Na última semana a Presidenta Dilma
Roussef empossou seu novo Ministro da Pesca, Marcelo Crivela. Os analistas
políticos dizem que a escolha do nome do sobrinho de Edir Macedo seria para
tentar aplainar o caminho da candidatura Haddad em São Paulo. O ex-ministro
sofreria forte rejeição dos eleitores evangélicos que associam seu nome ao que
ficou conhecido como “kit gay”. Acontece que Crivela já anunciou que seu
partido, PRB, terá candidato próprio na disputa pela prefeitura paulista. Por
isso creio que a ascensão do “bispo” é uma tentativa de quebrar resistências ao
próprio governo Dilma entre os eleitores neo-pentecostais visando não só o pleito
de 2012, como também o de 2014.
Na semana que antecedeu a posse
de Crivela, o Ministro Gilberto Carvalho foi alvo dos congressistas da bancada
evangélica por ter dito no Fórum Social Mundial, que existe uma guerra
ideológica entre os progressistas e as igrejas fundamentalistas pela captura de
votos da nova classe média. Num dia morto na Câmara e no Senado, deputados e
senadores dessa corrente religiosa subiram à tribuna e soltaram o verbo. O mais
exaltado foi o boquirroto senador Magno Malta que fazendo uso de seu linguajar
chulo, chamou o Ministro de safado entre outras coisas. Carvalho fez uma
declaração por escrito explicando que não era bem isso e coisa e tal.
O uso de mais um pote de
vaselina herdado de Lula se fez necessário porque a também recém empossada
Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci chegou
chutando o balde do leite evangélico ao dizer que aborto não é questão
ideológica e sim de saúde pública. Aclarou que era uma opinião pessoal, mas os
fundamentalistas não perdoam nem dão a outra face quando se trata de suas
interpretações da lei de Deus. As oitenta cadeiras que tem na Câmara dos
Deputados, faz da bancada evangélica uma das mais poderosas e mais difíceis de
agradar. Para abrandar sua fúria, foi necessário pagar o dízimo, com o
Ministério da Pesca.
Não é só no Congresso Nacional
que os pastores e bispos demonstram seu poder crescente na sociedade
brasileira. Desde a pequena Araguaina até o Rio, capital cultural do país, suas
exibições de força tem chamado a atenção. Na cidade do Tocantins, os vereadores
aprovaram lei que determina que seja lido um trecho da bíblia no início das
aulas. O Prefeito vetou mas teve seu veto derrubado na Câmara Municipal. O
Ministério Público foi acionado e vai tentar junto à justiça acabar com a
anomalia legislativa.
No Rio o caso é mais grave e
mais complexo. A lei de iniciativa do Poder Executivo que institui o ensino
religioso nas escolas públicas e que foi sancionada pelo Prefeito Eduardo Paes,
é dissimulada e fala de pluralidade religiosa. Divide em 7 grandes grupos as
tendências religiosas a serem atendidas:_Católica, evangélica/protestante, afro
brasileiras, espírita, orientais, judaica e islâmica. 600 professores serão
contratados através de concurso público para ministrar as aulas. Mas não basta
que passem no concurso, eles terão de ser aprovados por autoridade religiosa do
culto que postulam ensinar. No caso católico é fácil, basta que o Cardeal
Arcebispo designe alguém para avaliar os méritos do professor mas quanto aos
outros cultos o buraco é mais embaixo. Quem aprovará os professores
evangélicos? Malafaia ou Edir Macedo? Qual é a autoridade responsável pelos
cultos orientais? Islamismo chiita ou sunita?
Na reportagem que assisti na tv,
vi uma Secretária de Educação titubeante que tentava defender a lei mas não
conseguia esconder o constrangimento. Um defensor intransigente do diploma
legislativo afirmava que cumpria-se a constituição adotando-se o ensino
religioso. E ia mais alem defendendo que os professores sejam avaliados por
autoridade religiosa e que sejam seguidores da fé que pretendem ensinar e não
simples historiadores religiosos.
Talvez, por mostrar tantas
incoerências em seu texto, a lei do ensino confessional seja facilmente
derrubada no STF. Cabe ao Ministério Público agir de ofício pois não creio que
nenhum político se anime a fazer alguma contestação por medo de perder votos de
católicos e evangélicos que são, em última análise, quem incentiva e apóia atos
contra o estado laico. Pelo menos eu nunca ouvi de nenhum rabino ou babalorixá
tal idéia.
Em Ilhéus, o Ministério Público já está
tomando providências para anular a lei do “Pai nosso” que vigora no município
bahiano. Lá é obrigatório rezar essa oração antes do inicio da aula. A
Secretária Municipal de Educação diz que o professor que não quiser rezar não
está obrigado mas os docentes afirmam que sofrem pressão para adotar a oração,
que seria arma no combate à violência nas escolas, segundo a Secretária.
Embora partam de diferentes
correntes evangélicas, essas leis de cunho religioso estão ligadas a uma
estratégia maior; a tomada do poder civil no país através do voto. Não é
teoria, os fatos aí estão. Não é conspiração pois tudo é feito às claras,
diante de nossos olhos com o estardalhaço que é marca registrada dos crentes.
