Depois das oitivas dos
governadores na CPI do Cachoeira, estou pensando em transferir meu domicílio
eleitoral para Brasília ou Goiás. Os senhores governadores não só me
convenceram de sua inocência como também provaram que são ótimos gestores
públicos. Ambos receberam governos falidos e cheios de irregularidades
administrativas. Ambos sanearam as finanças e transformaram gigantescas dívidas
em superávit.
Encheram os cofres das unidades federativas governadas por
eles. Economizaram milhões do erário promovendo uma disciplina de gastos poucas
vezes vista. Combateram desmandos herdados de administrações anteriores,
moralizaram a coisa pública e viraram exemplo de gestão para seus partidos.
Tudo fizeram para o bem de seus
concidadãos sem descurar da família. Ambos fizeram transações imobiliárias para
assegurar o futuro dos seus. Foram aplaudidos por correligionários e deles
receberam palavras de elogio e incentivo para que perseverem na dura missão de transformar a gestão pública. Estou certo de ter ouvido dois dos mais
brilhantes administradores do país, quiçá do mundo. Agora temo que sejam
cooptados por alguma nação européia em crise para solucionar os problemas do velho
continente.
Mas nem tudo que ouvi dos
governadores me trouxe contentamento. Descobri um homem solitário e me
compadeci. Refiro-me ao empresário de jogos conhecido pela alcunha de Carlinhos
Cachoeira.
Embora viva na metrópole de
Goiânia, ninguém o conhece. Não sabem de sua atividade empresarial e se o
governador Perillo vai ao seu prédio é para visitar outros apartamentos, nunca
o seu. Todos os que depõem na CPI ou no Conselho de Ética, só estiveram com ele
uma, no máximo duas vezes e mesmo assim por casualidade. Parece não ter vida
social o bem sucedido empresário. Quem sabe lhe falte o dom da simpatia. Quando
o governador de seu estado lhe telefona para desejar-lhe feliz aniversário, é
apenas um ato protocolar pois faz o mesmo com todos os aniversariantes de
Goiás. E olha que o homem presenteia. Na certa no afã de conquistar amizades.
Os telefones que gentilmente regalou são na verdade um pedido de socorro para
que o salvem da terrível solidão. Sua mudez na comissão de inquérito talvez
seja um sintoma da falta de costume de falar frente a frente com outras
pessoas.
Mas acho que vou aguardar até
depois das eleições para a transferência do título de eleitor para o
centro-oeste. Digo isso porque durante as campanhas eleitorais para as
prefeituras, hei de duvidar. Foi assim na eleição municipal passada quando
assisti a propaganda do prefeito Kassab que tentava a reeleição. Pude ver no
programa eleitoral daquele prócer que a maior cidade do país não é só maior em
população, parque industrial, renda per capita e oportunidades, não. São Paulo
é um modelo de saúde, saneamento, educação e segurança pública de causar inveja
ao primeiro mundo. Tem remédio de graça que é entregue em casa, escolas que
parecem a Dineylandia, hospitais limpos e bem equipados onde todo mundo sorri.
Sorri a enfermeira, sorri o médico e até o moribundo sorri. Nunca havia visto
hospital tão alegre quanto o hospital do Kassab. Dá vontade de arrumar uma
doença e ir gargalhar na paulicéia.
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