segunda-feira, 21 de maio de 2012

Uma CPI só de mentiras







Que os políticos mentem, é fato notório. Não só no Brasil, como pensam alguns brasileiros. Os políticos mentem em todos os quadrantes, em todas as línguas, com todos os sotaques. Há os que mentem sempre e outros que se adaptam ao mundo das mentiras. Mentem para chegar à verdade, mentem para perpetuar-se no poder. Mentem.
Quando acossados por uma investigação, vão além; mentem, choram e falam dos filhos. Isso todos sabemos e portanto já estávamos preparados para um festival de falsidades que viria no curso da CPI do Cachoeira.
O que, pelo menos eu, não esperava é que nessa comissão de inquérito todos mentissem. Não apenas seu réu único, Carlinhos Cachoeira, mas também os que investigam, os que atacam, os que defendem, os que comandam e os que obedecem.
Mesmo antes de ser convocada a CPI, Demóstenes subiu à tribuna do Senado e mentiu negando Cachoeira mais que Pedro a Cristo. No Conselho de ética segue mentindo e certamente mentirá quando depuser na comissão. É sua estratégia de defesa, comprovadamente eficaz em outros casos da mesma ordem. Não lhe cabe outra, qualquer verdade que pronuncie o levará às barras dos tribunais. Do jeito que está levando, virá a cassação e nada mais. Daqui alguns anos, poderá, como Collor e Alceni Guerra, bater no peito e mostrar atestado de inocência. Muitos dos que hoje o acusam, estarão em situação semelhante a que ele se encontra hoje. Assim como outros, que ele acusou no passado recente, são agora seus juizes
Já no primeiro dia da CPI, quando se debatia sobre os requerimentos a serem votados, a mentira mais deslavada tomou conta da comissão. Os convocados para depor foram pinçados com o claro intuito de sacrificar o menor número possível de figurões, de poupar-lhes o vexame público de desmentir o que disseram quando foram gravados em animadas conversas pelo telefone e, depois dos vazamentos, ouvidos por milhões de brasileiros no horário nobre da TV.
Aqui  também está outra mentira. De acordo com o interesse de cada meio de comunicação os vazamentos foram filtrados antes de serem mostrados aos telespectadores e leitores. Na Globo pouco se falou de Policarpo e suas mais de 200 ligações para Cachoeira. Em editorial, o jornal dos Marinho afirmou que Civita não é Murdock como “Carta Capital” publicou em notícia de capa. A revista de Mino Carta é quase que a única publicação a defender a convocação de Policarpo Júnior para depor na CPI. Comparando o dono da Editora Abril com o magnata dos tablóides ingleses, tenta mostrar que tipo de jornalismo está sendo feito entre nós.
Em outra publicação do ítalo-jornalista, a Carta Maior, está num texto sobre a última reunião da CPI, que a polêmica sobre a convocação de Policarpo Júnior para depor está aberta, “com a oposição querendo blindar a grande mídia e o governo insistindo que a CPI investigue todos os envolvidos”. A afirmação é de Najla Passos que assina a matéria.
Ainda que vejamos o relator da comissão de inquérito, que é do PT, rejeitar qualquer tentativa de convocar-se Cavendish ou quebrar o sigilo bancário e fiscal da Delta fora do centro-oeste, a jornalista afirma que o governo quer investigar todos os envolvidos. Esta talvez seja a grande novidade dessa CPI, a imprensa está mentindo mais que os políticos. Quase não há espaço para que os profissionais da farsa atuem.
Em outro episódio, quando foi feito um “puxadinho” para que os parlamentares pudessem ter acesso a documentos que estão sob segredo de justiça, Eliane Catanhede, em comentário para a Globo News, falou que estavam escondendo as informações, como se o segredo de justiça fosse determinado pela comissão, como se aquele fato fosse algo anormal numa investigação. Embora Catanhede nem de longe possa ser levada a sério como jornalista, me recuso a crer que ela possa ser tão burra. O segredo de justiça é instrumento legal que existe em qualquer lugar onde vigore o estado de direito. Sua finalidade não é esconder os fatos da população, mas evitar que as investigações sejam prejudicadas. Claro que todos aqueles que cometem crimes de colarinho branco, usam desse e outros artifícios para esconderem-se do julgamento público. A cheirosa jornalista não desconhece os ritos processuais, está apenas a serviço dos interesses da grande imprensa para quem presta serviço.
