupações da maioria dos políticos. Escolas fechadas e estudantes pobres sem aula são, para eles, até um motivo de tranqüilidade, no presente e no futuro. Para os verdadeiros professores deveria ser, pelo contrário, fonte de preocupação. A escola fechada é o ninho onde se abriga o político oportunista, o voto de cabresto, o sindicalismo profissional.
As manifestações em prol de uma educação decente com profissionais aptos e bem remunerados, deveriam ter como cenário a escola de portas abertas 24 horas. O tema interessa a toda a sociedade que, em última análise, é quem paga salários e é o cliente do ensino público. Como então envolvê-la na discussão e ter seu apoio nas reivindicações por melhoria salarial? A resposta me parece óbvia. Ocupar as escolas.  Romper a relação burocrática. Negar ao poder qualquer informação ou documento que lhe permita ter acesso às verbas repassadas pelo Governo Federal. Desenvolver currículos voltados para as necessidades reais dos alunos, esquecendo os ditames pedagógicos dos burocratas da educação. Levar para dentro da escola o conhecimento acumulado na sociedade em pé de igualdade com o conhecimento acadêmico Usar o espaço escolar para a conscientização dos pais-eleitores. Demonstrar, através do diálogo com os principais interessados, a necessidade de se cobrar das autoridades, pelo voto, um plano de educação que permita um ano letivo sem percalços. Romper com a tradição de se tratar os pais de alunos pobres como idiotas, e ouvi-los, pois muitas vezes é o professor quem leva para a sociedade, com seu discurso sibilino, a visão das classes dominantes e de seus dirigentes políticos. A escola aberta 24 horas seria a ponte de ligação entre os educadores e a comunidade nos momentos de negociação com o governo.
A escola fechada é algo que a sociedade não mais suporta. Não ter onde deixar os filhos em segurança enquanto se busca o pão, não entra na cabeça de ninguém. Mas quando esse argumento é usado se escuta as frases feitas em porta de sindicato. _Que escola não é depósito de criança. _Que a família tem de participar no processo. _Que o governo isto e aquilo. É como se o professor não tivesse parte da responsabilidade pelo estado precário da educação. Fazendo seu papel de eterna vítima, os docentes se omitem da resolução do problema educacional brasileiro.
Qualquer um, que tenha filhos ou netos na escola pública, sabe que uma melhor remuneração dos professores é algo indispensável, nem que seja para atrair gente mais qualificada para o ensino pois hoje o que se vê são professores sem a menor capacidade de ensinar nossas crianças. Se aí estão é porque a vida só lhes deixou 2 opções:_  Telemarketing ou sala de aula. Como o concurso público lhes dá estabilidade no emprego e outras garantias, optam por serem docentes sem que possuam talento ou vocação.
Depois da greve de 62 dias no ensino público de Santa Catarina no ano passado, em vez de  reporem as aulas perdidas, houve professores que disseram abertamente em sala de aula que ninguém seria reprovado e fizessem trabalhinhos valendo nota. Ao fim do ano, vendo que o Governador Raimundo Colombo voltava atrás no que havia pactuado com os docentes, estes ficaram indignados e já falam em greve para fazer valer o acordado na última greve. Ora bolas, será que os mestres não sabem com quem estão lidando? Que não sabem que o Governador Colombo é um típico político carreirista, oportunista e defensor dos interesses de sua classe? Que Sua Excelência está pouco se lixando para o ensino público e para os professores? Com sua reeleição em jogo apenas em 2014, o momento não poderia ser mais propício para o Governador endurecer em suas posições.
Por todo país se vê a mesma coisa:_Governantes que não se importam com a educação e professores que não se importam com os alunos. Claro que há exceções. No interior do Piauí, no município de Cocal dos Alves, os alunos de uma escola pública são os campeões brasileiros da olimpíada de matemática. Em 5 edições da competição eles ganharam 125 medalhas. Mais que 11 estados da federação. Lá não há políticos mais responsáveis nem salários melhores que no resto do país, tampouco os piauienses são mais dotados intelectualmente que outros brasileiros. Também não há milagre.. Apenas escola aberta e vontade de ensinar.









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