quarta-feira, 3 de julho de 2013

Renan e o clamor das ruas


                Se alguém viesse me contar eu não acreditaria, mas eu mesmo ouvi na semana que passou, durante uma sessão do senado. Seu presidente, o nunca demais lembrado, Renan Calheiros, disse que só quem paga passagem de ônibus no Brasil são os estudantes. Falou assim mesmo, com todas as letras. Tratava de defender o passe livre para estudantes no transporte público. Não apenas para os estudantes carentes, nem somente para os estudantes da rede pública de ensino, mas para todos os estudantes, precisem do benefício ou não.
                O senador exemplificou: os idosos não pagam passagem, os deficientes também não assim como os policiais fardados. O trabalhador tem seu transporte pago pelas empresas como determina a lei. Só sobravam os pobres estudantes pagando para andar de ônibus.
                Você, minha amiga, atarefada e sem tempo para assistir as sessões do Senado em vespertinas horas, há de dizer que exagero, que ninguém, nem mesmo Renan, em sã consciência poderia atentar tão descaradamente contra os fatos. Mas repito: foi isso mesmo o que disse o ilustre Senador.
                Fora outro, teria titubeado ao fazer tal afirmação. Se denunciaria como farsante profissional, mas não Renan. O presidente da câmara alta não é homem de titubeios e já mostrou isso no episódio da pensão terceirizada de sua filha. Renan encara qualquer um e diz sem nem piscar:_Só quem paga passagem de ônibus no Brasil são os estudantes.
                Claro que temo estar sendo preconceituoso com o Senador. É que não consigo ouvi-lo sem pensar que por trás de sua fala há algo escuso como seu infinito rebanho que abastece de carne fresca todos os açougues de Alagoas. Bem pode ser que ele realmente creia que só os estudantes paguem para andar de ônibus em nossas cidades, afinal Renan há muito que não usa transporte público, se é que alguma vez usou. Ele e seus pares não têm a mínima noção de como vivemos, o que comemos, como trabalhamos. Para esses senhores não somos pessoas, somos eleitores e nos teletransportamos para as urnas a cada 2 anos.
                Muitas das leis que propõem e aprovam esses senhores parecem vir do mundo da ficção. Rara é a lei que dê respostas aos anseios da maioria da população que é pobre e, por exemplo, usa o transporte público e paga por ele. Se agora Renan e sua turma se preocupam com os estudantes é porque esses foram para as ruas e fizeram-se ouvir. As pessoas que, sim, pagam para andar nos ônibus lotados, nos trens e metrôs que param por qualquer motivo e nas barcas caríssimas, nunca poderão deixar seus precários empregos para manifestarem-se durante as tardes e noites pelas ruas. Essas pessoas que, sim, pagam pelo transporte, pela comida, pelas residências, estão mais ocupadas ganhando seu salário baixo para cumprir seus compromissos, pagar suas contas de água e luz, seu aluguel.
                Essas pessoas vivem e pagam impostos no Brasil e não adianta o Senador querer negar sua existência.




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