quinta-feira, 25 de abril de 2013

Pacote de abril



                Que o projeto que pretende dificultar a criação de novos partidos é casuístico, não há dúvida. O partido no poder está arregaçando as mangas para a disputa de 2014 e usa desse artifício para impedir que lhe escorra entre os dedos os votos que poderiam migrar do PT para o partido de Marina Silva ou para a fusão que pretendem PPS e PMN. É coisa feita.
                Mas cá entre nós, do jeito que estava não podia continuar. Não é possível que um partido mesmo antes de nascer já tenha uma bancada e desfrute de verbas públicas e tempo de TV (também financiado com verbas públicas) como se tivesse conquistado nas urnas, através de suas propostas e programa, os votos populares. Veja o caso do PSD de Kassab.
                Muitos dos parlamentares que ingressaram nessa sigla foram eleitos pelo DEM. Seus eleitores, quando os elegeram, votaram nitidamente num partido de oposição. E oposição nitidamente de direita. Agora esses parlamentares estão num partido que, segundo seu proprietário, Kassab, não é nem de direita nem de esquerda nem de centro, muito pelo contrário.
                Claro que você poderá argumentar que esses deputados do DEM que caíram de para quedas no PSD são o que de mais fisiológico existe na política brasileira. Muitos deles carregam no currículo, diversas mudanças de partido tão inexplicáveis, sob o ponto de vista ético, quanto essa última. Você está com a razão, com toda a razão. Mas é por isso mesmo que o legislador tem de intervir. Não é mais possível conviver com esses parlamentares de aluguel. Ou por outra: não é possível aceitar suas práticas de braços cruzados. Algo deveria ser feito, mas não desse jeito. Uma lei que poderia ser moralizadora, feita assim a toque de caixa e com destinatário incluído, torna-se um arremedo, um monstrengo.
                 Não resta dúvida que a proposta aprovada na Câmara e agora em discussão no Senado, carrega o ranço da intencionalidade pouco republicana. Ninguém do PT se posicionou de forma tão contundente quando era a oposição de direita que perdia deputados para a sigla inventada por Kassab, pelo contrário. O PSD agora engorda a base de sustentação do governo. Pelo menos, enquanto seus pleitos sejam atendidos pelo Planalto.
                Os propositores do projeto de lei juram de pés juntos que o Executivo nada tem a ver com o embrulho. Acredite quem quiser. Enquanto isso o Ministro Gilmar Mendes, do STF, concedeu liminar suspendendo sua tramitação. O pedido de urgência que seria votado ontem (24/04) na Câmara Alta, ficou para a próxima semana, depois do 1º de maio.
                O que há de pior nessa proposta de alteração da vida partidária, não é seu óbvio fim nem seu casuísmo. O pior é que ela vem misturada num pacote, tal qual caixa de bombons sortidos. Acompanham-na uma PEC que tenta tirar do Ministério Público seu poder de investigar e outra que quer submeter as decisões do Judiciário ao crivo dos parlamentares.
                Quem tem anos nas costas e alguma memória deve estar se lembrando que em 1977 a ditadura militar, quando já se encontrava em processo de falência, nos brindou com um conjunto de leis, que alterava o processo eleitoral para evitar os danos que as urnas prometiam causar ao governo de fato nas eleições daquele ano.. Esse conjunto de leis casuísticas ficou conhecido como Pacote de Abril. O mês parece ser inspirador.


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