terça-feira, 24 de abril de 2012

A CPI do Cachoeira







Oficializada dias atrás mas ainda sem relator definido, a CPI do Cachoeira já começou, de fato, nas tribunas da Câmara dos Deputados. Antony Garotinho levou para Brasília seu embate com o governador Sérgio Cabral Filho e se depender do campista, o Governador fluminense terá que prestar contas de suas viagens a bordo do jatinho do dono da Delta. Entre acusações e insinuações, Garotinho também se queixou por não ter sido indicado por seu partido, o PR, para compor a CPI, segundo ele, por sua independência, mas já disse que estará presente como deputado.
Ao ocupar os microfones, antes que alguém pudesse reagir, Garotinho acusou Sérgio Cabral de envolvimento escuso com a Construtora Delta citando números. Disse que nos oito anos que ele e sua mulher, Rosinha Garotinho, governaram o Estado do Rio, a Delta recebeu apenas 380 milhões dos cofres públicos ao passo que durante os 5 anos de Cabral o desembolso em favor da construtora foi de mais de 1 bilhão. Embora a diferença seja eloqüente, eu jamais me referiria a quantia de 380 milhões acompanhada da palavra “apenas”.
A primeira aparição do ex-governador do Rio após a instalação da CPI, nos dá uma amostra de qual será a tônica da comissão nesse ano eleitoral. Meio delegacia, meio palanque. O tema é para delegados e devem ser pelo menos dois os membros que exerceram essa função na Polícia Federal antes de serem deputados, Francischini do PSDB e Protógenes do PC do B.
Tanto a CPI quanto a eleição municipal decidem o futuro do DEM e uma coisa depende da outra. O partido em vias de encerrar os negócios, deve tentar isolar o Senador Demóstenes com o discurso “nós expulsamos, nós expulsamos”. Duvido que cole. O partido de Agripino Maia e ACM Neto tem folha corrida e é o campeão nacional em políticos cassados. Caso fracasse rotundamente no pleito de outubro, tudo leva a crer que a legenda se funda com o PSDB.
Por seu lado o partido de FHC já entra com um governador, Marconi Perilo, metido até o pescoço nos negócios de Cachoeira assim como o PT, que tem em Agnelo Queirós um calcanhar de Aquiles difícil de defender. O Governador do Distrito Federal é daqueles que vão enrijecendo a cara de pau com o passar dos anos. Quando era Ministro dos Esportes protagonizou um episódio de diárias pagas duplamente pelo governo e pela Coca-Cola durante os Jogos Panamericanos de Santo Domingo. Na última eleição recebeu forte fogo amigo quando disputava as internas do PT. Os adversários de dentro do partido não pouparam acusações. Com o apoio da cúpula do PT, saiu candidato e venceu Madame Roriz  que substituía o marido ficha suja. Mas foi uma vitória mais sem graça que bater em bêbado. Ainda assim, tudo indica que se tornou cliente de Cachoeira e da Delta.
Diante do poderio do homem de Goiás, cujo nome ficou conhecido pelo envolvimento com Valdomiro Diniz no começo do governo Lula, os alicerces da república tremem. Parece que quem governa ou governou algum estado da federação nos últimos anos tem alguma espécie de relação com o contraventor. No Mato Grosso e em Santa Catarina ele já estava com um pé dentro das loterias estaduais e há indícios de que a Delta é de fato propriedade sua, sendo Cavendish um mero testa de ferro.
A grande imprensa tenta caracterizar a CPI como chapa branca e aponta seu presidente, Vital do Rego, como pau mandado. Citam o fato de ser senador em primeiro mandato e estranham que nessa condição já tenha sido cogitado para outras relevantes funções. Parece-me que aí está apenas a má fé dos órgãos de informação. Bastaria lembrar-se da CPI dos correios para pôr por terra esse tipo de especulação. Aquela CPI que tinha como relator Osmar Serraglio do PMDB do PR e como presidente Delcídio Amaral do PT do MS, acabou gerando um nutrido relatório que deu origem aos muitos processos que deverão ser julgados este ano pelo STF. Nenhum dos dois  era figura de proa da política nacional. Tampouco eram nomes desligados dos partidos envolvidos na questão. Ademais, tirante o Psol, não há partido que não tenha um nome ligado, direta ou indiretamente, ao esquema de Cachoeira. A questão não é quem presida ou relate o caso e sim se não haverá uma composição entre os partidões para evitar um desgaste demasiado grande. Nesse caso se escolheria, alem de Demóstenes, mais alguns bois de piranha para arcar com os custos políticos do gigantesco esquema de corrupção.
O que mais irrita a imprensa de direita é que, a exemplo de Lula no caso do mensalão, esse escândalo não toca na imagem da Presidenta Dilma que bateu novo record de popularidade segundo pesquisa da Datafolha divulgada nesse último fim de semana. Tenho certeza de que um dos fatores que influenciou nesses números de aceitação popular, foi a cara de Miss Limão que nossa Presidenta ostentava no seu último encontro com Obama.
É difícil prever que efeito terá na população a divulgação das interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal das quais só é conhecida uma seleta filtrada pelos meios de comunicação que omitiram, por exemplo, as ligações de Cachoeira com o diretor regional de “Veja” em Brasília. Não se pode saber o que mais foi selecionado e mostrado nos jornalões impressos e televisivos até que a CPI tenha em seu poder as gravações e queira torna-las públicas.
Figurinhas carimbadas da política nacional deverão compor a CPI. Collor e Jucá são nomes certos assim como Cássio Cunha Lima. Difícil será encontrar um, nos grandes partidos, que não tenha algum problema na justiça, alguma conta rejeitada ou um passado questionável.
O motivo da demora do PT em escolher o relator é o de sempre: disputas internas. O nome de Odair Cunha, um dos favoritos, estaria recebendo bombardeio pesado por não ter evitado a convocação de Ideli Salvati para depor na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Ou seja, não evitou que o escândalo das lanchas do Ministério da Pesca fosse investigado portanto não pode relatar o escândalo patrocinado por Cachoeira. Durma-se com um barulho desses.


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