quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O mito das redes sociais



                Uma noite, há alguns anos atrás, eu estava fazendo o que mais gosto: estava num bar  tomando cerveja. Enquanto via as modas, escutava uns fiapos de conversas que vinham das mesas próximas. Falava-se da internet que engatinhava no Brasil.
                Um computador e, mais ainda, o acesso à rede, eram coisas muito distantes de meu bolso e de minhas cogitações. Mesmo assim fiquei assuntando e ainda guardo a impressão que me deixou aquela conversa; as pessoas pareciam enfeitiçadas pela nova tecnologia. Mais que enfeitiçadas, estavam cultivando um fetiche. A coisa já deveria ter passado, mas não. A cada dia há uma novidade no mundo digital e o fetiche continua.
                Há pouco mais de dois anos, quando vários países árabes foram sacudidos por revoltas e protestos, os meios de comunicação ocidentais, no afã de catalogar os episódios, primeiro lhes deu um nome: primavera árabe.  Depois afirmaram que todo o movimento teve como eixo principal as redes sociais. Era como se as revoltas e revoluções só se tornaram possíveis graças às redes sociais. Os fatores objetivos e subjetivos que levaram aquelas pessoas às ruas  arriscando a própria vida, não contavam. Era tudo por obra e graça das redes sociais.
                Tal afirmação demonstra o total desconhecimento que se tem da realidade vivida por aqueles povos, no ocidente. Os jornalistas enviados às pressas para cobrir tais eventos, depois de umas conversas com seus colegas locais que falam inglês e os bajulam, tiram as mais esdrúxulas conclusões dos fatos e tentam nos vender algo que pensam que estamos aptos a entender. Daí o mito das redes sociais nas revoltas árabes.
                Quando esteve no Brasil, uma militante que participou da revolta no Egito, se mostrou indignada com essa abordagem reducionista da imprensa ocidental sobre os acontecimentos em seu país.
                A história está repleta de revoltas espontâneas que sacudiram e mudaram sociedades sem contar com mais nada que não fosse a necessidade de mudanças e a vontade do povo de fazê-las. Antes de existirem as tais redes, antes mesmo de haver jornais.
                Para o efeito de mobilização das massas, as redes sociais têm menos potencial que uma rádio pirata ou um panfleto pregado no poste. Sua abrangência mundial pouco importa nos acontecimentos locais. Ninguém vai sair do Brasil ou do Nepal para se revoltar no Egito.  

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