Meses antes de se lançar
candidata à presidência da república, Dilma Rousseff, então no comando da casa
civil, foi convocada a prestar esclarecimentos numa comissão do senado. Num
determinado momento do depoimento de Dilma, o senador Agripino Maia, que nunca havia
passado recibo de idiota, talvez pela falta do que falar ou imputar à ministra,
cometeu uma grosseria que veio junto com uma estupidez. Agripino disse a Dilma
que ela tinha fama de mentirosa quando era interrogada pelos órgãos de
repressão da ditadura.
A Ministra, que até então mantinha
sua pose de durona e antipática, respondeu com a voz embargada ao senador, que
parecia ignorar o que acontecia nos porões do sistema que ele defendeu e no
qual atuou. Lembrou-lhe Dima, que diante da tortura o ato digno é mentir.
Mentir para não entregar companheiros ao suplício. Mentir para não comprometer
a causa pela qual se luta. Mentir para combater. Nesse momento Dilma se tornou
mais humana pelo choro que a garganta conseguiu prender, pela lágrima furtiva
que seus olhos deixaram escapar. O tiro saiu pela culatra e a provocação do
latifundiário potiguar acabou por aproximar a ex-guerrilheira e futura
candidata à presidência, do país pelo qual ela deu seus melhores anos no
anonimato e na clandestinidade.
Depois veio a candidatura e a
luta suja nos bastidores da campanha. Do lado petista houve até fogo amigo,
vazamentos de estratégias e o diabo. Dentro do PT havia resistências ao seu
nome para encabeçar a chapa que já era possível ver como vitoriosa, devido a
grande aceitação popular do Presidente Lula.
Em plena campanha, Dilma
descobre que está com câncer e inicia o tratamento. A gentalha da grande
imprensa, começou a insinuar que a candidata estava usando da doença para
angariar votos. Da insinuação passou-se a afirmação. Dilma não retrucou a
vilania. Manteve-se impávida, dura, digna.
Durante os meses que antecederam
as eleições, seu oponente fez o jogo mesquinho tão ao gosto dos que o apoiavam
e muito distante da imagem de ex-líder estudantil e democrata autêntico com que
ele enganara meio Brasil durante tantos anos. Ao aproximar-se a derrota
anunciada, Serra deixou de lado os últimos escrúpulos e lançou mão do que havia
em seu já minguado paiol de mentiras ainda não usadas e atacou Dilma como só um
desesperado poderia fazer.
Pois bem, durante toda a
campanha eleitoral Dilma não citou em nenhum momento sua prisão e tortura nos
porões da ditadura, jamais revelou seu sofrimento físico e moral. Não mencionou
seus padecimentos para trazer para si simpatias ou compaixão. Não fez de sua
dor um degrau. Mais uma vez Dilma foi digna.
Hoje, com o início dos trabalhos
da Comissão da verdade é que vamos aos poucos nos inteirando dos detalhes de
sua prisão. Do dente perdido numa sessão de espancamento, do dia em que chorou
temendo pela esterilidade que um forte sangramento, provocado por torturas,
fazia supor. De sua via crucis por prisões de três estados.
Do inferno onde jogaram aquela
menina, saiu a mulher que hoje governa o país.
Dilma não é carismática como seu
antecessor. Não faz discursos empolgantes. Nem de longe é considerada
simpática. Sem embargo, seu governo tem índices de aprovação que nem o freio
puxado da economia faz baixar, pelo contrário.
Dilma é a prova viva
de que o que importa é a dignidade.
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