terça-feira, 19 de junho de 2012

Nelson Rodrigues e o bicampeonato







Faz cinqüenta anos que o Brasil conquistou, no Chile, o bicampeonato mundial de futebol. A data redonda e quase na véspera do país realizar uma copa do mundo merecia uma grande comemoração com foguetório, banda de música e coro infantil. Não houve.
 A entidade máxima do futebol brasileiro anda atarefada com construções de estádios e tantos são os zeros envolvidos nos negócios que não sobra tempo para nada. Nossas TVs estão muito envolvidas com a Eurocopa para se ocupar do assunto. Uma entrevista aqui, uma fotografia ali e já está de bom tamanho. Para que relembrar Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo e Zito se podem falar de Polsen, Van Der Var, Busquets?
No domingo, eu queria escrever sobre a conquista histórica mas meu neto passou todo o dia no computador com seus joguinhos. Deixei para a segunda-feira, mas nesse dia, logo pela manhã, escutei num programa esportivo, que se dignou a lembrar da data, uma crônica que Nelson Rodrigues escreveu sobre nossa vitória em gramados chilenos.
Embora já tenha passado da idade de me acanhar, me acanhei. Nelson já dissera tudo sobre aquela copa, e de maneira tão brilhante, que uma vírgula mais sobre o tema correria o risco do ridículo, do postiço. Eu, que já lera a crônica em outros tempos, fui novamente tocado pela beleza, pela eloqüência, pela ênfase que Nelson Rodrigues pôs na descrição daquela epopéia.
De tudo que lá está, e coube num curto artigo de jornal, ficou-me uma frase, ou melhor uma concepção que tem tudo de Nelson Rodrigues. Dizia ele que aquele bicampeonato era uma conquista do homem brasileiro.
Os idiotas da objetividade que se mudaram pro facebook e os que continuam infestando as redações, adoram relacionar o futebol com o que eles chamam de apatia do brasileiro com relação às mazelas do país. Nada mais falso, nada mais falacioso. Os ruins da cabeça e doentes do pé também gostam de pichar o carnaval. Pelo mesmo e falso motivo.
Com o avanço dos meios de comunicação e a facilidade para se escrever besteira para muitos, (olha eu aqui) esses chatos de galocha vão se transformando em idiotas da subjetividade. Não por apregoá-la , mas por desconhecê-la.  Jamais entenderão nossas Joanas D’Arc dos subúrbios, nossos reis bêbados de sarjeta, nossos Napoleões retintos. Mas com suas crônicas, Nelson Rodrigues os pôs no mundo, no imaginário brasileiro.
           Cronista da vida como ela é, Nelson Rodrigues viu em nós o analfabetismo genial, viu em cada jogador de futebol, em cada passista, em cada costureira, a imagem vitoriosa do sobrevivente. Considerado reacionário, revolucionou o teatro. Conservador, foi a vítima favorita da censura. Sua visão de mundo horrorizava a esquerda, suas peças escandalizaram a burguesia. 
Nesse ano que comemoramos o cinqüentenário do bicampeonato do Chile também festejamos o centenário de Nelson Rodrigues e coube à Escola de samba Viradouro inaugurar as homenagens com seu samba de enredo. Durante todo o ano, peças do autor serão encenadas. São dezessete obras nesse gênero. Não soube nada sobre relançamento de sua obra em livro mas deve ser falta de informação de minha parte.
Espero que a televisão dê ao centenário de Nelson Rodrigues um pouco mais de atenção do que a que foi dispensada ao cinqüentenário do bicampeonato. A Globo já produziu uma ótima “Engraçadinha” e “A vida como ela é” teve um tratamento muito adequado com grandes atores e diretores. É hora de reprisá-las.





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