Li, não faz muito tempo, um texto de uma jornalista que
contava de sua viagem num taxi conduzido por um evangélico. Ela, ateia,
reclamava das dificuldades, cada vez maiores, de se ser ateu no Brasil. Me
pareceu um exagero. Desde a adolescência que sou descrente e nunca tive
problemas com isso. Claro, os tempos eram outros e eu por ser de uma família
tipicamente brasileira, daquelas que têm seus santos de devoção, mas que não
dispensam um centro de mesa ou mesmo um terreiro de vez em quando, sempre
estive em contato com as coisas da fé.
Mas, como disse, os tempos eram outros e ninguém levava suas
crenças pra casa alheia nem fazia alarde de sua religião. Quem assim procedia,
escutava que religião não se discutia e ponto. Bons tempos.
O que me incomodou no texto da jornalista, foi o tom
choramingas que o próprio relato do acontecido não dava motivo. Era o mesmo tom
usado pelos evangélicos que, embora tendo mais de 40 milhões de adeptos,
estejam em quase todas as TVs, abertas e fechadas, ocupando um tempo maior até
que o das novelas, elejam enormes contingentes de representantes nos
legislativos e aprovem, pela chantagem explícita, leis amparadas apenas nos
dogmas da fé, continuam reclamando de perseguições.
Passados alguns dias não pude mais que ir
concordando com a jornalista. Está difícil ser ateu no Brasil. No mínimo, ficamos
constrangidos por tantas demonstrações de fanatismo explícito, de intolerância,
de burrice mesmo. Veja se não é o caso.
Na quarta-feira passada depois do jogo do Galo, da
classificação inédita para a final da Libertadores, de todas as emoções que a
partida proporcionou, fiquei paralisado diante da TV esperando a ficha cair. Os
repórteres de campo entrevistavam os jogadores atleticanos e cada um deles que
ocupava os microfones das emissoras de rádio e TV só falavam de bênçãos, da
bondade de Deus, de Sua sabedoria, do quanto Ele é fiel. Tudo naquele linguajar
cheio de frases feitas e estultices. Esquecem-se esses fanáticos que jogam bola
que na outra equipe, seja qual for, existe número igual de fanáticos, freqüentando
as mesmas igrejas, pagando os mesmos dízimos. Tão fiéis e estúpidos quanto
eles.
Ainda que envergando a
camisa de um clube de futebol que abriga torcedores de todas as crenças e
descrenças, os atletas evangélicos fazem o mais descarado proselitismo
religioso. No seu fanatismo não respeitam o espaço público, que é a TV, nem se
importam que detrás da tela haja pessoas tentando educar seus filhos e netos
dentro de outras concepções de vida. Bem sei que esse senso de respeito pelo
outro e suas crenças passa longe dos fundamentalistas de qualquer religião. O
fanatismo religioso desconhece o outro, ignora a diversidade de opiniões. Sua fé
é uma única e monolítica verdade.
Pelo menos eu estava só em casa e não tive que suportar a
vergonha alheia diante de meu neto, não precisei dar-lhe explicações sobre o
fato de eu torcer desesperadamente por uns caras que depois de defenderem o
time de minha paixão saem com aquelas conversas de que tudo se deve a Deus e Suas preferências por uns e não por outros que também lhe são fiéis.
Mais difícil que ser ateu hoje no Brasil, é ter que explicar para uma
criança o motivo de tanta imbecilidade.
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