sábado, 19 de maio de 2012

Simpatia é quase amor.







Uma das poucas pretensões que cultivo na vida está a de ser um brasileiro típico.  Isso porque me identifico com todos os defeitos e qualidades de nosso povo. Quais? Não saberia dizer. Na verdade não sei distinguir o que é uma coisa ou outra. Por exemplo: a simpatia. Não o fato de sermos simpáticos aos outros povos ou não. Refiro-me ao sentimento. Sentir simpatia é um atributo do brasileiro. Seria este atributo bom ou mau? Defeito ou qualidade? Não sei. Ademais que dele se desdobra a antipatia e a empatia.
A simpatia e seu reverso podem ser fatores de distorção da razão quando, baseados exclusivamente nelas, fazemos o julgamento de pessoas e fatos. Mesmo a vertente que nos soa, como brasileiros, inequivocamente boa, a empatia, tem seu lado obscuro quando com nossos muitos defeitos nos colocamos no lugar de outros defeituosos, perdoando-lhes muitas vezes atos que seriam imperdoáveis para quem tem o espírito mais puro ou maior quilate de raciocínio.
Mas o que vou fazer? Sou levado por simpatias. Uma fisionomia agradável, uma voz bem modulada, uns olhos derramados, me levam a sentir uma proximidade com a pessoa que possui esses dons naturais ou cultivados. Acho que mesmo com a mulher amada com quem depois caminhamos todos os caminhos, a simpatia veio antes do afeto, da paixão, do desejo.
Acontece que nem sempre, ou quase nunca, podemos pôr a prova nossas emoções primeiras. No nosso mundo de imagens alimentamos sentimentos por quem jamais conhecemos ou conheceremos. Vemos as pessoas na televisão, escutamos seus pensamentos expostos de improviso em entrevistas, colhemos seu sorriso de alegria ou seu esgar de desprezo detrás de uma tela e fazemos julgamentos. No meu caso, por simpatias.
Tenho certeza que perco mais do que ganho usando de critério tão pueril, mas como disse, sou um brasileiro típico que acredita nos instintos mais que no estudo da personalidade e que tem por dístico a frase:_”Esse, nunca me enganou”
O engraçado é que em política esse modo de julgar por simpatias tem-se mostrado eficaz, pelo menos, para mim. Contrariando as entranhas, já tentei suportar José Dirceu, Marta e Eduardo Suplicy, Lupi e outros, e só desisti quando os fatos confirmaram as antipatias.
Mas tem o Gurgel. Desde que assumiu a Procuradoria Geral da República, o tenho visto nas sessões do Supremo. Sua gorducha figura, sua voz pausada, seus pareceres claros, fizeram com que eu simpatizasse com ele. Não digo que o convidaria para umas cervejas, Gurgel não parece ser homem que pare para uma gelada, mas certamente o cumprimentaria no elevador.
Agora aparece o caso da Operação Vegas e sinto que meu critério de julgar por simpatias está enferrujando. O que se diz sobre o comportamento do Procurador, é grave. Acusam-no de sentar-se sobre o trabalho feito pela Polícia Federal e não fazer, como é de sua competência, as devidas denúncias, junto ao Supremo, do envolvimento de políticos citados nas investigações. Sua esposa, a subprocuradora Cláudia Sampaio, agindo sob seu comando, teria também arquivado processos referentes à Operação Vegas, segundo ela, por pedido da própria Polícia Federal. A PF desmente, em nota, tal pedido. Gurgel, que recusou convite para depor na CPI, vai agora prestar informações por escrito.
Como simpatia é quase amor, tento defender o Procurador e Senhora junto à corte dos meus botões. Segundo noticiou o “Congresso em foco”, o casal teria arquivado 30 processos contra políticos nos últimos 4 anos. O número não me assusta, afinal 7,5 processos por ano não é lá grande coisa. Existem muitas denúncias que redundam em processos que tem óbvia motivação política. Basta lembrar o caso do simpático senador Capiberibe que acumulou processos movidos por seus adversários no Amapá quando governava aquele estado. Muitos desses processos, que correram no Tribunal de Justiça do Amapá, eram totalmente ridículos e foram parar nos arquivos com justa razão. Além do mais, nossa classe política adora usar dos meios legais como forma de vingança pessoal e para paralisar medidas, muitas vezes saneadoras, de seus adversários no poder. O Procurador fala em revide dos mensaleiros que serão julgados esse ano e que tentam desacreditá-lo.  Ainda assim o casal Gurgel precisa se explicar.
Do outro lado da moeda está o Senador Fernando Collor de Merda por quem nutro a mais pura das antipatias desde antes de sua posse como presidente.
Na última reunião da CPI, Collor bateu-se pela convocação do jornalista Policarpo Júnior para prestar depoimento na comissão. Teve verdadeiros chiliques de menino mimado por não ter seu requerimento acolhido pela mesa. Claro que sua  fantasia de caçador de marajás já não é tão vistosa como antes. O tempo fez-lhe estragos e pelos buracos que as traças deixaram, vê-se a vingança, insidiosa e urgente. Em sua mente infantil, Collor crê que a imprensa foi culpada pela sua renúncia, não seus malfeitos. Agora quer vingar-se. Quanto ao mérito do requerimento, ainda que me retorçam as tripas ao admiti-lo, Collor tem razão. Policarpo através de sua revista, possibilitou que a quadrilha de Cachoeira pudesse eliminar a concorrência e instalar em postos chaves gente de sua confiança. Os furos de reportagem obtidos por “Veja” durante o período em que teve Carlinhos Cachoeira como fonte, nada mais são que a estória da ascensão do contraventor.
Contrapondo-se a Collor, a Senadora Kátia Abreu viu no requerimento uma tentativa de cerceamento da liberdade de imprensa. A antipática porta voz do latifúndio disse que o jornalista deve buscar a informação nem que seja no inferno. Como se vê o critério de ética jornalística da Senadora precisa de reparos.
Também merece reparos o sítio informativo Carta Maior que ao referir-se a Kátia Abreu chamou-a de “musa da bancada ruralista”. Ora, sei que não posso falar em nome dos proprietários das capitanias hereditárias, mas tenho certeza que eles devem pensar que uma cabritinha jeitosa ou uma bezerrinha simpática é mais musa ruralista que a Senadora do Tocantins.
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário