Uma das poucas pretensões que
cultivo na vida está a de ser um brasileiro típico. Isso porque me identifico com todos os
defeitos e qualidades de nosso povo. Quais? Não saberia dizer. Na verdade não
sei distinguir o que é uma coisa ou outra. Por exemplo: a simpatia. Não o fato
de sermos simpáticos aos outros povos ou não. Refiro-me ao sentimento. Sentir
simpatia é um atributo do brasileiro. Seria este atributo bom ou mau? Defeito
ou qualidade? Não sei. Ademais que dele se desdobra a antipatia e a empatia.
A simpatia e seu reverso podem
ser fatores de distorção da razão quando, baseados exclusivamente nelas,
fazemos o julgamento de pessoas e fatos. Mesmo a vertente que nos soa, como
brasileiros, inequivocamente boa, a empatia, tem seu lado obscuro quando com
nossos muitos defeitos nos colocamos no lugar de outros defeituosos,
perdoando-lhes muitas vezes atos que seriam imperdoáveis para quem tem o
espírito mais puro ou maior quilate de raciocínio.
Mas o que vou fazer? Sou levado
por simpatias. Uma fisionomia agradável, uma voz bem modulada, uns olhos
derramados, me levam a sentir uma proximidade com a pessoa que possui esses
dons naturais ou cultivados. Acho que mesmo com a mulher amada com quem depois
caminhamos todos os caminhos, a simpatia veio antes do afeto, da paixão, do
desejo.
Acontece que nem sempre, ou
quase nunca, podemos pôr a prova nossas emoções primeiras. No nosso mundo de
imagens alimentamos sentimentos por quem jamais conhecemos ou conheceremos.
Vemos as pessoas na televisão, escutamos seus pensamentos expostos de improviso
em entrevistas, colhemos seu sorriso de alegria ou seu esgar de desprezo detrás
de uma tela e fazemos julgamentos. No meu caso, por simpatias.
Tenho certeza que perco mais do
que ganho usando de critério tão pueril, mas como disse, sou um brasileiro
típico que acredita nos instintos mais que no estudo da personalidade e que tem
por dístico a frase:_”Esse, nunca me enganou”
O engraçado é que em política
esse modo de julgar por simpatias tem-se mostrado eficaz, pelo menos, para mim.
Contrariando as entranhas, já tentei suportar José Dirceu, Marta e Eduardo
Suplicy, Lupi e outros, e só desisti quando os fatos confirmaram as antipatias.
Mas tem o Gurgel. Desde que
assumiu a Procuradoria Geral da República, o tenho visto nas sessões do
Supremo. Sua gorducha figura, sua voz pausada, seus pareceres claros, fizeram
com que eu simpatizasse com ele. Não digo que o convidaria para umas cervejas,
Gurgel não parece ser homem que pare para uma gelada, mas certamente o
cumprimentaria no elevador.
Agora aparece o caso da Operação
Vegas e sinto que meu critério de julgar por simpatias está enferrujando. O que
se diz sobre o comportamento do Procurador, é grave. Acusam-no de sentar-se
sobre o trabalho feito pela Polícia Federal e não fazer, como é de sua
competência, as devidas denúncias, junto ao Supremo, do envolvimento de políticos
citados nas investigações. Sua esposa, a subprocuradora Cláudia Sampaio, agindo
sob seu comando, teria também arquivado processos referentes à Operação Vegas,
segundo ela, por pedido da própria Polícia Federal. A PF desmente, em nota, tal
pedido. Gurgel, que recusou convite para depor na CPI, vai agora prestar
informações por escrito.
Como simpatia é quase amor,
tento defender o Procurador e Senhora junto à corte dos meus botões. Segundo
noticiou o “Congresso em foco”, o casal teria arquivado 30 processos contra
políticos nos últimos 4 anos. O número não me assusta, afinal 7,5 processos por
ano não é lá grande coisa. Existem muitas denúncias que redundam em processos
que tem óbvia motivação política. Basta lembrar o caso do simpático senador
Capiberibe que acumulou processos movidos por seus adversários no Amapá quando
governava aquele estado. Muitos desses processos, que correram no Tribunal de
Justiça do Amapá, eram totalmente ridículos e foram parar nos arquivos com
justa razão. Além do mais, nossa classe política adora usar dos meios legais
como forma de vingança pessoal e para paralisar medidas, muitas vezes
saneadoras, de seus adversários no poder. O Procurador fala em revide dos mensaleiros que serão julgados esse ano e que tentam desacreditá-lo. Ainda assim o casal Gurgel precisa se
explicar.
Do outro lado da moeda está o Senador
Fernando Collor de Merda por quem nutro a mais pura das antipatias desde antes
de sua posse como presidente.
Na última reunião da CPI, Collor
bateu-se pela convocação do jornalista Policarpo Júnior para prestar depoimento
na comissão. Teve verdadeiros chiliques de menino mimado por não ter seu
requerimento acolhido pela mesa. Claro que sua
fantasia de caçador de marajás já não é tão vistosa como antes. O tempo
fez-lhe estragos e pelos buracos que as traças deixaram, vê-se a vingança, insidiosa
e urgente. Em sua mente infantil, Collor crê que a imprensa foi culpada pela
sua renúncia, não seus malfeitos. Agora quer vingar-se. Quanto ao mérito do
requerimento, ainda que me retorçam as tripas ao admiti-lo, Collor tem razão. Policarpo
através de sua revista, possibilitou que a quadrilha de Cachoeira pudesse
eliminar a concorrência e instalar em postos chaves gente de sua confiança. Os
furos de reportagem obtidos por “Veja” durante o período em que teve Carlinhos
Cachoeira como fonte, nada mais são que a estória da ascensão do contraventor.
Contrapondo-se a Collor, a
Senadora Kátia Abreu viu no requerimento uma tentativa de cerceamento da
liberdade de imprensa. A antipática porta voz do latifúndio disse que o
jornalista deve buscar a informação nem que seja no inferno. Como se vê o critério
de ética jornalística da Senadora precisa de reparos.
Também merece reparos o sítio
informativo Carta Maior que ao referir-se a Kátia Abreu chamou-a de “musa da
bancada ruralista”. Ora, sei que não posso falar em nome dos proprietários das
capitanias hereditárias, mas tenho certeza que eles devem pensar que uma
cabritinha jeitosa ou uma bezerrinha simpática é mais musa ruralista que a
Senadora do Tocantins.
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