Quando eu era jovem e
freqüentava botequins, havia um dito que me incomodava. Bastava que dois
paroquianos estivessem conversando sobre qualquer assunto que chegava alguém e
dizia:_”Esse é o mal do brasileiro”. Um engarrafamento, um juiz ladrão, falta d’água,
corrupção. Tudo era “o mal do brasileiro”. Em pouco tempo me dei conta que o
mal do brasileiro era falar do mal do brasileiro.
Hoje o dito é outro e para
qualquer fato acontecido o comentário nas redes sociais é:_”Só no Brasil
mesmo”. Isso serve também para qualquer coisa. Só que não existe nada que só
aconteça no Brasil ou que sempre aqui está a pior das crises, a pior das
soluções ou o pior dos mundos. A própria internet que serve para vituperar
contra o país está repleta de informações que mostram que o que temos de pior
não é propriedade única do Brasil. Mesmo em matéria de políticos corruptos e
incompetentes, não estamos sós.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o grau de corrupção é enorme e muitas vezes, para que empresas possam faturar milhões em negócios no exterior, o governo não titubeia em enviar seus jovens para morrer pelos lucros. O “lobby” é institucionalizado e regulamentado e juntando-se a forma de financiamento privado das campanhas eleitorais, o que poderia ser visto como abuso do poder econômico em outros países, lá é o próprio cerne da atividade política. Como eles dão outro nome à corrupção eleitoral, isto é suficiente para cegar quem prefere vê-los como exemplo democrático. Para os americanófilos tupiniquins, Carlinhos Cachoeira, "só no Brasil mesmo". Mas diante de Dicc Cheney, nosso contraventor é garoto de recados.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o grau de corrupção é enorme e muitas vezes, para que empresas possam faturar milhões em negócios no exterior, o governo não titubeia em enviar seus jovens para morrer pelos lucros. O “lobby” é institucionalizado e regulamentado e juntando-se a forma de financiamento privado das campanhas eleitorais, o que poderia ser visto como abuso do poder econômico em outros países, lá é o próprio cerne da atividade política. Como eles dão outro nome à corrupção eleitoral, isto é suficiente para cegar quem prefere vê-los como exemplo democrático. Para os americanófilos tupiniquins, Carlinhos Cachoeira, "só no Brasil mesmo". Mas diante de Dicc Cheney, nosso contraventor é garoto de recados.
Na Europa muito civilizada basta
uma crise como a atual para destampar toda espécie de mazelas. Em todos os
países afetados a solução foi espremer os mais pobres. Cortes nos gastos
sociais foram a tônica das medidas tomadas em Portugal, Espanha, Itália. E da
Grécia nem se fale. Longe do que imaginam nossos compatriotas que odeiam ser
nossos compatriotas, as populações desses países não se revoltaram e foram para
as ruas derrubar governos. Ao contrário, o que se viu na Península Ibérica foi
a entrega do poder, através do voto livre e soberano, à direita neo-liberal, principal
estimuladora das políticas que levaram esses países à bancarrota. Claro que o
discurso dos governos empossados durante o maremoto da crise, é culpar o estado
de bem estar social, praticado pelos governos anteriores, por todos os
problemas. O desemprego só aumenta enquanto as políticas preconizadas pelo FMI, Banco Central Europeu e países centrais (Alemanha e França), são postas em prática.
Em Portugal o próprio Primeiro
Ministro aconselha a emigração como solução para escapar ao desemprego enquanto
despede milhares de professores que, diferentemente daqui, não têm
estabilidade. Todo atendimento médico na rede pública de saúde implica num
desembolso, do qual só estão isentos aqueles cuja renda sequer dá para comer.
Uma nova onda de emigrantes portugueses chega à França onde a extrema direita acumulou votos na eleição presidencial com um discurso xenófobo que faz lembrar outros tempos. Marine Le Pen teve uma votação superior a de seu pai anos atrás. Como não houve uma grande fragmentação dos votos ela não conseguiu ir para o segundo turno mas seu discurso simplório, racista e xenófobo comoveu milhões de franceses.
