Dois
ou três meses atrás, eu li que um de nossos políticos havia afanado uma grana
dos cofres públicos. Não lembro qual era o esquema nem qual a formação de sua
pequena quadrilha. Mas era afano. Esqueci se o sujeito era da situação ou da
oposição. Sei que roubou e foi pego numa operação de não sei que polícia.
Nesse ponto você deve estar pensando que assim
não pode, que assim não dá. Que já que está perdendo seu tempo para ler o que escrevo,
o mínimo que eu poderia fazer era ser um pouco mais preciso ao relatar um
episódio, ao contar um caso. Você quer nomes, datas, endereços. Que assim como
escrevo parece fuxico.
Mas,
por favor, minha amiga, não se irrite, deixe que me explique. Acontece que o
afanâncio a que me refiro levou do erário apenas 8 milhões. E ainda teve de
dividir, pagar umas propinas, dar um cala boca aqui, outro ali. Molhar umas
mãos. Convenhamos, para os padrões nacionais, é quase um pobre coitado, um
ladrão de galinhas digno de pena e até mesmo de perdão. Sua história repercute
pouco, foge à memória. Daqui a pouco ninguém há de lembrar-se da merreca levada
clandestinamente.
Não
sei o que o levou a roubar tão pouco; se a oportunidade escassa devido à grande
concorrência ou o senso de honestidade, sim, de honestidade e parcimônia digna
de um puritano.
Podemos pensar que, neófito, esqueceu-se de calçar o surrupio com notas fiscais frias ou algum contrato registrado em cartório. Daí, o terem descoberto no ato da pequena rapinagem.
Quem sabe não foi alguma necessidade premente que o levou à subtração e ao descuido? Talvez uma filha estudando fora em alguma universidade cara, ou um filho precisando de uma caranga importada, os peitos novos da mulher ou a enfermidade do cachorrinho da família a exigir-lhe um desembolso não programado. Não sei. O certo é que o homem roubou pouco, quase nada.
Podemos pensar que, neófito, esqueceu-se de calçar o surrupio com notas fiscais frias ou algum contrato registrado em cartório. Daí, o terem descoberto no ato da pequena rapinagem.
Quem sabe não foi alguma necessidade premente que o levou à subtração e ao descuido? Talvez uma filha estudando fora em alguma universidade cara, ou um filho precisando de uma caranga importada, os peitos novos da mulher ou a enfermidade do cachorrinho da família a exigir-lhe um desembolso não programado. Não sei. O certo é que o homem roubou pouco, quase nada.
Diferentemente
fez a quadrilha que atuava junto à prefeituras, governos estaduais e se
ramificava no Ministério do Trabalho. Essa gente fez um serviço profissional,
estima-se o rombo em mais 400 milhões. A operação deflagrada pela Polícia Federal, que pôs fim ao esquema,
apreendeu carros de luxo, um helicóptero e muita grana, parte, é claro, em
moeda estrangeira.
O
esquema não trás novidades; Uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público), que é uma espécie de ONG turbinada, convênios com órgãos
públicos, licitações fraudadas, superfaturamento, serviços que sequer eram
prestados etc. Gente graúda metida. Gente do Ministério do Trabalho, gente
próxima ao ministro. Tem até quem já foi ministro interino no negócio.
Bem, era aqui que eu queria chegar.
Como
sabemos, a única coisa que se aprende com a lição da história é que não se
aprende nada com a lição da história. Esse caso repete aquele que deu origem às
denuncias do mensalão. Lá eram os Correios entregues de porteira fechada ao PTB
de Roberto Jefferson e seus blue caps, no caso atual é o Ministério do Trabalho
dado nas mesmas condições ao PDT.
É
o segundo ministro da pasta no Governo Dilma que se vê em meio à denúncias de irregularidades
(desculpe o eufemismo), ambos do mesmo partido. As medidas de praxe foram
tomadas: alguns funcionários denunciados foram exonerados. Funcionários
comissionados, há que ressaltar. Funcionários escolhidos, supostamente, pelo
próprio ministro. Aliás, foi Manoel Dias
quem nos brindou com a versão infantil do caso. Disse o ministro que seu
ministério não tem condições de fiscalizar os convênios firmados e que apenas
repassa as verbas para os governos estaduais e prefeituras que são, segundo ele,
quem paga pelos serviços prestados pela entidade conveniada.
Ora
bolas, se o papel do ministério é tão secundário, por que seus funcionários
estão sendo investigados? Como que um ministro pode alegar que não sabe o que
assina ou assina sem saber o que é feito de repasses milionários de recursos?
Esse
é um típico caso para demissão do titular do ministério. Na melhor das
hipóteses o Ministro Manoel Dias escolhe mal pra burro quem o assessora. A substituição do ministro talvez se dê, mas só depois de muitas negociações que não levarão em conta os
interesses do país nem o histórico recente do PDT e sim o apoio que o partido
dá ao governo em troca de um ministério para acomodar suas nulidades e
profissionais da fraude. É quase certo que o Ministério do Trabalho permanecerá nas mãos do partido que permitiu, para se dizer o mínimo, a fraude gigantesca.
Como
vê, minha amiga, aquele pobre homem que há uns meses atrás precisou levar uns
míseros 8 milhões de algum órgão público, era apenas uma vítima das
circunstâncias, um pai de família cioso, um cidadão que merece nossa
compreensão e o perdão da justiça.
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