segunda-feira, 27 de maio de 2013

A praça


                As cidades pequenas, além de sua proverbial pasmaceira, nos mostra um microcosmo do país. Assim é onde vivo, em Garopaba, nesse lindo litoral catarinense.
                A política local é um espelho do que se vê na política nacional.  Caciques proprietários de partidos se revezam no poder, pouco fazem pelo povo e muito para os seus. O eleitorado, exaltado em época de pleito, faz grande alarde na defesa de partidos cujas diferenças nem de lupa se consegue distinguir.
                Fazem-se obras de fachada, de utilidade duvidosa, e aqui e ali alguma coisa prática. Para quem está com o poder, tudo são flores e entre os que não mamam,  tudo se desacredita. Tal qual acontece em todo o país. A mesma sociedade conservadora, pequeno- burguesa e metida a cagar regras através das redes sociais. Tal qual.
                Temos aqui uma linda pracinha no centro velho da cidade. De frente para o mar com a antiga igreja ao fundo, é nessa praça que os pescadores ainda amarram nas árvores suas redes para consertá-las. Há um silêncio que o marulhar acentua nas tardes preguiçosas.  
                Desde que aqui cheguei, há vinte anos, a praça já passou por várias obras e modificações. Uma administração anterior trocou as cúpulas das luminárias por umas de plástico que davam uma luz baça e muita vontade de chorar. Agora, depois de muitos milhares de reais, nossa praça está bonita e acolhedora.
                Passei muito tempo sem visitá-la, traumatizado pelas cúpulas de plástico, e voltei lá um dia desses. A praça não é grande, mas sem embargo, conseguiram um cantinho para instalar uns aparelhos de ginástica. Souberam aproveitar bem o espaço exíguo e as instalações não ferem o aspecto de praça de cidade do interior nem atrapalham o caminho.
                Os aparelhos que lá puseram estão como novos, creio que ninguém os usa. E lá estão,  condenados à ferrugem que a maresia apressa. Pois é, alguém teve a brilhante ideia de colocar artefatos de ferro à beira mar.
                E há os bancos de madeira sob belas árvores que não sei o nome, velhas e frondosas, pondo sombras, convidando. No chão de pedras portuguesas brancas e pretas, umas poucas folhas passeiam ao sabor do vento enquanto o gari não aparece. A praça é limpa e tem uma infinidade de lixeiras.
                Nas vezes recentes que visitei a praça pude ficar só ou quase, parece que pouca gente tem gosto de ai estar. Um dia uma menina, uma adolescente, passou uns 45 minutos falando ao celular com uma amiga. Noutro dia uma família de turistas andou de um lado pro outro enquanto o marido desestimulava a mulher de usar os aparelhos de ginástica. Dizia que ela iria se cansar. O sujeito não captou o espírito do exercício físico. No mais, conversas que vêem das casas próximas e algum chato que passa com o som do carro muito alto tocando funk carioca ou sertanejo universitário.
                Mas fica claro que na praça falta algo: os brinquedos para as crianças. Nem um balanço nem um escorregador ou uma gangorra. Nada. Crianças, havia algumas, 4 ou 5 que brincavam de algo que eu não entendi. Na falta de brinquedos adequados para elas, improvisavam algo. Brinquedos lá, só para os adultos.
                Na outra praça, a praça da prefeitura, que é grande e mais central, tem uns brinquedos, poucos, instalados há muitos anos e que estão em estado lastimável. Caindo aos pedaços, remendados. Mas alguém teve a permissão de lá instalar um pula-pula e cobra ingresso para as crianças saltarem na lona suja.  E o pior é que ninguém liga. Nas redes sociais a preocupação dos munícipes é com os cachorros. Querem que seja separada uma parte da praça para que os bichos possam brincar. Querem que seja franqueada a presença de cachorros na praia. Nesse ponto o poder público está acorde com a população, está pouco se lixando para as crianças.


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