Oficializada dias atrás mas
ainda sem relator definido, a CPI do Cachoeira já começou, de fato, nas
tribunas da Câmara dos Deputados. Antony Garotinho levou para Brasília seu
embate com o governador Sérgio Cabral Filho e se depender do campista, o Governador
fluminense terá que prestar contas de suas viagens a bordo do jatinho do dono
da Delta. Entre acusações e insinuações, Garotinho também se queixou por não
ter sido indicado por seu partido, o PR, para compor a CPI, segundo ele, por
sua independência, mas já disse que estará presente como deputado.
Ao ocupar os microfones, antes
que alguém pudesse reagir, Garotinho acusou Sérgio Cabral de envolvimento
escuso com a Construtora Delta citando números. Disse que nos oito anos que ele
e sua mulher, Rosinha Garotinho, governaram o Estado do Rio, a Delta recebeu
apenas 380 milhões dos cofres públicos ao passo que durante os 5 anos de Cabral
o desembolso em favor da construtora foi de mais de 1 bilhão. Embora a
diferença seja eloqüente, eu jamais me referiria a quantia de 380 milhões
acompanhada da palavra “apenas”.
A primeira aparição do
ex-governador do Rio após a instalação da CPI, nos dá uma amostra de qual será
a tônica da comissão nesse ano eleitoral. Meio delegacia, meio palanque. O tema
é para delegados e devem ser pelo menos dois os membros que exerceram essa
função na Polícia Federal antes de serem deputados, Francischini do PSDB e
Protógenes do PC do B.
Tanto a CPI quanto a eleição
municipal decidem o futuro do DEM e uma coisa depende da outra. O partido em
vias de encerrar os negócios, deve tentar isolar o Senador Demóstenes com o
discurso “nós expulsamos, nós expulsamos”. Duvido que cole. O partido de
Agripino Maia e ACM Neto tem folha corrida e é o campeão nacional em políticos
cassados. Caso fracasse rotundamente no pleito de outubro, tudo leva a crer que
a legenda se funda com o PSDB.
Por seu lado o partido de FHC já
entra com um governador, Marconi Perilo, metido até o pescoço nos negócios de
Cachoeira assim como o PT, que tem em Agnelo Queirós um calcanhar de Aquiles difícil de
defender. O Governador do Distrito Federal é daqueles que vão enrijecendo a
cara de pau com o passar dos anos. Quando era Ministro dos Esportes
protagonizou um episódio de diárias pagas duplamente pelo governo e pela
Coca-Cola durante os Jogos Panamericanos de Santo Domingo. Na última eleição
recebeu forte fogo amigo quando disputava as internas do PT. Os adversários de
dentro do partido não pouparam acusações. Com o apoio da cúpula do PT, saiu
candidato e venceu Madame Roriz que
substituía o marido ficha suja. Mas foi uma vitória mais sem graça que bater em bêbado. Ainda assim,
tudo indica que se tornou cliente de Cachoeira e da Delta.
Diante do poderio do homem de
Goiás, cujo nome ficou conhecido pelo envolvimento com Valdomiro Diniz no
começo do governo Lula, os alicerces da república tremem. Parece que quem
governa ou governou algum estado da federação nos últimos anos tem alguma
espécie de relação com o contraventor. No Mato Grosso e em Santa Catarina ele
já estava com um pé dentro das loterias estaduais e há indícios de que a Delta
é de fato propriedade sua, sendo Cavendish um mero testa de ferro.
A grande imprensa tenta
caracterizar a CPI como chapa branca e aponta seu presidente, Vital do Rego,
como pau mandado. Citam o fato de ser senador em primeiro mandato e estranham
que nessa condição já tenha sido cogitado para outras relevantes funções. Parece-me
que aí está apenas a má fé dos órgãos de informação. Bastaria lembrar-se da CPI
dos correios para pôr por terra esse tipo de especulação. Aquela CPI que tinha
como relator Osmar Serraglio do PMDB do PR e como presidente Delcídio Amaral do
PT do MS, acabou gerando um nutrido relatório que deu origem aos muitos
processos que deverão ser julgados este ano pelo STF. Nenhum dos dois era figura de proa da política nacional. Tampouco
eram nomes desligados dos partidos envolvidos na questão. Ademais, tirante o
Psol, não há partido que não tenha um nome ligado, direta ou indiretamente, ao
esquema de Cachoeira. A questão não é quem presida ou relate o caso e sim se
não haverá uma composição entre os partidões para evitar um desgaste demasiado
grande. Nesse caso se escolheria, alem de Demóstenes, mais alguns bois de
piranha para arcar com os custos políticos do gigantesco esquema de corrupção.
O que mais irrita a imprensa de
direita é que, a exemplo de Lula no caso do mensalão, esse escândalo não toca na
imagem da Presidenta Dilma que bateu novo record de popularidade segundo
pesquisa da Datafolha divulgada nesse último fim de semana. Tenho certeza de
que um dos fatores que influenciou nesses números de aceitação popular, foi a
cara de Miss Limão que nossa Presidenta ostentava no seu último encontro com
Obama.
É difícil prever que efeito terá
na população a divulgação das interceptações telefônicas feitas pela Polícia
Federal das quais só é conhecida uma seleta filtrada pelos meios de comunicação
que omitiram, por exemplo, as ligações de Cachoeira com o diretor regional de
“Veja” em Brasília. Não
se pode saber o que mais foi selecionado e mostrado nos jornalões impressos e
televisivos até que a CPI tenha em seu poder as gravações e queira torna-las públicas.
Figurinhas carimbadas da
política nacional deverão compor a CPI. Collor e Jucá são nomes certos assim
como Cássio Cunha Lima. Difícil será encontrar um, nos grandes partidos, que
não tenha algum problema na justiça, alguma conta rejeitada ou um passado
questionável.
O motivo da demora do PT em
escolher o relator é o de sempre: disputas internas. O nome de Odair Cunha, um
dos favoritos, estaria recebendo bombardeio pesado por não ter evitado a
convocação de Ideli Salvati para depor na Comissão de Fiscalização Financeira e
Controle da Câmara dos Deputados. Ou seja, não evitou que o escândalo das lanchas
do Ministério da Pesca fosse investigado portanto não pode relatar o escândalo
patrocinado por Cachoeira. Durma-se com um barulho desses.
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