Quando eu nasci, a televisão brasileira tinha 7 anos de
existência. E eu já ia pelos meus 7 quando meu pai comprou nosso aparelho.
Antes, víamos a novidade na casa de minha avó Benita. “O direito de nascer”, eu
assisti aí. Mas um dia veio a TV para nossa casa.
A programação começava pelas 3 ou 4 horas da tarde e ia até
meia noite. Lembro-me bem de interromper as brincadeiras no quintal para ver o
Super Homem e o National Kid, o Ivanhoé e o Jim das Selvas. A telinha era
fascinante.
Na época se discutia os malefícios da nova tecnologia que
dia a dia entrava nos lares da classe média baixa. As mães reclamavam do tempo
perdido pelos filhos que ficavam hipnotizados em frente ao aparelho. E um dia o
pior aconteceu: um menino amarrou uma toalha no pescoço e tentou voar como o
Super Homem. Lançou-se do telhado da casa e esborrachou-se. O caso, eu não sei
se é verídico ou apenas lenda urbana, mas nós, meninos, ríamos muito da
ingenuidade, tanto do moleque quanto de nossas mães que temiam que fôssemos
capazes de cometer o mesmo tipo de tolice.
Não foi essa notícia (ou boato) que me influenciou, mas devo
confessar que apesar de gostar do Super Homem eu preferia mesmo era o National
Kid. Estou convicto que se não fosse por ele os Incas Venusianos já teriam
dominado a terra.
Entre o advento da
televisão e a internet, mais de 40 anos passaram. Hoje, são os computadores que
fazem algumas mães renegarem da tecnologia. E não sem razão. O que mais
preocupa, além do fato de mais de 80% dos acessos à grande rede serem para jogos,
é a questão da interatividade, pasto para predadores sexuais e toda sorte de
crimes contra os pequenos.
Assim como a televisão, a internet tem seu lado negativo,
mas não se pode negar, nem num caso nem no outro, a maravilha da comunicação. Pode-se
dizer que o Brasil se conheceu através da televisão e hoje, a internet está
permitindo que conheçamos o brasileiro. E pasmamos.
Lembro do ingênuo menino dos anos 60 que queria alçar voo e
esborrachou-se. Vem-me logo a pergunta:_Está o ser humano, o brasileiro,
preparado para essa nova tecnologia? A resposta, como diria o Ministro Marco Aurélio,
é desanganadoramente, não.
No facebook, o ser humano (e o brasileiro é dos que mais
acessa essa rede social) se desnuda, se confessa. Nunca antes se viu tamanho
despudor em mostrar, em exibir, a alma, o coração e as vísceras. E o que vemos?
Uma sociedade brutalizada. E nessa hora da madrugada a vontade é de escrever,
imbecilizada.
Tal qual o menino voador que não sabia distinguir a
realidade do que era mostrado numa tela de televisão, os aficionados das redes
sociais não sabem reconhecer um factóide, não conseguem perceber a mais óbvia
manipulação dos fatos. Nos últimos dias, isso se fez mais patente.
Nossas autoridades da segurança pública andam fazendo uma
operação de “limpeza” nas grandes cidades visando deixá-las seguras e arrumadinhas
para os gringos que nos visitarão nos grandes eventos marcados para este e os
próximos anos. No Rio, pessoas estão sendo mortas a luz do dia, diante das
câmaras de televisão. Em Cuiabá, moradores de rua são chacinados. Quaisquer manifestações
de repúdio a esses fatos estão sendo reprimidas com a truculência habitual da
polícia. E o que vemos nas redes sociais? Nossos amigos e seus amigos apoiando
as ações ilegais. Dizendo que a Globo, por ter criticado as ações policiais no
Fantástico do último domingo, está defendendo bandidos. O termo direitos
humanos é usado por esses justiceiros do nada, com escárnio. Vira motivo de
chacota. Em caixa alta, louva-se a política de extermínio. E tudo isso entre a
foto de um cachorrinho e uma citação de Buda.
Não tenho dúvida, nossa sociedade vai esborrachar-se.
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