sexta-feira, 14 de junho de 2013

A nova imigração


                Algum tempo atrás, num programa esportivo, os caras, pela total falta de assunto, começaram a falar dos jornalistas que atendiam por nomes femininos e citaram o Maria (Antônio Maria Filho) e o Helena (Alberto Helena Júnior). Alberto Helena estava presente e contou da origem de seu sobrenome italiano e, falando no idioma de seus antepassados, disse que os Helena eram uma família piu potente em determinada região da Itália. Cléber Machado, que comandava o programa, não se conteve e perguntou o mesmo que me ocorre perguntar a todo filhote de gringo que arrota as grandezas do passado familiar. “E o que vocês vieram fazer aqui?”
                Se é que a história só se repete como farsa, há também as farsas que se repetem como tal. Assim foi o processo de colonização européia no Brasil. Após a libertação dos escravos o país “constatou” que não tinha mão de obra e escancarou as portas para a imigração dos despossuídos do velho continente.
                Muitos dos novos colonos receberam terras e financiamentos, outros foram para as fazendas de café para viverem em condições precárias, instalados nas antigas senzalas, ou quase isso, mas com a substancial diferença de receberem salários. Para os escravos recém libertos nunca houve uma política compensatória, nenhum plano de assentamento, nenhuma indenização. O resultado dessa política de imigração é o que vemos: descendentes de imigrantes ricos e negros pobres por todo o país.
                Passadas algumas gerações, os filhos e netos daqueles famélicos imigrantes começaram a criar a lenda dos “piu potentes” e de perseguições políticas das quais seus antepassados fugiram. Se fôssemos acreditar nessas estórias, pensaríamos que qualquer camponês italiano ou alemão do século 19 era um carbonário, um anarquista.
                Agora dá-se algo parecido. Toda semana tem alguém dizendo nos jornais e TVs que o Brasil carece de mão de obra especializada e que a solução seria importá-la enquanto não se melhora a educação no país.
                Não tenho a menor ideia se isso é verdade ou não. O que sei é que a economia brasileira está entre as maiores do mundo e que a educação aqui é uma vergonha. Mas pelo jeito nossa mão de obra tem dado conta do recado, caso contrário seria impossível atingir os números de crescimento que atingimos. Ou será que todos os técnicos que ajudam a produzir nossas riquezas vieram da Europa?
                Nos programas de TV, nos quais a direita tem assento garantido e voz assegurada, números sobre a insuficiência de mão de obra qualificada são citados e eu não posso nem vou contestá-los. Prefiro falar sobre algo que conheço de perto.
                Sou um desses 6 milhões de babacas que arrumaram uma diabetes. Na minha cidade, linda cidade à beira mar e no sul maravilha, não há um só médico endocrinologista. Nenhum. Pedi no posto de saúde (na minha cidade não tem hospital) uma consulta com um desses especialistas em Floripa. Isso foi em setembro e ainda não me chamaram para agendar a tal consulta. Claro que não fiquei esperando, senão já teria morrido. Busquei um especialista particular. Na minha cidade também não há. Um médico endocrinologista, que é de outra cidade, vem aqui aos sábados e atende pela manhã. Só sábado, só de manhã.
                Sabe o que eu queria? Um cubaninho. É. Um endocrinologista cubano que ficasse por aqui para eu me consultar de vez em quando. Podia ser de Havana, de Santiago ou até mesmo de Guantánamo, pois os endocrinologistas de São Paulo, do Rio e do Mato Grosso não se interessam em fixar residência na minha linda cidade à beira mar.
                O Governo Federal ameaçou atender minha demanda por um cubaninho endocrinologista, mas todos os médicos brasileiros, que não se interessam em vir me atender, fizeram protestos e uma gritaria dos diabos. A direita, que não pode ouvir falar em Cuba sem ter um chilique, também protestou e acho que não virá o endocrinologista guantanamero cuidar de meu pâncreas falido e do meu índice glicêmico.
                Mas, alvíssaras, o Ministro da Saúde agora diz que virão médicos portugueses e espanhóis desempregados pela crise européia. Não sei o porquê da mudança de nacionalidade dos médicos que virão suprir a falta de profissionais brasileiros pouco dispostos a sair dos grandes centros. O que sei é que os médicos que se mostraram tão indignados com a vinda de seus colegas cubanos, chamando-os de curandeiros no ato público em repúdio à sua contratação pelo governo brasileiro, saudarão a chegada dos médicos europeus. Afinal essa nova leva de imigrantes vem do nunca demais incensado, primeiro mundo.


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