domingo, 24 de fevereiro de 2013

Abaixo-assinado



                Já firmei abaixo-assinados com orgulho. Pela legalização do Partido Comunista do Brasil e do Partido Comunista Brasileiro, pela legalização do aborto, da maconha e vários outros. Assinei também a petição pelo plebiscito que pôs fim ao governo do General Pinochet, no Chile. Isso faz muito tempo, muito antes da era dos abaixo-assinados digitais que transitam pelas redes sociais.
                Hoje já não os assino. Não porque sejam digitais, mas por uma questão de consciência. Acanho-me em deixar minha firma ao lado das de quem não conheço os princípios nem os fins que almeja. Uma petição, por mais justa que seja, dá ensejo a que os mais variados interesses se juntem ao seu redor. Veja o caso do infame Renan Calheiros.
                Excetuando-se os 56 senadores que votaram no seu nome para presidir o Senado Federal, José Dirceu e mais alguns fanáticos que citam a governabilidade para apoiarem tal eleição, toda a sociedade está contra a permanência de Renan à frente da Câmara Alta. Todos que tomaram conhecimento dos crimes pelos quais responde perante o Supremo, querem vê-lo na cadeia. Contra sua permanência na presidência do Senado, circularam petições nas redes sociais e mais de 1 milhão e 400 mil assinaturas foram colhidas.
                Um dos proponentes da petição foi a ONG  "Rio de paz". Seu presidente é o Pastor Antônio Costa, da Igreja Presbiteriana do Brasil, Ministério Palavra Plena. Não estamos falando aqui de neopentecostais loucos por fama, dinheiro e concessões de TV. O pastor em questão pertence a uma igreja séria e imagino que seja também homem sério e preocupado com os destinos do país. Mas...
                O problema é que igreja é igreja, busca fiéis, seguidores. Quer espalhar sua doutrina, sua fé. Toda igreja coloca-se como detentora de uma única e indiscutível verdade. A Igreja Presbiteriana não é diferente. Ela tem como seu fim mais nobre, a expansão do reino de Jesus Cristo. Para esse fim, o Pastor Antônio Costa fundou e preside a Escola Teológica Reformada que prepara teologicamente, pastores, missionários e professores para a “Grande Comissão” ou seja, a tal expansão do reino de Cristo.
                Um crente, seja ele cristão, budista, hinduísta ou muçulmano, quando convicto de sua fé, quer distribuí-la pelo mundo. Dividi-la com todos, mesmo que ninguém tenha pedido para partilhar de coisa alguma. Nada mais natural para os religiosos, que destruir culturas, religiões, maneiras de pensar que não contemplem seu deus. Tudo se torna pequeno quando se tem algo tão maravilhoso para oferecer como a vida eterna. Sempre que penso nisso, lembro-me dos índios.
                Há alguns anos atrás, a Globo produziu uma série que se chamava “A muralha”. A trama se passava em São Paulo, na época da colônia, nos primórdios da colônia. São Paulo de Piratininga era uma vila miserável cujo único produto de exportação era a marmelada. Vivia-se mais do sonho do ouro e da escravização dos indígenas. Entre os personagens principais da obra, estavam dois padres da Companhia de Jesus. Tratavam de arrebanhar almas para glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.
                O que mais me chamou à atenção na novela, não foi o que mudou daqueles tempos para cá, mas sim o que permanece o mesmo: a catequese dos índios. Quase 400 anos depois do que era narrado ali, padres, pastores, missionários e bispos de araque continuam invadindo terras e culturas indígenas para lhes impor uma fé, sem a qual aqueles povos sempre viveram.
                Muitas culturas autóctones têm, nos cultos religiosos que praticam, a base de sua estrutura social. Daí emerge a autoridade, a medicina, o conhecimento que os fez sobreviventes e, principalmente os valores. Valores esses, tantas vezes, superiores aos do cristianismo.
                O Pastor Antônio Costa e sua ONG, travam o bom combate com relação a Renan Calheiros, mas querem expandir o reino de Jesus às custas de outras crenças e culturas. Ao lado de sua assinatura não aponho a minha. 

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