segunda-feira, 2 de abril de 2012

Regra n° 1







Durante as transmissões da liga dos campeões da Europa eram mostradas na tela a distância percorrida pelos jogadores que ao fim do jogo eram substituídos. Víamos que até os 35 ou 40 minutos do segundo tempo o fulano percorrera  9 km , 9,5 km. Se continuasse na partida facilmente atingiria os 10 km. No campeonato russo havia também esse dado. Este ano tenho acompanhado alguns jogos do torneio europeu mas confesso que não reparei se continuam dando essa informação.
Quem se ocupa de dados e estatísticas, já comprovou que nos anos 70 um atleta do futebol percorria a metade dessa distância.  Em todos os esportes deu-se o mesmo. Os atletas são mais rápidos, mais fortes, mais altos. Durante a Olimpíada de 68, na Cidade do México, eu lembro de ter lido uma matéria de jornal que questionava se o ser humano poderia correr os 100 metros rasos em menos de 10 segundos, se era humanamente possível. Hoje, Usain Bolt faz isso em provas classificatórias enquanto chupa um pirulito e joga beijinhos para a platéia. E não é só ele.
Para se adaptar a esse fenômeno humano, vários esportes fizeram modificações em sua regras. O centro de equilíbrio do dardo foi modificado pois já se corria o risco de alguém na arquibancada ser atingido, devido à força dos esportistas e à tecnologia usada na fabricação do dardo. No vôlei, aumentaram a altura da rede. No boxe olímpico, introduziram o capacete. Somente o futebol caminhou em direção contrária.
Quando no século 19 criaram-se as regras do esporte, foram estipuladas as dimensões do campo de jogo: mínimo de 90 metros e máxima de 120 metros para o comprimento e mínima de 45 metros e máxima de 90 metros para a largura. É a regra n° 1. Esta flexibilidade de medidas facilitou sempre a prática do esporte. Usando-se medidas mais próximas do limite máximo ou do mínimo, o jogo podia ser praticado sem grandes problemas. Durante toda a fase de implantação, crescimento e popularização do jogo da bola foi assim. Jogava-se em campos pequenos e grandes.
No Rio o maior campo de jogo era o da Portuguesa, na Ilha do Governador. Dizia-se que possuía as medidas máximas, sem embargo, foi lá que Ubirajara, o goleiro do Flamengo nos anos 70, marcou um gol chutando desde sua área. O estádio Luso-Brasileiro era conhecido como o “Estádio dos ventos uivantes” e o minuano que sopra por lá deve ter contribuído para a feitura do gol.
Mas o campo da Portuguesa era exceção entre os times pequenos. Estes, em geral, possuíam campos também pequenos e faziam disto uma arma contra as grandes agremiações que penavam sob a forte marcação que se pode fazer em gramados mais apertados. As retrancas de Milton Buzzeto, que dirigiu o Juventus da Mooca nos anos 70, só eram possíveis no estádio da Rua Javari. Os times grandes, obviamente, preferiam jogar em grandes palcos. E desde o Maracanã construído em 50, passando pelo Mineirão de 65, Beira Rio, Serra Dourada e outros, os estádios brasileiros sempre possuíram gramados de grandes dimensões. Imagino que pelo resto do mundo também acontecesse o mesmo.
Sem levar em conta a evolução física dos atletas, a maior dinâmica do jogo e o potencial econômico dos clubes, a FIFA encolhe os gramados. Para os Mundiais a entidade exige medidas de campo de várzea: 105 m x 68m. Na minha humilíssima opinião isso não faz o menor sentido. Pelo menos sentido esportivo.
Ao contrário do que é feito, os estádios deveriam ampliar seus gramados para aproximá-los das medidas máximas e assim adequar o espaço de jogo aos super atletas de hoje. Onde isso não fosse possível, paciência.  Alem do mais com mais espaço o jogo tende a ser mais bonito, sem tantos entrechoques e cotoveladas. A posse da bola passa a ser de quem tem talento e não de quem a retém com passes de dois metros.