O Deputado Chico Alencar do Psol
do Rio, já alertou durante uma votação de lei que facilita a criação de seitas
e respectiva isenção impositiva, para o risco de que dentro de pouco tempo só
se elegerão candidatos que estejam associados a alguma igreja. Chico Alencar é
cristão.
As grandes denominações
evangélicas se notabilizam pelo senso de oportunidade e crescimento meteórico.
Se hoje lutam encarniçadamente pelo dízimo dos fiéis e horários de televisão,
dentro do congresso formam um só corpo e não aguardam, passivos, os
acontecimentos. Os movimentos que ensaiam com leis esdrúxulas e incontinência
verbal, ao mesmo tempo que forçam a porta os deixam em cômoda posição para
abandonar o barco do governo, pois em grande parte aderiram ao poder, e
lançar-se no vácuo deixado pelo DEM e pelo PSDB para ocupar o lugar de
oposição. A disputa pela prefeitura de São Paulo pode ser decisiva para essa
pretensão. Caso a candidatura Serra saia derrotada, os tucanos, que já não se
bicam faz tempo, ficariam ainda mais divididos e fracos para impulsionar a
candidatura de Aécio em 2014. Estaria aí a oportunidade para os evangélicos
alçarem vôo rumo ao Planalto.
Para capitanear uma empreitada
dessa natureza, eles têm o nome ideal; Marcelo Crivela. Jovem, bonito, com
jeito de candidato americano, o sobrinho de Macedo tem, não só a simpatia dos
religiosos como trânsito fácil entre seus pares no Congresso. Ademais possui
seu próprio estoque de vaselina esterilizada e à sua disposição uma rede de
televisão de alcance nacional.
Claro que tudo depende do
desempenho de Dilma Roussef à frente do governo. Hoje ela seria imbatível numa
disputa contra qualquer candidato oposicionista mas 2018 não está tão longe.
Até lá haverá tempo suficiente para estruturar-se a candidatura de Crivela que
facilmente entraria na disputa com algo em torno de 20% das intenções de votos.
Para anular a rejeição que certamente existe a uma postulação de corte neo-pentecostal,
seria necessário um partido com grande capilaridade e cabos eleitorais fortes.
O tempo no horário eleitoral também conta muito. O PRB não é, ainda, esse
partido e talvez seja necessário comprar um novo. O PSD de Kassab está na
vitrine e seu líder parece ser homem de extrema flexibilidade e capaz de fazer
qualquer tipo de negócio. Se a opção for a compra de uma legenda, dinheiro não
será problema.
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Bom seria voltar ao iluminismo, como é que conseguiram transformar o pensamento da época?
ResponderExcluirClaro, neguinho estava passando por maus bocados e os burgueses ansiavam ter voz e voto, na real da para notar que faz-se qualquer coisa em troca de um dinheirinho e de 15 minutos, ou anos ou séculos de fama.
O apocalíptico panorama da tomada do poder pelos jesusistas - será esse o sentido do lema "Jesus está voltando"? - catapulta o "cristão", em contraste, para tempos outros em que Bíblia era livro curioso e até bonitinho que se via vez por outra nos guardados da vovó e de onde dava até pra tirar alguma coisa que não fosse apenas a lamentável moral judaica do pecado, da punição, da provação, da correção e da redenção - as Cantadas de Salomão, por exemplo.
ResponderExcluirNaquela época, quando passava um comboio evangélico ao largo - ela com saia até os tornozelos, gola até o queixo e mangas até os pulsos, ele de terno pegando frango, os rebentos atrás a passo rápido e bem penteados, todos olhando em frente, os adultos empunhando o tijolo das escrituras - alguém dizia "lá vão os crentes", como quem diz: "que animais raros!"
Aí veio a ditadura e tudo o que o seu dono (lá deles) mandava: Rede Globo, AI-5, Prá Frente Brasil, Terrorismo de Estado, Censura e outras doçuras. O golpe de mestre, a grande tacada ideológica, o fino da bossa tiosatânica, o toque de genialidade do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Pentágono: infestar o Brasil com uma praga alastrante e com antídoto desconhecido, exportada diretamente do caldeirão bíblico norte-americano.
A praga jesusística, elaborada com empreendedorismo ianque, faria estragos profundos numa terra arada pela Sacrossanta Madre Igreja e mantida a ferro e fogo pelos latifundiários sob o manto púrpura de Roma. A ideologia do cristão "self-made" cairia como luva para um povo sedento e faminto de justiça e autonomia, exausto da fé de missa, hóstia e agnus-dei. Era o paraíso "ready-made" ou "self-service", servido em quentinhas a domicílio, no rádio, na TV, na praça.
A coisa se alastrou, tomou corpo, virou corporações com "branches", "marketing", estratégia de investimentos e o escambau. Destapar agora esse reservatório inesgotável de alucinação e alienação coletiva é tarefa para Mao Tse-tung ou Mahatma Ghandi nenhum botar defeito. Nossos políticos, de esquerda ou de direita, tratam de bajular os pastores em vez de colocar em questão o que eles representam: a vitória a longo prazo da pior ideologia americana sobre o Brasil agitado, que corria o risco de deixar o caboclismo e se tornar livre. O caboclo se atrelou ao puritanismo dizimista para escapar do fogo da paixão - com isso perdeu a alma e a bolsa para os espertos.