Abuso da democracia. Para mim este termo é novo, jamais
havia escutado, mas parece que é de uso comezinho entre politicólogos e outros
embromadores.
Se o tivesse ouvido solto, fora de um contexto,
pensaria que se referia aos manejos políticos que a oposição de direita faz
para emperrar os trabalhos legislativos. Ou então, que se tratasse de críticas
aos pastores parlamentares que tentam transformar o Congresso e Câmaras
Municipais em apêndices de suas igrejas. Mas não, o “especialista” que me
trouxe a novidade terminológica falava sobre Chaves, no dia de sua morte.
Usou a expressão
quando foi confrontado com o fato de Hugo Chaves ter vencido todas as eleições
que disputou. Penso até que o jogo de palavras foi criado sob medida para o
Presidente venezuelano. Já não bastava o epíteto de populista, com o qual a
grande (?) imprensa capitalista sempre o tratou. Os milhões de votos, os
milhões de venezuelanos tirados da miséria, os números irrefutáveis da
Revolução Bolivariana, acabaram por esvaziar o vocábulo já desgastado, usado
para desqualificar aqueles governantes que atendem às demandas populares. Havia
que se criar uma nova forma para desmerecer quem derrota, nas urnas, os
inimigos do povo, as elites subalternas ao capitalismo central, o mercado da
fome. Inventou-se então o monstrengo que quer ser elucidário.
Ao fim de sua fala especializada, o professor de não sei o
que, prognosticou um sombrio futuro para a Venezuela. Chaves era o culpado. A
longo prazo, sua política de inclusão, sua postura crítica com relação aos
EE.UU, sua obstinação em dar dignidade ao povo venezuelano, trarão resultados
funestos. Claro que não era uma análise crítica, mas sim uma expressão de
desejo; ver desmoronar a Revolução Bolivariana.
Para os economistas, politicólogos e analistas que
freqüentam as grandes emissoras de TV, uma nação é apenas um lugar onde se faz
negócios. O que se faz e o tempo de o fazer está condicionado pelo mercado,
pelas bolsas, pelas crises do capitalismo. Em suas análises, não existe o povo com suas
demandas e aflições, não existe a fome, a falta de moradia, só o mercado, que
deve ser tratado a pires de leite. Para essa gente, Chaves era um populista que
abusava da democracia e do direito de ser amado por seu povo que hoje lota as
ruas de Caracas para um último adeus àquele que, saído de seu seio, lhe deu
dignidade e esperança.
Hugo Chaves e a Revolução Bolivariana são o divisor de águas
na Venezuela e em todo continente latino americano. Chaves mostrou que a
vontade do povo pode derrotar as elites. Que a obstinação de um país periférico
pode mudar o eixo da história.
Hoje, nos despedimos de Hugo Chaves, não de seu legado.
Hasta la vitória
Comandante, siempre.
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