quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez no Brasil



                 Não sei o que escreve Yoani Sánchez em seu blog. Nunca li. Sei que faz críticas ao governo cubano. Não sei se critica o modelo econômico, a falta de liberdade de expressão ou o sistema político. Sei sim, que todo governo pode, deve e merece ser criticado. Se não pensasse assim, estaria entre aqueles que fazem de líderes políticos, figuras míticas, infensas ao erro. Estaria entre os adoradores de Lula ou com os bajuladores de Dilma. Não, eu prefiro admirar a caminhada dos dois até o poder e criticar sua atuação dúbia quando lá chegaram.
                A visita de Yoani Sánchez ao Brasil, também merece críticas. Não a vinda da cubana em si, pois me parece que é algo de menor importância. A própria Yoani é figura menor no mundo político. Sua ascensão ao estrelato foi obra do próprio governo de Cuba que a impede de manifestar-se. E também, é claro, dos que fazem do anti-comunismo uma desbotada bandeira de luta.
               No Brasil, Yoani foi recebida com manifestações de repúdio por parte de ativistas do obscurantismo. Sou capaz de apostar que entre os manifestantes que apuparam a cubana, estavam os dirigentes da UNE que, dias atrás, posaram sorridentes para fotos ao lado de Renan Calheiros.
                Do outro lado do balcão, a oposição de direita, sem discurso, sem propostas e sem candidato, faz festinhas pra moça. Em sua visita à Câmara, Yoani recebeu buquê de flores das mãos do deputado populista e histriônico, Carlos Sampaio, do PSDB. Na foto do momento em que lhe é entregue a oferta floral, vemos ao fundo, na típica pose de papagaio de pirata, ninguém menos que Jair Bolsonaro, arauto da democracia, em Cuba. Em outra foto vemos a cubana dividindo uma mesa com Ronaldo Caiado, em pé atrás dela está de novo Jair Bolsonaro.
                Estará Yoani Sánchez ciente dos papéis que desempenham seus anfitriões na política brasileira? Saberá ela que Bolsonaro defende a ação dos torturadores da ditadura? Conhecerá o que representa a UDR, da qual Caiado foi presidente? Bem, burra ela não é. Talvez tenha sido tragada, sem se dar conta e por inexperiência, pela vertente mais obscura da democracia. Virou, sem perceber, o centro de uma disputa entre histéricos militantes do nada com a escória da política brasileira.
                A presença de Yoani Sánchez nas dependências do Congresso já é, pó si só, um disparate. Nossas casas legislativas deveriam abrir suas portas aos que querem debater os gigantescos problemas brasileiros e não as colossais questões cubanas. Queiram ou não, é intromissão indevida de um dos poderes do país, nos assuntos internos de outro país. Mas o pior, é que a viagem de Yoani à Brasília foi paga com recursos da Câmara. Claro, que nossos deputados acostumados à gastança sem fim, se sentiriam ofendidos pela menção de tão ínfimo detalhe.
                Há também outro detalhe, e dessa vez são os defensores da cubana que se recusam a discutir: o financiamento de sua viagem mundo a fora. Ora, é muita grana. Estou longe de afirmar que a moça é financiada pela CIA, como alegam seus detratores. Mas cá entre nós, é bem possível que a agência americana faça chegar até ela um incentivo através de mãos insuspeitas. Insuspeitas, mesmo para ela.
                Mas se parece, no mínimo, temerário, asseverar que tal fato ocorre, também soa risível o que asseguram os aliados brasileiros de Yoani. Dizem estes, que “pessoas de bem” arcam com suas despesas turísticas. Falam como se conhecessem tais pessoas, como se fossem sabedores dos nomes dos doadores que prefeririam ficar no anonimato.
                Mais dois fatos interessantes marcaram a visita de Yoani Sánchez ao Congresso. Desde a tribuna, a Senadora Vanessa Graziotin, mencionou que a ativista cubana viajou com visa dada pelo governo cubano. Mencionou isso como se tratasse de uma dádiva, algo digno de nota.
                Por sua vez, a oposição de direita formulou pedido de proteção policial para Yoani durante sua estada entre nós. Foram duas horas de discussão para deliberar sobre a tolice solicitada. A única voz lúcida foi a do Deputado Miro Teixeira. Disse o Deputado carioca, que primeiro deveria se perguntar à cubana se ela assim o desejava e salientou que tal proteção poderia ser vista como cerceamento de sua liberdade. Afinal, por onde fosse, Yoani seria acompanhada por agentes da Polícia Federal. Agentes de um governo que é simpático ao governo cubano.
                Tenho quase certeza que tanto os que atacam a cubana quanto os que a defendem, têm algo em comum entre si e com esse que escreve: jamais lemos as opiniões de Yoani Sánches e desconhecemos profundamente a realidade cubana.

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