sexta-feira, 9 de março de 2012

A propaganda







Ontem pudemos ver a propaganda institucional que a União Européia produziu para sua campanha de adesão de novos membros. Na peça publicitária vê-se uma mulher andando num lugar que lembra uma gare ou um grande armazém portuário. De repente aparecem três homens: um oriental com gestos de praticante de artes marciais, um indiano com ameaçadoras espadas e um homem negro, brasileiro, executando movimentos de capoeira. A mulher multiplica-se por doze, que é o número de estrelas da bandeira da U.E, e os agressivos BRIC somem. No final, uma legenda diz mais ou menos que “se somos mais, somos mais fortes”. A mensagem xenófoba e racista foi logo retirada das telinhas européias mas estão no youtube para toda a eternidade.
Imagino que uma publicidade antes de ir ao ar passe por um largo processo de concepção, produção e pós-produção e jamais é tornada pública sem a aprovação do cliente. Entre uma e outra fase deve haver uma porção de reuniões com palpiteiros a granel, gênios de agência e sisudos gerentes. No caso em questão, o representante do cliente deve ter sido um alto burocrata com enorme influência política e permissão para matar. Alguém como Jérome Valcke.
 Aqui não se trata do comercial de algum fabricante de croissant defendendo seu mercado da invasão da tapioca. São governos nacionais unidos pela bandeira comum européia que dão seu recado. A Europa velha de guerra não nos quer crescendo. Não quer competir dentro das regras que ela mesma cria. Não quer compartir seus mercados, só os nossos. Quer, de novo, exportar os párias que seu modelo econômico gera a cada 50 ou 70 anos, mas não nos quer lá.
Creio que a retirada da extravagante propaganda, deu-se por pressão dos empresários e banqueiros europeus, que sabem que dependem muito de nossas crescentes economias, e não por pruridos éticos ou morais dos dirigentes políticos. Os bancos espanhóis, por exemplo, só não têm fechado no vermelho nos últimos anos por conta dos lucros auferidos no Brasil e nos outros países sul americanos. Estes bancos possuem aqui, carteiras de clientes que superam em número a população espanhola economicamente ativa. Imagine o que representa comprar, a preço de banana em fim de feira, o Banespa. Todo o funcionalismo público de São Paulo recebia seu salário por aquela instituição. Algo assim como ter toda Madrid por cliente. Só pra começar.
Mesmo em época de crise profunda, o velho e esclerótico  continente não perde a arrogância. Quando seus reizinhos não estão mandando presidentes eleitos calarem a boca, seus pequenos príncipes fazem passeios colonialistas pelas Malvinas.
Entre seus muros infernizam imigrantes de origem árabe com toda sorte de leis que dificultam suas vidas nas antigas metrópoles coloniais. A proibição de trajes tradicionais femininos, principalmente na França mas também em outros países, a proibição do abate de animais segundo as leis kosher e halal na Holanda, as declarações de David Cameron pondo fim ao muiticulturalismo no Reino Unido, o rechaço aos refugiados de guerra por todo continente, formam um mosaico de intolerância que lembra outros tempos, que lembra o sempre.
Não faz muito tempo que Portugal, estreando de novo rico na Comunidade Européia, criava empecilhos mil para a entrada de brasileiros, principalmente os que tinham formação universitária, no país. Isso aconteceu embora vigorasse acordo bilateral para livre trânsito dos cidadãos nos dois países. Esse acordo havia sido acertado para que o Brasil recebesse os portugueses que fugiam das ex-colônias da África depois que estas se tornaram independentes em meados dos 70. Na época se falou que mais de 200 mil pessoas para aqui vieram. Passadas algumas décadas e Pedro Passos Coelho, seu Primeiro Ministro, conclama os portugueses a emigrarem para fugir da crise econômica. Depois foi mais específico e deu o mesmo conselho aos milhares de professores, que o novo governo neo liberal pôs na rua, para que emigrassem para os países lusófonos. Eu acho que ele não estava pensando no Timor Leste.
Imagino que a idéia de emigração deve estar passando pela cabeça de muitos europeus, principalmente os nacionais dos países que até a primeira metade do século 20 tinham como principal produto de exportação, seus pobres. Muitos desses ex-pobres enriqueceram no Brasil, na Argentina, no Chile e agora podem receber a parentada que ficou dura na Europa por conta do desemprego massivo. Alem do mais, esses novos migrantes se crêem detentores de cultura superior e por certo encontrarão aqui todo o respaldo para exercer sua superioridade. O terreno é fértil para a vassalagem, o complexo de vira-latas domina a classe média brasileira, os formadores de opinião. Prova disso é a matéria que a revista Veja fez no seu site dizendo que o dirigente da Fifa que insultou o Brasil e os brasileiros, tinha sido “preciso” em suas críticas. Sobre o episódio pode-se dizer que o boquirroto Valcke apenas verbalizou o que qualquer europeu médio pensa de sul americanos, africanos e asiáticos: Que é preciso dar-lhes um chute na bunda para que façam algo ao gosto do sinhô. Mesmo o comportamento da patética revista, não pode causar estranheza, afinal, seu público alvo pensa assim mesmo e amaldiçoa Pedro Álvares Cabral como fazia uma tia avó de Ariano Suassuna, que dizia que se não fosse por ele, teria nascido na Europa.








Um comentário:

  1. Li que o ministro dos Esportes, Aldo Rabelo, do Partido Comunista, poderia reconsiderar a decisão de rejeitar Valcke como interlocutor da Fifa para assuntos da Copa 2014. Se isso acontecer, seria o fim da picada. Esse francesinho tem que ser colocado de molho e dobrar a língua. Aliás, a Fifa tem que piar mais fino - e não só com o Brasil, mas com os clubes que ela subjuga e explora.

    Um dos grandes bens que os governos Lula e Dilma fizeram e fazem ao país é a crescente afirmação brasileira no cenário mundial. Não queremos nos impor a ninguém, mas sem essa de querer continuar tratando o Brasil como quintal do Tio Sam ou da Europa. Aqui são todos bem vindos, ao contrário do que acontece no Hemisfério Norte, mas vamos devagar com o andor que o santo é de barro.

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