sábado, 13 de julho de 2013

Fanatismo religioso no futebol


                Li, não faz muito tempo, um texto de uma jornalista que contava de sua viagem num taxi conduzido por um evangélico. Ela, ateia, reclamava das dificuldades, cada vez maiores, de se ser ateu no Brasil. Me pareceu um exagero. Desde a adolescência que sou descrente e nunca tive problemas com isso. Claro, os tempos eram outros e eu por ser de uma família tipicamente brasileira, daquelas que têm seus santos de devoção, mas que não dispensam um centro de mesa ou mesmo um terreiro de vez em quando, sempre estive em contato com as coisas da fé.
                Mas, como disse, os tempos eram outros e ninguém levava suas crenças pra casa alheia nem fazia alarde de sua religião. Quem assim procedia, escutava que religião não se discutia e ponto. Bons tempos.
                O que me incomodou no texto da jornalista, foi o tom choramingas que o próprio relato do acontecido não dava motivo. Era o mesmo tom usado pelos evangélicos que, embora tendo mais de 40 milhões de adeptos, estejam em quase todas as TVs, abertas e fechadas, ocupando um tempo maior até que o das novelas, elejam enormes contingentes de representantes nos legislativos e aprovem, pela chantagem explícita, leis amparadas apenas nos dogmas da fé, continuam reclamando de perseguições.
                 Passados alguns dias não pude mais que ir concordando com a jornalista. Está difícil ser ateu no Brasil. No mínimo, ficamos constrangidos por tantas demonstrações de fanatismo explícito, de intolerância, de burrice mesmo. Veja se não é o caso.
                Na quarta-feira passada depois do jogo do Galo, da classificação inédita para a final da Libertadores, de todas as emoções que a partida proporcionou, fiquei paralisado diante da TV esperando a ficha cair. Os repórteres de campo entrevistavam os jogadores atleticanos e cada um deles que ocupava os microfones das emissoras de rádio e TV só falavam de bênçãos, da bondade de Deus, de Sua sabedoria, do quanto Ele é fiel. Tudo naquele linguajar cheio de frases feitas e estultices. Esquecem-se esses fanáticos que jogam bola que na outra equipe, seja qual for, existe número igual de fanáticos, freqüentando as mesmas igrejas, pagando os mesmos dízimos. Tão fiéis e estúpidos quanto eles.
                 Ainda que envergando a camisa de um clube de futebol que abriga torcedores de todas as crenças e descrenças, os atletas evangélicos fazem o mais descarado proselitismo religioso. No seu fanatismo não respeitam o espaço público, que é a TV, nem se importam que detrás da tela haja pessoas tentando educar seus filhos e netos dentro de outras concepções de vida. Bem sei que esse senso de respeito pelo outro e suas crenças passa longe dos fundamentalistas de qualquer religião. O fanatismo religioso desconhece o outro, ignora a diversidade de opiniões. Sua fé é uma única e monolítica verdade.
                Pelo menos eu estava só em casa e não tive que suportar a vergonha alheia diante de meu neto, não precisei dar-lhe explicações sobre o fato de eu torcer desesperadamente por uns caras que depois de defenderem o time de minha paixão saem com aquelas conversas de que tudo se deve a Deus e Suas preferências por uns e não por outros que também lhe são fiéis.
                Mais difícil que ser ateu hoje no Brasil, é ter que explicar para uma criança o motivo de tanta imbecilidade.





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