Domingo passado no Engenhão, o
Botafogo venceu o São Paulo por um expressivo 4 X 2. Herrera, que saiu do
banco, foi autor de 3 dos 4 gols alvinegros. Os repórteres da Globo se
aproximaram do jogador tão logo trilou o apito final: _”Herrera já tem música
na cabeça pra pedir? O goleador respondeu interrogando:_Música? Pra quê? O
jornalista, que por um momento ficou atônito com o desconhecimento do jogador
de seus direitos, explicou:_Você marcou três gols, tem direito a pedir música
no Fantástico. Meio constrangido, Herrera ainda balbuciou uma negativa. O repórter
insistiu: _Nem em castelhano? Non, non.,
respondeu o argentino. Surpreendido, Cléber Machado, que estava na cabine do
estádio, querendo consertar a situação e ao mesmo tempo passar um pito no artilheiro,
comentou que a torcida cantava o hino do clube. A crítica velada pelo
comportamento rebelde de Herrera pôde ser sentida apenas no tom de voz do
narrador pois, embora tente, Cléber não é bom de ironias e sarcasmos.
Herrera não é, nem de longe, um
extrovertido. Enquanto respondia aos repórteres olhava para o chão e movia-se
como um tímido profissional. Negar-se a
participar da tola brincadeira, custou-lhe, mas ainda assim, negou-se.
Caso aceitasse estaria deixando
explícito que assiste o programa que turva com sua cretinice as noites de
domingo. Deixaria claro que conhece as regras da emissora que mescla o
espetáculo esportivo com o show de horrores. Estaria sendo o garoto propaganda
da babaquice. Poderia, se fosse um debochado, ter pedido uma sinfonia de Mahler
ou o tema de abertura do Chaves mas ele não é, nem de longe, um debochado.
Herrera pode estar certo que a vingança será
saramalígna, como diria Bento Carneiro, o vampiro brasileiro do Chico Anísio. Os
repórteres, narradores e outros profissionais da TV dos Marinho, sentem-se como
aquele outro personagem do Chico, o Bozó, que dizia para impressionar:_Ó,
trabalho na Globo, ó. E mostrava o crachá. Ao não reconhecer o crachá, o
emblema, o logotipo, o salvo-conduto desses profissionais, o goleador argentino
expõem-se à sua ira que virá, como é praxe entre os pulhas e os covardes, em
forma de chacota. E os que se fazem de sérios começarão a descobrir
deficiências técnicas, disciplinares e de corte de cabelo no camisa 9 do
Botafogo.
Fico imaginando o que devem pensar os
pragmáticos sobre esse tema tão pouco relevante para eles. Sou capaz de apostar
que alguém deve ter dito:_Por que não pediu logo “El dia que me quieras” e
pronto. Por que afrontar, com uma recusa, os poderes do rei? O que ele ganha
com isso?
Bem, eu diria que ganha dignidade e que alguém
tem de dizer ao rei que sua roupa é cafoníssima. Que, em troca de comentários
elogiosos, o jogador de futebol não deve fazer sempre o papel de bobo da corte.
Bastam as dancinhas e corações. Que os outros (jornalistas esportivos, redes de
televisão, emissoras de rádio etc) é que lucram com seu talento e não o
contrário.
Há pouco tempo, o bom lateral
esquerdo Cortês que então jogava no mesmo Botafogo de Herrera, após realizar
uma grande partida pela Seleção Brasileira, foi convidado a participar de um
programa esportivo da Globo. Seu entrevistador, Alex Escobar, fez-lhe vários e
merecidos elogios. Na despedida, Cortês declarou sua felicidade pelo momento
que vivia:_Quarta-feira com a seleção e hoje aqui com o Escobar. Cortês fora
previamente convencido que, no mundo da bola, o crítico é mais importante que o
artista e estava grato por se lembrarem dele. Sentia-se prestigiado pelo homem
da telinha.
Até entendo que o temor de serem
avacalhados por comentaristas e palpiteiros leve os jogadores menos sagazes à
subserviência. A verdadeira campanha de achincalhe que Renato Maurício Prado
promoveu contra Obina e, depois que o bahiano foi embora, transferiu para
Deivid, foi de dar medo. Entre risotas, o comentarista que mais ri das próprias
piadas, pôs no imaginário do torcedor que ambos os jogadores eram grandes
engodos, e quem os contratasse faria papel de tolo. Nossos dirigentes, que
demitem treinadores por que as organizadas fazem campanha nas redes sociais,
são presas fáceis desse tipo de comentário que pode fechar portas para um
atleta.
Acontece que nem sequer a
subserviência à poderosa Globo garante imunidade contra as maldades
irresponsáveis de jornalistas-capacho que a emissora tem em sua folha de
pagamento. O elogio tem de ser mendigado diariamente já que a crítica isenta é
tão rara quanto à inteligência na crônica esportiva. Uma negativa de entrevista
pode resultar numa avalanche de avaliações negativas sobre as condições
técnicas e físicas do boleiro.
Mesmo os fatos não são
suficientes para aplacar a crítica corrosiva. Quando Renato Maurício Prado mais
se empenhava em
achincalhar Deivid , que andava perdendo gols, o flamenguista
era, entre os atacantes dos times cariocas, o que mais havia balançado as redes
até aquele momento do Campeonato Brasileiro do ano passado.
Não me surpreenderá se a partir
de agora os analistas da Globo comecem a ver defeitos indesculpáveis no futebol
de Herrera. Talvez ressuscitem seu apelido argentino de “casi gol”, esquecido
devido à eficiência que tem mostrado o atacante.
Torço para que Herrera meta mais três no
próximo jogo do Botafogo que a Globo transmitir. Se isso acontecer, o que farão os repórteres de campo? Vão insistir com a estória da musiquinha pro Fantástico? Vão fingir que nada aconteceu? Herrera terá sido convencido pelos dirigentes pragmáticos e idiotas a participar da celebração da imbecilidade? Já veremos.
P.S - O título dessa postagem eu copiei do blog Futebol em debate do meu amigo Marcus Penchel.
P.S - O título dessa postagem eu copiei do blog Futebol em debate do meu amigo Marcus Penchel.
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