sexta-feira, 17 de maio de 2013

É minha opinião



                As modas no linguajar sempre existiram. Elas vêem e vão. Na década de 90 o “a nível de” fazia sucesso. Depois veio o “com certeza”, que junto com o “no sentido de” ainda se cultiva. No facebook o primeiro vira “concereteza”e faz parzinho romântico com o “nada haver”. Bem, mas isso é apenas analfabetismo amenizado.
                Hoje, o que domina vários discursos é o “onde”. Pode-se fazer lindas frases com o advérbio. Um dos campeões do “ondeísmo” é o ex-jogador e comentarista esportivo, Neto. Dele já ouvimos maravilhas como: “um time onde a zaga...”, “um dia onde a temperatura...” e até “ um jogador onde...”. O “onde”, para piorar, pode ser substituído pelo “aonde” nessas construções.
                Como disse, esses modismos são passageiros e quase nunca provocam danos insanáveis ao idioma.
                Ao contrário das outras modas, os cultivadores das modas lingüísticas não são os mais jovens. É entre os adultos, chegando até a meia idade, que as palavrotas usadas para preencher discurso vazio, fazem mais sucesso.
                Mas há uma outra moda, que além de lingüística é também comportamental. Refiro-me a essa tendência de concluir-se uma argumentação com a frase “é a minha opinião”. Nas redes sociais seu uso se difunde como vírus e serve principalmente para os evangélicos fecharem algum discurso preconceituoso e arcaico. O que essa gente chama de opinião eu designo com outro nome, que não menciono para não ferir sua sensibilidade com escatologias.
                Essa simples frase, que tenta ancorar-se no direito de livre expressão do pensamento, tem servido para destilar toda espécie de raciocínios tortos. Pensam, os cultivadores da frasezinha, que ao pronunciá-la eximem-se de toda responsabilidade para com os preceitos legais escritos e as normas tácitas do convívio e do respeito.
                No momento, o alvo preferencial das “opiniões” dos filósofos contemporâneos do facebook são os homossexuais, mas sobra pra todo mundo: ateus, fumantes, comunistas, hedonistas, onanistas, enfim, qualquer um cujo comportamento, pensamento, aparência, cor da pele ou hábitos, não se enquadre na cartilha do carola opinativo.
                E não adianta protestar contra as ofensas e preconceitos, pois logo seguirá a frase mágica:_É minha opinião. Ademais nesses dias estranhos que vivemos, há outro item na cartilha que deve ser seguido: devemos ser tolerantes. Devemos respeitar as opiniões mais ridículas, os raciocínios mais esdrúxulos e, principalmente as citações bíblicas mais ilógicas e imorais.
                Nesses dias absurdos que vivemos, devemos tolerar a intolerância.

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