Ontem pudemos ver a propaganda
institucional que a União Européia produziu para sua campanha de adesão de
novos membros. Na peça publicitária vê-se uma mulher andando num lugar que
lembra uma gare ou um grande armazém portuário. De repente aparecem três
homens: um oriental com gestos de praticante de artes marciais, um indiano com
ameaçadoras espadas e um homem negro, brasileiro, executando movimentos de
capoeira. A mulher multiplica-se por doze, que é o número de estrelas da
bandeira da U.E, e os agressivos BRIC somem. No final, uma legenda diz mais ou
menos que “se somos mais, somos mais fortes”. A mensagem xenófoba e racista foi
logo retirada das telinhas européias mas estão no youtube para toda a
eternidade.
Imagino que uma publicidade
antes de ir ao ar passe por um largo processo de concepção, produção e
pós-produção e jamais é tornada pública sem a aprovação do cliente. Entre uma e
outra fase deve haver uma porção de reuniões com palpiteiros a granel, gênios
de agência e sisudos gerentes. No caso em questão, o representante do cliente
deve ter sido um alto burocrata com enorme influência política e permissão para
matar. Alguém como Jérome Valcke.
Aqui não se trata do comercial de algum
fabricante de croissant defendendo seu mercado da invasão da tapioca. São
governos nacionais unidos pela bandeira comum européia que dão seu recado. A
Europa velha de guerra não nos quer crescendo. Não quer competir dentro das
regras que ela mesma cria. Não quer compartir seus mercados, só os nossos. Quer,
de novo, exportar os párias que seu modelo econômico gera a cada 50 ou 70 anos,
mas não nos quer lá.
Creio que a retirada da
extravagante propaganda, deu-se por pressão dos empresários e banqueiros
europeus, que sabem que dependem muito de nossas crescentes economias, e não
por pruridos éticos ou morais dos dirigentes políticos. Os bancos espanhóis,
por exemplo, só não têm fechado no vermelho nos últimos anos por conta dos
lucros auferidos no Brasil e nos outros países sul americanos. Estes bancos
possuem aqui, carteiras de clientes que superam em número a população espanhola
economicamente ativa. Imagine o que representa comprar, a preço de banana em
fim de feira, o Banespa. Todo o funcionalismo público de São Paulo recebia seu
salário por aquela instituição. Algo assim como ter toda Madrid por cliente. Só
pra começar.
Mesmo em época de crise
profunda, o velho e esclerótico
continente não perde a arrogância. Quando seus reizinhos não estão
mandando presidentes eleitos calarem a boca, seus pequenos príncipes fazem
passeios colonialistas pelas Malvinas.
Entre seus muros infernizam imigrantes
de origem árabe com toda sorte de leis que dificultam suas vidas nas antigas
metrópoles coloniais. A proibição de trajes tradicionais femininos, principalmente
na França mas também em outros países, a proibição do abate de animais segundo
as leis kosher e halal na Holanda, as declarações de David Cameron pondo fim ao
muiticulturalismo no Reino Unido, o rechaço aos refugiados de guerra por todo
continente, formam um mosaico de intolerância que lembra outros tempos, que
lembra o sempre.
Não faz muito tempo que
Portugal, estreando de novo rico na Comunidade Européia, criava empecilhos mil
para a entrada de brasileiros, principalmente os que tinham formação
universitária, no país. Isso aconteceu embora vigorasse acordo bilateral para
livre trânsito dos cidadãos nos dois países. Esse acordo havia sido acertado
para que o Brasil recebesse os portugueses que fugiam das ex-colônias da África
depois que estas se tornaram independentes em meados dos 70. Na época se falou
que mais de 200 mil pessoas para aqui vieram. Passadas algumas décadas e Pedro
Passos Coelho, seu Primeiro Ministro, conclama os portugueses a emigrarem para
fugir da crise econômica. Depois foi mais específico e deu o mesmo conselho aos
milhares de professores, que o novo governo neo liberal pôs na rua, para que
emigrassem para os países lusófonos. Eu acho que ele não estava pensando no
Timor Leste.
Imagino que a idéia de emigração
deve estar passando pela cabeça de muitos europeus, principalmente os nacionais
dos países que até a primeira metade do século 20 tinham como principal produto
de exportação, seus pobres. Muitos desses ex-pobres enriqueceram no Brasil, na
Argentina, no Chile e agora podem receber a parentada que ficou dura na Europa
por conta do desemprego massivo. Alem do mais, esses novos migrantes se crêem
detentores de cultura superior e por certo encontrarão aqui todo o respaldo
para exercer sua superioridade. O terreno é fértil para a vassalagem, o
complexo de vira-latas domina a classe média brasileira, os formadores de
opinião. Prova disso é a matéria que a revista Veja fez no seu site dizendo que
o dirigente da Fifa que insultou o Brasil e os brasileiros, tinha sido
“preciso” em suas críticas. Sobre o episódio pode-se dizer que o boquirroto
Valcke apenas verbalizou o que qualquer europeu médio pensa de sul americanos,
africanos e asiáticos: Que é preciso dar-lhes um chute na bunda para que façam
algo ao gosto do sinhô. Mesmo o comportamento da patética revista, não pode
causar estranheza, afinal, seu público alvo pensa assim mesmo e amaldiçoa Pedro
Álvares Cabral como fazia uma tia avó de Ariano Suassuna, que dizia que se não
fosse por ele, teria nascido na Europa.
Li que o ministro dos Esportes, Aldo Rabelo, do Partido Comunista, poderia reconsiderar a decisão de rejeitar Valcke como interlocutor da Fifa para assuntos da Copa 2014. Se isso acontecer, seria o fim da picada. Esse francesinho tem que ser colocado de molho e dobrar a língua. Aliás, a Fifa tem que piar mais fino - e não só com o Brasil, mas com os clubes que ela subjuga e explora.
ResponderExcluirUm dos grandes bens que os governos Lula e Dilma fizeram e fazem ao país é a crescente afirmação brasileira no cenário mundial. Não queremos nos impor a ninguém, mas sem essa de querer continuar tratando o Brasil como quintal do Tio Sam ou da Europa. Aqui são todos bem vindos, ao contrário do que acontece no Hemisfério Norte, mas vamos devagar com o andor que o santo é de barro.