quarta-feira, 29 de maio de 2013

Reler, rever


                Nelson Rodrigues dizia que se deve ler pouco e reler muito. Nunca consegui seguir o mandamento do mestre. Sou fominha com essa estória de livros. Não que seja um novidadeiro, não busco os últimos lançamentos nem nada disso. E nem preciso. Há tanta coisa importante que já foi escrita anos, décadas, séculos atrás que fica difícil querer somente o que se produz nos dias de hoje.
                Mas agora, depois de meses lendo “A carne”, de Júlio Ribeiro, me deu vontade de reler e reencontrar alguma emoção de outro tempo.
                Acontece que “A carne” é das piores coisas que já foram publicadas no nosso idioma. E olha que o livro foi motivo de polêmica em seu tempo. Acho que os contemporâneos do autor ficaram aturdidos com a temática, ousada para a época, e não viram que o livro estava abaixo da crítica. Destinado à poeira e às traças. 
                Tardei meses para terminar sua leitura, pois ler mais de uma página por dia de semelhante obra (no sentido mais recôndito do termo) me foi impossível. Também não pude abandonar o maldito livro. Sou ruim de abandonos. De livros e de mulheres. Além do mais, a cada página lida do romance, ficava a curiosidade por saber até onde poderia chegar o pedantismo, a sensaboria, a falta de talento literário de um membro da Academia Brasileira de Letras. E não foi em vão a pertinácia. No fim da insulsa narrativa, o autor, sem nenhum acanhamento, se coloca como personagem. Não um personagem com falas e pensamentos, senão como personagem citado pela protagonista. Elogiosamente citado.
                Depois de tamanha prova de persistência, fui buscar refúgio e descanso em terreno conhecido. Fui ao Eça. Estou relendo O primo Basílio. Não pela estória de Luisa, Jorge e Basílio, mas pelo Conselheiro Acácio.
                Eça de Queirós nos deu no século 19 um personagem que continua atualíssimo. Basta abrir algum sítio informativo na internet ou as redes sociais e lá estão seus seguidores, seus discípulos. Nas TVs e nas tribunas do Congresso também abundam Acácios.
                Poucos livros eu reli, mas filmes eu pude rever alguns. Chaplin, Felini, todo o neo-realismo italiano, Macunaíma, que a cada vez que revejo mais graça encontro, Perdidos na noite, que já assisti mais de 20 vezes, Casablanca e alguns outros.

                Mas houve filmes de que gostei e ao revê-los fiquei pensando se na época que os assisti por primeira vez ou eu era bobo ou andava bebendo muito. “O último tango em Paris” é um desses. Holywood quando tenta fazer filme cabeça dá naquilo. Entre os nacionais, Jabor nos brindou com “Eu te amo”, um dos filmes mais chatos da história do cinema nacional. Além de não contar com Wilson Grey no elenco, garantia da brasilidade da produção, o filme tenta ser um “Último tango” de periferia. O engraçado é que quando o assisti no Cine Imperator do Méier, eu achei o máximo. Culpa, creio, do fim traumático de uma paixão. O amor tem dessas coisas.

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