Às vezes eu não sei se é má fé ou burrice pura e
simples. Como não gosto de pôr em dúvida a honra de ninguém, acabo por pensar
que é a estupidez humana a causa de tantas declarações e argumentações que tenho
escutado ultimamente. Veja o caso do Lobão.
Em entrevista recente, o cantor (?) falou as maiores
aberrações. Defendeu o golpe de 64 e deu uma versão dos fatos ocorridos àquela
época que nem o próprio Bolsonaro seria capaz de dar. Lobão que já havia, em
outra ocasião, minimizado a tortura dos presos políticos da ditadura, apenas manteve
uma galopante coerência com o pensamento (?) de sua classe social.
O problema é que os jornalistas, principalmente os da área
de cultura, crêem que se o sujeito é famoso ele pode ser questionado sobre
qualquer assunto. As opiniões de Caetano Veloso sobre política estão sempre
sendo pedidas. Até o marido da Sandy, aquele da família Lima, eu já vi sendo
entrevistado sobre a proibição de armas de fogo no Brasil. O que se pode
esperar?
Mas o buraco é mais embaixo quando os ”doutores” são
chamados a opinar sobre os problemas da sociedade. É o que tem acontecido
nesses tempos datênicos quando se discute a redução da maioridade penal. Não
passa um dia sem que haja nos noticiários alguém dando sua douta opinião sobre
o tema.
Num recente debate na Globo News, um desses luminares
defendia a tese da chibata e do pelourinho para os jovens infratores. Dizia o
convidado de Mônica Valdvogel que adolescentes praticam crimes porque têm a
certeza da impunidade. Enquanto ele falava, aparecia no pé da tela a relação de
seus títulos e pergaminhos.
Eu costumo respeitar todas as opiniões, mas nesse caso vou
abrir uma exceção. O argumento me parece tão pueril que dá vergonha rebatê-lo.
Se fosse como pensa esse senhor que nos brindou com seu arrazoado troncho, os
presídios estariam vazios, pois os adultos sabem que podem ser punidos se forem
apanhados cometendo delitos. Como sabemos, não é o caso.
Outro argumento usado por aqueles que querem inaugurar novos
campos de concentração, é que o jovem de hoje tem mais acesso à informação. E
citam a internet, a TV a cabo, o cinema 3D, a fibra ótica, o escambau.
Ora, até mesmo a mais crassa burrice tem seus limites. Não é
possível que alguém pense que os jovens vão à internet para consultar a
Enciclopédia Britânica ou o Anuário da Academia Brasileira de letras. E,
ademais, quem tem acesso às novas tecnologias, à informação, à educação?
Sabe-se que mais de 90% dos menores infratores internados,
sequer concluíram o ensino primário e que provêem das classes mais baixas. Menores
infratores das classes abastadas, quando atropelam pessoas no ponto de ônibus
ou nas praias com seus Jet Skis, não são candidatos às novas vagas que querem
abrir nos presídios. A classe média não vê os seus filhotes que trazem exctasy
da Europa como bandidos e sim como alguém com problemas, uma vítima da família
desfeita ou do consumismo. E, claro, tem as más companhias.
Muitos daqueles que até pouco tempo se posicionavam contra a redução da maioridade penal, hoje se mostram arrefecidos de ânimo. Diante dos
coices de Datena, Magno Malta e outros da mesma espécie, se acanham, e já
sentem pejo de defender a prevenção, a inclusão social e a educação como
instrumentos de combate a violência juvenil. Aos poucos vão cedendo ao que a
imprensa de direita chama de clamor da sociedade.
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