A propaganda é algo direto, de compreensão fácil. É feita
para atingir a fatia de mercado que supostamente irá querer e poder adquirir
determinado produto, independente de sua capacidade intelectual ou cognitiva.
Pelo menos era assim. Hoje, com as novas tecnologias, algo mudou.
Muitas vezes eu tenho de prestar atenção à TV para entender
o que querem me vender. Os aparelhos e serviços modernos são anunciados numa
linguagem cifrada, cheia de siglas, letras soltas e palavras em inglês.
Supostamente todos entendem, pois esse comércio anda de vento em popa apesar de
serviços como a banda larga serem caríssimos, em comparação com outros países,
e de funcionarem mal e porcamente.
No espaço de tempo entre o lançamento de uma nova tecnologia
e outra, que vai deixar o que você comprou, 6 meses atrás, totalmente obsoleto,
a propaganda ajuda a vender o que pensávamos que já nos pertencia.
Um comercial, que foi veiculado há uns meses atrás, mostrava
um rapaz diante de um lap top ou notebook (não sei qual é a diferença), ele ri
de algo que viu na tela e uma fração de segundo depois, os que estão à sua
volta, também manipulando engenhocas, riem. O locutor fala algo e na cena
seguinte o mesmo rapaz está diante de outro aparelho e comemora um gol que o
outro personagem em cena, olhando para outra tela mágica, tarda um pentelhésimo
de segundo para também comemorar. E era isso o que estava à venda: o
pentelhésimo de segundo. Não se falava de menor preço de tarifa nem de maior
alcance, ou melhor, falava-se, mas sabendo que ninguém acredita mais. O
produto vendido era o pentelhésimo de segundo. Nisso o reclame punha toda a
ênfase.
Hoje, empresas, pessoas e conglomerados de informação tentam
nos convencer que teremos alguma vantagem competitiva (esse é o termo empregado
mesmo quando se trata de crianças de 5 anos que começam seu curso de inglês) se
estivermos à frente dos outros por uma fração pentelhesimal de tempo.
Mas, à frente em quê? Não se sabe ao certo.
Outro dia, num programa de TV no qual convidados “ilustres”
contam suas experiências para jovens estudantes do curso secundário, Marcelo
Tass, a nulidade mais entrevistada do país, dizia aos colegiais que hoje, todos
estamos defasados e quem não sabe disso é um idiota. Ora, estamos defasados em
relação a quê? Isso o minúsculo careca não explicou. Talvez, ao fim de sua
fala, quando os estudantes teriam o direito de dirigir perguntas à sumidade,
algum espírito menos conformista com as bobagens que são ditas em tom
grandiloqüente pelas celebridades célebres, lhe fizesse esse questionamento.
Não fiquei no canal para saber.
Nem a propaganda do serviço de internet nem a fala do
apresentador de TV, conseguem chegar sequer ao zero da tolice. Ficam aquém, são
contradições claras. Não entre si, pois as duas bobagens se complementam e se afiançam,
mas com relação à mais palpável, mais tangível, mais óbvia realidade.
Nosso problema com o tempo, não será resolvido pelo
pentelhésimo de segundo que tentam nos vender. Ele está relacionado com as
horas e horas perdidas no trânsito das grandes cidades, na espera do serviço
público de saúde, na fila do banco e do supermercado.
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