Já faz alguns anos que escutei
de um veterano narrador esportivo a estória de como ele havia feito a
transmissão de uma luta de boxe pelo rádio nos tempos do rádio em preto e
branco. Quando ouvi a entrevista, o speaker já estava aposentado e como não era
de minha época, não lhe guardei o nome e nem os dos contendores. Sei que era
uma luta importante, valendo título mundial e que fora realizada nos Estados
Unidos.
Contava o veterano do rádio que
naqueles tempos uma viagem internacional para cobrir um evento esportivo era
rara e só se fazia quando estava presente algum brasileiro na disputa. Mas a
luta era importante e o boxe não era tão desprestigiado no país como é hoje.
Havia adeptos da nobre arte que aguardavam a transmissão da luta e a emissora
resolveu o problema com os meios de que dispunha. Sintonizaram uma rádio
americana pelas ondas curtas e contratou-se um tradutor..O intérprete ouvia a
narração em inglês traduzia para o narrador brasileiro e este, num exercício de
imaginação, levava aos radiouvintes as emoções de uma luta que via pelas
orelhas de um tradutor que talvez nem manjasse muito de boxe.
Desde a transmissão daquela luta
até hoje muita coisa mudou. Os narradores esportivos, salvo raras exceções,
conhecem, ou pensam conhecer, o idioma inglês e fazem questão de deixar isso
bem claro.
O paraíso dos narradores
anglófonos é, sem dúvida, a ESPN Brasil(?). Um deles é especialista em
pronunciar o “TH” final das palavras inglesas.. Nas suas narrações do
campeonato inglês ele fala o nome Portsmouth umas cem vezes e não importa que
esse time esteja jogando ou não. Ele dá um jeito de mencionar que um dos times
em campo jogou ou jogará contra o Portsmouth e que o outro teve sua pior
derrota ou maior vitória diante do Portsmouth. Ou que tal jogador já vestiu a
camisa do Portsmouth ou vestirá na próxima temporada.
Um outro jornalista da mesma tv
adora o termo hat trick e mesmo que ninguém marque três gols no jogo que ele
comenta, o termo vem à baila por qualquer motivo. Os jornalistas esportivos de
língua castelhana usam o termo “triplete” para designar o feito de um jogador
marcar três vezes na mesma partida.. É uma palavra horrorosa mas, pelo menos, é
original.
Nomes de jogadores de qualquer
nacionalidade são pronunciados com o sotaque inglês pelos narradores da ESPN
Brasil(?), assim que Obí Miquél é chamado de Ôbi Míquel e o técnico Arsene
Wenger é tratado por Arsene Wenguer. E até o Estrela Vermelha de Belgrado eu já
ouvi ser chamado de Red Star.
Mas se por um lado os narradores
e comentaristas “evoluíram” no conhecimento do idioma estrangeiro, as
transmissões voltaram ao passado. Hoje com toda a tecnologia dos satélites e
outras tantas, se comenta a reprise de jogos internacionais pela Rede TV tanto
no campeonato inglês como na liga dos campeões. O divertido é que os
comentários são feitos no tempo presente misturados com informações em tempo
passado. Os caras não se acanham. Ademais são dois comentaristas que, claro,
nunca discordam.
Creio que o pioneiro nos
comentários de reprises, foi Mário Sérgio que em 91 e 92 já fazia isso na
Bandeirantes. Na época ele queria convencer a audiência, que embora comentasse
um jogo já terminado, não sabia o resultado. Suas previsões para o segundo
tempo, no comentário do intervalo, nunca falhavam. Mário Sérgio prognosticava
viradas históricas e goleadas de partidas que estavam no 0 X 0 depois de 45
minutos. Não errava uma, diferentemente do que acontece em sua carreira de
técnico, que foi iniciada em 93 e todavia é virgem de títulos.
Nos jogos que são transmitidos
ao vivo, seja internacionais ou mesmo os da Copa do Brasil jogados em cidades
remotas, a regra é que sejam comentados desde um estúdio, em São Paulo. Diante
de uma imagem igual a que temos em casa, os analistas destrincham esquemas táticos, reconhecem
intenções de treinadores e fazem leitura labial. Mas tem pior.
Para cantar a pedra e dar
contundentes opiniões, nossos comentaristas já não precisam assistir os jogos.
Eles vêm os gols e pronto. Note-se que entre o pessoal técnico das televisões
não há ninguém que goste de futebol. Diretores e editores de imagem
principalmente. Basta assistir uma partida e depois ver os programas que exibem
os gols para se ter certeza disso. O que é mais mostrado não é a construção da
jogada, o passe que antecedeu o passe final, o desarme preciso que originou o
contra-ataque. Não. Mostra-se com mais tempo e com direito a várias repetições,
as comemorações. Se tiver dancinha melhor. Muitas vezes os repórteres de campo
nos contam a “estória” da coreografia, sua concepção, sua intenção e os ensaios
até sua execução. E repetem uma vez mais. Sem embargo, os comentaristas após
assistirem os gols assim mostrados, esculacham treinadores, ridicularizam
artilheiros e execram goleiros. Foi isso que fez Renato Maurício Prado em um
comentário algum tempo atrás.
O Atlético depois de voltar da segunda divisão
fazia sua melhor campanha, sob o comando de Celso Roth. Faltando poucas rodadas
para o final do campeonato ainda brigava pelo título. Mas o time desandou. O
técnico dizia em entrevista coletiva que não havia explicação lógica para o que
ocorrera. Fazia referência a resultados absurdos e gols sofridos em
circunstâncias mais absurdas ainda. Enquanto falava, a tv mostrava o golaço de
Diego Souza chutando aquém do meio campo e encobrindo o goleiro atleticano. Mas
como estava mal editada, a imagem só mostrou a jogada pela metade. Não mostrou
que a bola dividida pelo goleiro com o atacante palmeirense e que acabou por
encontrar Diego Souza, tinha sido recuada por um defensor e não fruto de um
lançamento sensacional de algum alviverde.
Ora, nenhum técnico arma um
esquema para que seu beque recue bolas nos pés do adversário mas Renato
Maurício Prado, que sequer viu a jogada inteira, deitou falação usando de suas
piadinhas das quais sempre ri primeiro e mais longamente que os interlocutores.
Fez um verdadeiro discurso sobre o treinador e de como seus times sempre
naufragam no final das competições, e como era defensivista. Falou como alguém
que não fizesse outra coisa na vida alem de acompanhar a carreira de Roth e a
trajetória do Galo no campeonato. Tudo isso depois de ver as imagens de 1 (um) gol,
mal editadas.
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