quinta-feira, 25 de abril de 2013

Em módicas mensalidades, o pentelhésimo de segundo


                A propaganda é algo direto, de compreensão fácil. É feita para atingir a fatia de mercado que supostamente irá querer e poder adquirir determinado produto, independente de sua capacidade intelectual ou cognitiva. Pelo menos era assim. Hoje, com as novas tecnologias, algo mudou.
                Muitas vezes eu tenho de prestar atenção à TV para entender o que querem me vender. Os aparelhos e serviços modernos são anunciados numa linguagem cifrada, cheia de siglas, letras soltas e palavras em inglês. Supostamente todos entendem, pois esse comércio anda de vento em popa apesar de serviços como a banda larga serem caríssimos, em comparação com outros países, e de funcionarem mal e porcamente.
                No espaço de tempo entre o lançamento de uma nova tecnologia e outra, que vai deixar o que você comprou, 6 meses atrás, totalmente obsoleto, a propaganda ajuda a vender o que pensávamos que já nos pertencia.
                Um comercial, que foi veiculado há uns meses atrás, mostrava um rapaz diante de um lap top ou notebook (não sei qual é a diferença), ele ri de algo que viu na tela e uma fração de segundo depois, os que estão à sua volta, também manipulando engenhocas, riem. O locutor fala algo e na cena seguinte o mesmo rapaz está diante de outro aparelho e comemora um gol que o outro personagem em cena, olhando para outra tela mágica, tarda um pentelhésimo de segundo para também comemorar. E era isso o que estava à venda: o pentelhésimo de segundo. Não se falava de menor preço de tarifa nem de maior alcance, ou melhor, falava-se, mas sabendo que ninguém acredita mais. O produto vendido era o pentelhésimo de segundo. Nisso o reclame punha toda a ênfase.
                Hoje, empresas, pessoas e conglomerados de informação tentam nos convencer que teremos alguma vantagem competitiva (esse é o termo empregado mesmo quando se trata de crianças de 5 anos que começam seu curso de inglês) se estivermos à frente dos outros por uma fração pentelhesimal de tempo.
                Mas, à frente em quê? Não se sabe ao certo.
                Outro dia, num programa de TV no qual convidados “ilustres” contam suas experiências para jovens estudantes do curso secundário, Marcelo Tass, a nulidade mais entrevistada do país, dizia aos colegiais que hoje, todos estamos defasados e quem não sabe disso é um idiota. Ora, estamos defasados em relação a quê? Isso o minúsculo careca não explicou. Talvez, ao fim de sua fala, quando os estudantes teriam o direito de dirigir perguntas à sumidade, algum espírito menos conformista com as bobagens que são ditas em tom grandiloqüente pelas celebridades célebres, lhe fizesse esse questionamento. Não fiquei no canal para saber.
                Nem a propaganda do serviço de internet nem a fala do apresentador de TV, conseguem chegar sequer ao zero da tolice. Ficam aquém, são contradições claras. Não entre si, pois as duas bobagens se complementam e se afiançam, mas com relação à mais palpável, mais tangível, mais óbvia realidade.
                Nosso problema com o tempo, não será resolvido pelo pentelhésimo de segundo que tentam nos vender. Ele está  relacionado com as horas e horas perdidas no trânsito das grandes cidades, na espera do serviço público de saúde, na fila do banco e do supermercado.




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