domingo, 12 de maio de 2013

Brás Cubas e as alianças espúrias



                Não me lembro se no livro, mas no filme Brás Cubas, o personagem defunto, vivido por Luiz Fernando Guimarães, diz uma frase, uma dessas citações vazias que os falsos inteligentes da nossa burguesia gostam de perpetrar:_O Brasil é de espantar, e de espantar-se. Uma típica frase que não diz nada e apenas serve de adorno para a conversação frívola dos salões senhoriais.
                Mas na semana que passou, a frase começou a fazer sentido. Podemos, sem dúvida, dizer, parafraseando o Brás Cubas do filme, que a política brasileira é de espantar e de espantar-se.
                Nossa Presidenta criou mais um ministério. Isso, em si, não é novidade. Já são tantos os ministérios, que nem nos lembramos mais de seus nomes, finalidades e, muito menos, seus titulares. Há ministérios para tudo e que não fazem nada. Ou melhor, acomodam nulidades e seus parentes em nome das alianças, da governabilidade.
                Qualquer desses ministérios de ficção gasta fortunas. Os homi estão acostumados com o bem bom e não ficam despachando seus interesses escusos em qualquer salinha. Não. Há de tudo nas estruturas ministeriais: carros oficiais, muitos; assessores, muitos: secretárias gostosas, várias e toda a serventia posta à disposição dos senhores ministros. Para servir água mineral importada das geleiras escandinavas e cafezinhos, há na esplanada dos ministérios, prestando seus inestimáveis serviços, gente suficiente para encher o Maracanã.
                Tudo isso já sabemos e pagamos. O que espanta é o nome do novo titular da flamante Secretaria da Micro e Pequena Empresa: Afif Domingos. O novo Ministro vai acumular a titularidade da pasta com seu cargo de vice-governador de São Paulo. Ou seja, como Ministro ele será oposição ao governo do qual é vice-governador e como tal, será oposição ao governo do qual é Ministro. É ou não é para espantar-se?
                Afif disse que caso tenha de substituir o Governador Alkimim no comando do Governo paulista, se licenciará do Ministério. Simples assim. Deveríamos imaginar que a agenda do Governador de São Paulo está totalmente sincronizada com o cronograma do Ministério recém inventado. Deveríamos, mas nem precisamos. Sabemos que o novo Ministério não é para ser levado a sério. Dentro das costuras políticas, é um alinhavo, um chuleado, se tanto. Pouco ou nada produzirá em benefício do micro empresário além de algumas medidas burocráticas concebidas nos gabinetes dos assessores do afanado Ministro.
                Em comentário publicado há poucas semanas, uma colunista de política alertava para uma estapafúrdia aliança do PT com os tucanos paulistas. Tal conluio teria como finalidade aplainar o caminho da reeleição de Dilma. Para tanto, o PT abriria mão de candidatura própria ou escolheria nome com poucas chances de vitória para a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Por sua vez o PSDB faria com Aécio o que fez com a candidatura de Serra à presidência, apenas fingiria apoio.    
                Quando li o artigo, pensei ser mais um samba da colunista doida, afinal o sonho dos petistas paulistas é desempoleirar os tucanos do governo do mais rico estado da união. No caso dos tucanos faria mais sentido, boicote e fogo amigo são especialidades dos emplumados. Com a criação do Ministério e a escolha de seu titular, começo a pensar que tinha razão a articulista em seu arrazoado. 
                Ainda não ouvimos o que pensa de tudo isso Fernando Henrique Cardoso. Quando o oráculo de Higienópolis se pronunciar sobre o tema, aí sim, poderemos dizer como o Brás Cubas do filme:_ O Brasil é de espantar e de espantar-se.

Nenhum comentário:

Postar um comentário