Desde a CPI do PC, que culminou
com a renúncia de Fernando Collor de Merda, tenho acompanhado os trabalhos
dessas comissões que, ao contrário do que pensam muitos, têm servido para
desmascarar grande número de corruptos e desmontar esquemas de corrupção.
Infelizmente, depois de punidos, muitos dos artistas voltam à cena pelo voto popular sem repor
aos cofres públicos o fruto da rapinagem. É o caso do ex-presidente Collor.
Se já não bastasse vê-lo
presidindo os trabalhos da Comissão de Relações Exteriores do Senado, durante
os próximos meses teremos que suportar sua figura de galã de novela mexicana na
CPI do Cachoeira. E pior que escutar sua voz de dublador da Herbert Richers
será constatar que ele estará afinadíssimo com o PT. Quem diria?
Já nesse primeiro dia, quando foi
apresentado o plano de trabalho do relator, me veio a certeza de que a verdade
será a primeira condenada no processo.
O Presidente da comissão,
Senador Vital do Rego, deu uma amostra de como conduzirá os trabalhos: com
autoritarismo de coronel do nordeste e arrogância de herdeiro. Ao fim do dia, a
votação dos requerimentos por ele encaminhada, mereceu do Deputado Protógenes o
comentário que não se tratava de corrida de fórmula um, tamanha a pressa com
que a conduzia. De nada adiantou o protesto do ex-delegado e o Presidente
encerrou rapidamente a sessão citando, é claro, Deus.
O relator, Deputado Odair Cunha,
também já tomou posições que podem ser um indício de seu proceder durante as
investigações. Em seu plano de trabalho consta a quebra de sigilo bancário,
telefônico e fiscal de Carlinhos Cachoeira mas não inclui na medida o CNPJ das
empresas do contraventor, apenas seu CPF. Disse o relator que não descarta tomar tal
medida no decorrer dos trabalhos. Mas por que não agora? Tampouco será
convocado para depor, Fernando Cavendish mas apenas os diretores da Delta
responsáveis pelo setor centro-oeste da empresa. Quanto a isso, Vital do Rego
disse que a comissão vai se ater às investigações já feitas pela Polícia
Federal e ao parecer da Procuradoria Geral da República e que a comissão não será
pautada por notícias de jornal.
Ora, depois de vazados os
relatórios e gravações dos grampos telefônicos feitos pela polícia, muita coisa
veio à público como, por exemplo, as fotos e vídeos que o Deputado Garotinho
postou em seu blog mostrando a íntima relação de Sérgio Cabral Filho e o dono
da construtora Delta. O fato do Governado do Rio ter desembolsado mais de um
bilhão em favor da construtora parece não preocupar Vital e Cunha e
deverá ser tratado apenas como notícia de jornal.
Pelo lado oposicionista, Onix
Lorenzoni fez o que sabe: disse bobagens em tom de briga. Quando o Presidente
colocou em votação um requerimento de sua autoria e apenas citou seu nome sem
esperar pelo voto, o deputado protestou, com gauchesco rompante, que não votara.
Vital do Rego falou algo sobre ser um matuto da Paraíba fazendo clara alusão ao
fato do gaúcho fanfarrão não saber o óbvio: como autor do requerimento seu voto
era conhecido. Pego na bobagem o estridente representante do Rio Grande do Sul
tentou disfarçar fazendo uma gracinha. Não colou.
Collor faz questão da convocação
do Procurador Geral da República para dar explicações sobre o inquérito da
Operação Las Vegas que por longo tempo dormitou nas gavetas da Procuradoria.
Com o ex-presidente, fez coro o Deputado Vaccarezza. Sobre o convite feito a Gurgel para depor, Álvaro
Dias afirmou no plenário da comissão que o Procurador Geral da República
estaria proibido por lei de prestar depoimento na CPI. A visão de Gurgel é
outra pois ele apenas declinou do convite alegando que poderia ficar impedido
de participar do processo caso depusesse sobre o tema. Disse que ainda iria
estudar melhor o assunto. Collor, o caçador de corruptos e prevaricadores, quer
algo mais que convites, quer convocação.
Por falar em Álvaro Dias, Sua
Excelência tem-me chamado a atenção. Embora continue usando seu tom
declamatório e freses de efeito, não tenho visto no Senador paranaense os
arroubos de outros tempos. Parece-me contido, suas palavras não têm a verve
acusatória de sempre. Calmaria de vulcão? Rabo preso? Sei lá. O Senador anda
diferente de uns dias pra cá.
Entre os depoimentos já
agendados pelo relator, não constam, ainda, nomes que poderiam trazer
surpresas. Nenhuma secretária ou motorista, vigia ou ex-mulher. Por enquanto,
só gente que sabe dar nó em pingo d’água. Talvez Dadá, sargentão e araponga,
seja o elo mais frágil na corrente de impostores e salafrários e pode, se
apertado, contar algo que ainda não conste no inquérito da Polícia Federal.
Ao contrário da CPI dos Correios
que foi detonada a partir de uma única fita de vídeo fruto de arapongagem, a
atual já começa tendo à sua disposição farto material colhido segundo todas as
regras legais. Se naquela, a oposição estava assanhada e contundente, na CPI do
Cachoeira o temor de ter grandes figuras políticas envolvidas no escândalo, é
compartido com os governistas. Se a oposição sai perdendo com Demóstenes, fica
cada vez mais claro que algum ministério deverá ser citado ao longo das
investigações. A Delta, com gigantescos contratos com o Governo Federal, é o
braço econômico do esquema e através dela é que deverão ser alcançados os nomes
até aqui intocados ou, pelo menos, não mencionados no que foi vazado e
veiculado pela imprensa.
O que as duas CPIs têm em comum
é o fato de envolver políticos poderosos e nacionalmente conhecidos. Nada de
anões do baixo clero ou prefeitos interioranos. Há pelo menos 3 governadores
envolvidos. O caso de Sérgio Cabral Filho, amigo assumido de Cavendish, apenas
difere dos de Perillo e Agnelo por estar recebendo blindagem especial como
ficou claro na não convocação para depor, imediatamente, do dono da Delta. Mas
Garotinho, o paladino do norte fluminense, promete não dar trégua.
Esse primeiro momento da
comissão é de estudos, a corda ainda não começou a ser esticada. Trata-se agora
de posicionar-se para estar em melhor situação na hora de negociar o acordo que
livre os pesos pesados dos partidões.
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