quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A solidariedade de José Dirceu




                Quando acreditamos que já vimos e ouvimos de tudo de nossos políticos, vem mais uma. Dessa vez quem nos surpreendeu foi o Czar José Dirceu. Bem, surpreendeu alguns de nós.
                Zé Dirceu sempre me pareceu um cínico profissional. Em seus comentários sobre o processo do mensalão, isso ficou mais que evidente. Jurou de pé junto que nada sabia dos repasses milionários feitos pelo PT aos partidos de aluguel, muito embora sendo Ministro da Casa Civil, uma de suas atribuições fosse a articulação política do governo. Ele quis nos fazer crer que desde o momento em que entrou para a Casa Civil, se desligou das atividades partidárias e que o acaso foi o responsável pelo emprego que sua ex-mulher conseguiu no BMG, um dos bancos envolvidos no escândalo. O mesmo se passou quanto ao papagaio que a ex levantou no Banco Rural. Tudo fruto do acaso. Inclusive a venda de seu apartamento para Rogério Tolentino, advogado e sócio de Marcus Valério, foi obra da divina providência. Dirceu não sabia de nada. Sua ex-senhora mudou o depoimento que dera no início das investigações, e passou a corroborar a versão de que o ex-ministro e ex-marido fora o último a saber.
                Com tudo isso constando nos autos da Ação Penal 470, Dirceu e muitos petistas continuam dizendo que nada foi provado no curso do processo. No caso do ex-ministro, se entende, afinal é do direito negar para defender-se, até que não seja esgotada a última apelação. Quanto aos filiados e simpatizantes do PT, que não vêem o óbvio, não me ocorre nenhuma explicação.
                Mas agora José Dirceu passou dos limites. Ao falar sobre a eleição de Renan Calheiros, disse o ex-ministro, que o Senador alagoano é vítima de “campanha moralista e udenista” e que as manifestações de repúdio à Renan são uma “intervenção de grupos organizados” cuja intenção é “dividir a base de apoio ao governo”. Assim como em seu próprio caso, Dirceu tenta nos provar que o que vimos, nunca existiu.
                Cada vez mais, o discurso dos petistas vai se tornando idêntico ao daqueles que o Partido dos Trabalhadores combatia no passado. Se a TV mostra uma imagem comprometedora, acusa-se a imprensa pela divulgação disso e não daquilo. Se alguém é filmado recebendo propina, questiona-se a ação do araponga. Se o tribunal condena, deveria antes ter condenado outros.  Quando todos os expedientes da embromação estão esgotados, diz-se que nada foi provado. E se foi provado, ainda cabe recurso.
                Apoiado por esmagadora maioria na Câmara, e com certa folga no Senado, o governo e líderes do PT, como José Dirceu, acham que já podem tudo. Até agora conseguiram lidar com os escândalos dentro do governo, com a chantagem dos partidos de aluguel e com o fisiologismo de seus apoiadores. Daí,  não fazerem como faz a imprensa que os apóia e silenciar sobre a eleição dessa excrescência política que é Renan Calheiros. Não. José Dirceu sai em sua defesa e diz que o homem das Alagoas está sendo perseguido por “campanha midiática”.
                Não creio que esse episódio venha causar prejuízos eleitorais ao PT. Se Lula se reelegeu quando o mensalão estava ainda fresco e os depoimentos, na CPI dos Correios, de gente como Silvinho “Land Rover” Pereira ainda ecoavam, não será o apoio dado à Renan que irá prejudicar o Partido dos Trabalhadores nas urnas.
                O maior problema que o partido da Presidenta Dilma deverá enfrentar, é o que hoje faz o governo e suas lideranças tão soberbos: a base de sustentação.
                Numerosa, heterogênea, volúvel e ligada a interesses regionais, a base aliada é o ovo da serpente que mora no seio do governo. Gente como Renan, Collor, Jucá, Sarney e outros que tais, não troca nem a camisa para passar da bajulação para o xingamento. Basta um tropeço da política econômica ou um pleito não atendido, para mudar tudo. Isso já aconteceu quando se votou o fim da CPMF. A trairagem comeu solta.
                 Renan, que hoje tem a solidariedade de José Dirceu e o silêncio cúmplice da imprensa governista, tem prática. Já traiu Collor e o PSDB. Além da mulher, claro.




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