domingo, 4 de agosto de 2013

Riso de perplexidade


                Se não fosse o drama do desaparecimento de Amarildo, poderíamos estar rindo do que vem sendo noticiado nos telejornais. Claro, não seria um riso de alegria ou de galhofa, e sim o riso nervoso de quem se sente impotente diante dos atos infames que, a todo momento, são perpetrados contra o povo e sua indignação.
                O Comandante da Polícia Militar do Rio anulou todas as punições administrativas, inclusive as de prisão, que foram aplicadas a policiais de 2011 para cá. Alega o comandante que isso se deu pelo comportamento altamente profissional demonstrado pelos comandados durante a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude e nos protestos e manifestações que vem ocorrendo na capital do estado. Ora, se o sujeito estava preso, em que teria ele contribuído para o tal “profissionalismo” Parece, e é, um escárnio. Além do mais, chamar de profissionalismo as cenas que assistimos na TV e na internet é um escárnio e uma clara manifestação de apoio à violência policial.
                Anular punições é também um recado para quem pensa que pode incriminar policiais. E não é só a Polícia Militar que trabalha pela impunidade de seus membros.
                O delegado que investiga o caso do desaparecimento de Amarildo já anda providenciando o que parece ser uma farsa. Mandou intimar um policial que teria dito (não se sabe pra quem) que um tio seu, que é motorista de um caminhão de lixo que serve a comunidade da Rocinha, fora obrigado por traficantes a levar um corpo para um depósito de lixo no Caju ou para Seropédica (as reportagens que dão conta do fato, divergem).
                A versão policial para o desaparecimento de Amarildo é que este havia saído a pé da UPP após prestar esclarecimentos. As câmaras de segurança que poderiam confirmar a versão do Comandante da Unidade de Polícia “Pacificadora”, estavam desligadas aquela noite.
                Como diria o gerente de banco:_Eh, veja bem... as câmaras não estavam fora de operação, não estavam quebradas, avariadas ou algo parecido. Estavam desligadas, assim como o GPS das viaturas da “pacificadora”.
                O Doutor Delegado talvez devesse partir dessa estranha coincidência para começar as investigações, mas ele prefere acreditar que Amarildo, após prestar os tais esclarecimentos, saíra andando, fora seqüestrado e morto por traficantes e depois desovado num lixão por um caminhão de coleta cujo motorista é tio de um policial e tem a boca nervosa.

                Você, minha amiga, menos leiga do que eu nessas coisas de investigar, pode estar pensando que exagero quando falo em farsa, afinal se arrumarem um corpo para ser dado como o de Amarildo e jogarem a culpa em traficantes, tudo seria facilmente desmascarado por um simples exame de DNA. Pode ser, pode ser. Mas não se esqueça que esse exame seria feito por legistas que trabalham para o estado. O mesmo estado que levou Amarildo e que anistiou policiais punidos desde 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário