Semana passada, saiu o resultado do ENEM. Deu o que todos já
esperavam: apenas 10 escolas públicas estão entre as 100 com melhores notas.
Apenas 1 entre as 10 primeiras. Também, como era de se esperar, veio uma desculpa
esfarrapada do Ministério da Educação. Mas
dessa vez, Aluísio Mercadante resolveu inovar.
Como todos sabem, Mercadante, que é economista, dormiu
ciência e tecnologia e, depois de uma reparadora noite de sono, acordou
educação. Numa de suas primeiras falas,
já empossado na nova pasta, Mercadante fez uma apologia dos “tablets” que,
segundo sua visão, substituirão os livros de papel nas nossas escolas públicas
com grande ganho e economia de verbas. Claro, o homem ainda estava de ressaca
da ciência e tecnologia. Passou o tempo, e nossos meninos nada viram de “tablets”.
Paciência. Um dia eles estarão em todas as escolas públicas do país para gáudio
de seus fabricantes, e Mercadante entrará para a história como inventor da
modernidade.
Mas como ia dizendo, Mercadante resolveu inovar nas desculpas
que sempre são dadas depois da constatação anual que nosso ensino público anda
entregue às traças. Disse o Ministro que a superioridade de resultados no Exame Nacional do Ensino Médio, das escolas privadas sobre as públicas, está no fato
das escolas particulares selecionarem seus alunos e as públicas serem escolas
de portas abertas, escola para todos.
Confesso que tive de esperar o jornal da noite para
corroborar o que pensava haver escutado. Batata. O Ministro dissera aquilo mesmo.
Temi estar totalmente desatualizado
sobre os fatos da educação do Brasil. Teriam acabado os exames de seleção para
entrar no Pedro II do Rio, no Colégio Estadual de Belo Horizonte, nos colégios
de aplicação das universidades federais e estaduais? Esses centros de educação, antes tão
disputados, estariam hoje com as portas abertas para todos? E as escolas técnicas? Também disporiam de
tantas vagas excedentes?
Assim como o Ministro, essa noite fui dormir pensando na
educação. Mas não acordei ministro da ciência e tecnologia ou da pesca, nem
sequer secretário de parques e jardins. A manhã, que não me transformara em conhecedor
das coisas da administração, me trouxe apenas uma convicção: o Ministro
mentira. Sim, pois todas as escolas públicas do ensino médio que antes eram
referência de qualidade na educação, continuam selecionando seus alunos. Há sim
exames de ingresso. Não há vagas para todos. Entram os melhores. Mas ainda
assim seus estudantes não conseguem competir com os alunos das escolas privadas
num teste de conhecimento. Uma exceção aqui, outra ali. Dessa vez foi o Colégio
de Aplicação da Universidade de Viçosa, que conseguiu intrometer-se entre os 10
de melhor desempenho.
Numa outra parte de sua fala, Mercadante, para não mentir
mais e ser apenas incoerente, disse que os alunos que pertencem a essas escolas
públicas que selecionam seus estudantes, têm média superior aos alunos do
ensino privado. Então, por que não há nenhuma outra entre as 10 melhores? Como
economista, nosso Ministro da Educação prefere falar de médias e percentuais e,
é claro, também vai promover um seminário sobre educação.
O ENEM, assim como seu congênere para o ensino universitário, deveria servir para que o governo conhecesse suas falhas e
apontasse soluções para o problema, cada vez mais grave, da educação no Brasil.
Mas não é isso o que vemos. Após cada ano, após cada constatação que o ensino
público brasileiro vai de mal a pior, vemos as autoridades dando as mais
deslavadas desculpas ou, como é o caso de agora, mentindo.
Fosse um aluno que desse uma resposta tão absurda sobre uma
questão, estaria reprovado. Com Mercadante, o máximo que pode acontecer é, um
dia desses, dormir educação e acordar presidente da Petrobrás.
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