As "famiglias" da informação tratam de blindar Policarpo Júnior falando em cerceamento à liberdade de imprensa, enquanto quem o acusa e quer vê-lo depondo, é Fernando Collor de Merda, o filho de Geppeto. O engraçado é que “Carta maior” comentando as intervenções de Collor na CPI e sua tentativa de aprovar um requerimento para que Policarpo deponha, cita-o como se tratasse de alguém que preste. Sem aspas nem restrições. Mas tem pior.
Na última sexta-feira um cinegrafista do SBT virou sua lente para o celular do Deputado Vaccarezza  do PT que trocava mensagens de texto com o governador Sérgio Cabral Filho, amigo íntimo de Cavendish. No texto, diz Vaccarezza:_ “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic). Flagrado, Vaccarezza não desmentiu, disse apenas que era uma troca de mensagens entre amigos. Nem precisava dizer. A assessoria do Governador não havia comentado o episódio até o momento em que escrevo. Melhor assim, pois vindo do Palácio Guanabara, qualquer comentário serviria apenas para aumentar o rol das mentiras. É de praxe. Por sua vez, Vaccarezza soltou nota negando que haja blindagem de quem quer que seja e que Cabral está acima de qualquer suspeita pois não foi citado nas conversas de Cachoeira.
Dessa vez “Carta maior” preferiu a omissão e em sua página o assunto não existe. Nem a filmagem do SBT nem a nota do Deputado O sítio informativo assim entra de vez no clima da CPI para a qual não existem as imagens de Sérgio Cabral Filho em Paris ao lado de Cavendish comemorando o aniversário da mulher, não existem os contratos milionários do Governo do Estado do Rio com a Delta, não existem as gravações dos telefonemas de Cachoeira para Perillo e deste para o contraventor, não existem as mais de 200 citações do nome do Governador de Goiás nas conversas mantidas entre Carlinhos Cachoeira e seus asseclas, não existe nada suspeito nos contratos das empresas de Cachoeira com o Governo do Distrito Federal. Como nada disso existe, a convocação dos governadores para depor não se faz necessária. Segundo informa “Carta maior”, a convocação foi “sobrestada” e será tema para a próxima reunião administrativa. O eufemismo chega a ser cômico.
A diferença entre a imprensa de direita e a outra, que se diz de esquerda, é que a primeira sacrifica logo alguns bois pras piranhas para evitar perdas maiores entre seus sócios, enquanto “Carta maior” e outros sítios informativos alinhados com o governo tentam salvar as aparências e não dizem claramente que políticos de todos os partidões comeram na mão de Cachoeira.
É quase certo que uma investigação que tivesse como alvo a Delta e não só o contraventor goiano, acabaria chegando em algum ministério, e não só dos que foram loteados, mas, possivelmente, alguma pasta administrada pelo PT. É o que espera a imprensa golpista e a oposição sem discurso. Mas se aquela ainda nutre esperança de fazer o enorme escândalo roçar a figura da Presidenta Dilma, a oposição de direita já se divide de acordo com interesses inconfessáveis. Na última quinta-feira, isso ficou claro quando os deputados Francisquini e Carlos Sampaio apoiaram as decisões do presidente da CPI, Senador Vital do Rego, que insiste em não quebrar o sigilo fiscal da Delta em todo país e deixar para depois uma possível convocação de governadores, os senadores Álvaro Dias e Cássio Cunha Lima votaram contra. A discórdia entre os tucanos surpreendeu até gente da base aliada.
A divisão da oposição não tem como base nenhuma questão ética. Trata-se apenas de senso de oportunidade; uns achando que é melhor ir devagar e com cautela enquanto outros ainda tentem se cacifar melhor para o acordão que, pelo andar da carruagem, parece inevitável.



  


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