A primeira vez que vi Marina Silva, foi no programa do Jô
Soares. Recém eleita senadora, mostrava uma simplicidade cativante. Além do mais
era uma senadora que não provinha das elites do país, como costuma acontecer.
Anos mais tarde, já como Ministra do Meio Ambiente, pude
assistir outra entrevista sua. Marina havia mudado. Vestia uma roupa transada
que não combinava com seu jeito de cabocla e falava numa linguagem “a nível de”.
(Você sabe, aquele tipo de papo que nossa classe média usa para parecer
intelectualizada e que, ao fim, apenas revela o vazio de idéias.) Marina havia
adquirido “conceitos”.
Na eleição presidencial passada, eu, como todos os eleitores,
queria conhecer o pensamento de Marina e suas propostas, mas nos 45 dias de
campanha eleitoral, o que dela ouvimos foi um discurso genérico sobre problemas
ambientais que já estamos carecas de escutar.
Questionada sobre temas polêmicos, Marina Silva subiu no
muro e falou generalidades. Ela, que é evangélica, disse que, caso eleita,
faria um plebiscito sobre a legalização do aborto. Quanto à união civil de
pessoas do mesmo sexo, saiu-se com outra resposta do mesmo quilate.
Se em 1904, Rodrigues Alves tivesse feito um plebiscito
sobre a obrigatoriedade da vacinação, o povo, incluindo os estudantes de
medicina, teria derrotado o parecer de Oswaldo Cruz e a varíola teria ceifado a
vida de milhões de brasileiros.
Na época, o congresso
e o Presidente enfrentaram a revolta popular, e o resto é história. Pois é para
isso que servem os dirigentes, para dirigir. Para isso devem se preparar os líderes,
para liderar e não para andar a reboque do senso comum, do pensamento médio.
Em sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, Marina
Silva tampouco se notabilizou por posturas claras e decisões práticas. Seu
sucessor, Carlos Minc, fez em poucos meses o que Marina apenas declarava que
fazia. Minc, colheu a ira de latifundiários e madeireiros, sendo inclusive
ameaçado de estupro pelo Governador André Puccinelli do Mato Grosso de sul. Marina
não reconheceu os avanços ocorridos na gestão de Minc, pelo contrário. Segundo ela,
tudo já havia sido feito ou iniciado durante sua passagem pelo Ministério e que
Minc pegou “uma marmita bem recheada”.
A vaidade e os pronunciamentos sibilinos credenciam Marina
Silva como figura política importante para os próximos anos.
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