O pior é que a imposição da FIFA para jogos do mundial, mutilará nossos  gramados para sempre. Não é provável que, passado o torneio, os administradores dos estádios façam o campo de jogo voltar ao tamanho original.  Assim que para o futuro teremos um mini Maracanã, um arremedo de Mineirão, um falso Beira Rio.
A subserviência das nossas elites às coisas estrangeiras já é por demais conhecida e nossa imprensa vai atrás ou por concordar ou por imposição de quem a dirige. Isso acontece em todas as atividades e no futebol não é diferente. Foi assim quando a FIFA resolveu estabelecer padrões para as acomodações de torcedores.e a geral foi extinta em nossos estádios. Como era algo que prejudicava apenas os mais pobres, a imprensa aplaudiu a medida como fator civilizador de nossos costumes bárbaros. Ora, o Brasil, como força do futebol mundial, poderia se impor quando os interesses do país, no tocante ao esporte, fossem agredidos, mas não é isso que se vê, muito pelo contrário.
 A humilde Bolívia conseguiu que a FIFA voltasse atrás quando a entidade pensou em proibir jogos de futebol acima das nuvens. Claro que se a Suíça construísse um estádio nos Alpes isso nem seria cogitado. Médicos e outros palpiteiros seriam consultados e diriam que faz até bem jogar nas alturas. Como é a Bolívia,. tentaram proibir sem que nenhum fato houvesse ocorrido para justificar a interdição dos estádios de La Paz para competições internacionais. Não conseguiram porque Evo Morales, homem saído do seio do povo, fez valer o interesse de seus concidadãos. E olha que embora participe de eliminatórias desde a Copa de 50, o país andino só participou de duas copas. O Brasil participou de todas.
Em qualquer dos mundiais havidos, o Brasil foi um dos países que mais enviou jornalistas para cobrir o evento. A audiência dos jogos da copa é massiva no país e hoje temos um número de consumidores de classe média que supera a população inteira de quase todos os países da Europa individualmente. Não somos apenas uma força no futebol, um atrativo para os campeonatos mundiais, somos também uma força econômica que interessa sobremaneira aos patrocinadores de qualquer evento de escala mundial. Principalmente se esse evento envolver futebol.
Por outro lado nos falta e essencial para fazer valer nossa força: dirigentes. Não se pode esperar que gente como Ricardo Teixeira, José Maria Marin ou Andrés Sanches faça algo pelo futebol brasileiro. O interesse dessa gente passa por mesquinharias e coisas inconfessáveis. Para apoiá-los há sempre uma imprensa idiotizada ou simplesmente safada. E mesmo os que batem de frente com os dirigentes oportunistas, nem sempre o fazem para defender os interesses do futebol nacional e sim para puxar a brasa para a sardinha das organizações que lhes dão emprego.  Tanto é assim que os jornalistas da Globo e d’O Globo, são quase unânimes em defender um campeonato brasileiro com uma fase de classificação e outras de jogos de eliminação que supostamente dão mais audiência na televisão. Os que trabalham na ESPN Brasil defendem a adequação do nosso calendário ao europeu pois nos meses de férias na Europa sua audiência deve ser praticamente zero pois o campeonato daqui atrai as atenções e eles, sem ter o direito de transmissão, exibem amistosos dos clubes europeus contra combinados asiáticos ou equipes norte-americanas que não despertam o menor interesse.
A adequação ao calendário europeu também facilitaria a ida de jogadores brasileiros para o exterior pois eles estariam no mesmo grau de preparação física, não precisando de período de adaptação. Ou seja, é uma proposta que prejudicaria nosso futebol e nada traria de positivo. Basta ver o óbvio; em todos os países sul-americanos o calendário local está adequado ao europeu e os times desses países vivem de pires na mão e até os times daqui já conseguem importar seus craques.
Sem dirigentes nem imprensa que defenda os reais interesses do futebol brasileiro, ele sobrevive graças à paixão da torcida e ao talento de nossos jogadores.
















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