Uma nova onda de emigrantes portugueses chega à França onde a extrema direita acumulou votos na eleição presidencial com um discurso xenófobo que faz lembrar outros tempos. Marine Le Pen teve uma votação superior a de seu pai anos atrás. Como não houve uma grande fragmentação dos votos ela não conseguiu ir para o segundo turno mas seu discurso simplório, racista e xenófobo comoveu milhões de franceses.
Enquanto isso, a Suíça mostra
que é mesmo democrática pois se anos atrás sua população se posicionava pelo
direito de seus bancos se apropriarem dos bens judeus que os alemães lá
depositaram durante a 2ª Guerra Mundial, hoje, em plebiscito, aprova a proibição
de construção de novas mesquitas no país
Tanto na Península Ibérica quanto
na França, o posicionamento do eleitorado não é suficiente para convencer os
anti-brasileiros do Brasil que no velho continente vota-se como uma manada de
despolitizados, com a mão no bolso e a cabeça em quimeras. As
manifestações que os jovens daqueles países promovem e que atendem pelo nome
genérico de “ocupem alguma coisa”, aqui causam um frenesi tamanho que nos faz
imaginar estar diante da revolução social. Mas esses indignados nem sequer vão às urnas.
Na Espanha, a mais recente
medida de austeridade do governo veta o acesso às pessoas indocumentadas ao
sistema “universal” de saúde. Com isso dizem que economizarão alguns milhões de
euros. Tal medida tem muito mais de xenofobia que de economia mas agrada aos
jornalistas da televisão pública espanhola que a defendem com ímpetos
nacionalistas. Nacionalismo de capa e espada que também lhes serviu para
criticar a estatização da YPF na Argentina. A imprensa espanhola tratou o caso
como um assunto de estado e de uma hora para outra todos se tornaram
especialistas em Argentina e em
petróleo. Só esqueceram de dizer que a Repsol, que detinha
51% do capital da petrolífera argentina que Cristina Kirchner fez voltar às
mãos dos argentinos, nada tem a ver com o estado espanhol e está longe de ser
um grande pagador de impostos naquele país pois suas sedes estão espalhadas por
paraísos fiscais ao redor do mundo.
A preocupação com os pequenos
investidores da petrolífera aparece como único recurso retórico para comover a população
espanhola de que esta foi expropriada de algum bem. Na verdade a preocupação da
imprensa e do governo neo-liberal da Espanha é com os grandes acionistas que
contam com pesos pesados como a Pemex do México e até grupos brasileiros que
também investem na Petrobrás. Sem
contar, é claro, com os capitalistas europeus. O engraçado é que a atitude de
Cristina Fernandes de Kirchner é que foi tratada de “nacionalismo de hojalata”
e sombrios prognósticos foram feitos sobre a Argentina.
Como em 82 quando Gualtieri, com
a invasão e retomada das Malvinas, forneceu a Margareth Tatcher um alívio das
críticas que vinha sofrendo pelo fraco desempenho econômico de seu governo,
Rajoy tenta tirar proveito da nacionalização da YPF. Seus ministros fazem
declarações indignadas e bombásticas mas, diferentemente da Dama de Ferro, não
cogita enviar sua armada para punir a audácia argentina.
Não estou dizendo que vivemos
numa ilha de paz no meio de um mundo em crise.. Não. Esse
discurso era da ditadura. O que digo é que temos sabido lidar com nossos
problemas e se não achamos todas as soluções e muitas vezes caminhamos quilômetros
para trás como é o caso do Código Florestal, podemos muitas vezes ter orgulho
do que tem produzido nossa sociedade. O julgamento pelo Supremo da ADPF sobre
as cotas raciais na UnB foi um desses momentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário