Em 90, o Brasil formou uma seleção
medíocre. Nosso técnico, Sebastião Lazaroni, era, e é, uma dessas farsas que,
mexe e vira, aparecem no futebol. Selecionou mal, escalou mal e inventou um
esquema que não funcionou. Era a geração Dunga.
Naquele mundial, a seleção
brasileira fez uma única boa partida e foi justamente contra a Argentina. Mas
no final saímos derrotados por 1X0, gol de Cannigia num passe perfeito de
Maradona.
Depois da derrota, o Branco, nosso
lateral esquerdo, que viria a jogar o mundial de 94 e marcaria o gol decisivo
contra a Holanda na semi-final, saiu dizendo que havia se sentido estranho, com
tonturas, depois de ter bebido água oferecida pelos argentinos durante a
partida. Aquele papo me doeu mais que a derrota. Me pareceu a típica desculpa
esfarrapada de quem perdeu para o maior rival.
Anos depois, Maradona foi a um
programa da TV Argentina e confirmou a história da água batizada. Contou o
episódio entre risos, fazendo galhofa. Deu detalhes. Disse que depois de Branco
ter tomado da garrafinha preparada, Valdo se aproximou e ele, Maradona, ficou
torcendo:_Que la tome, que la tome.
A atitude criminosa dos argentinos foi gozada
enormemente por Maradona. Eu vi um trecho do programa aqui, na ESPN Brasil. Foi
algo triste de assistir. Principalmente pela intervenção de José Trajano que
preferiu desqualificar o programa ao qual comparecera o ex-craque que comentar
suas declarações. Isso aconteceu bem
antes da última internação de Maradona, quando muitos pensaram que ele iria
morrer.
A ilegalidade cometida pelos
argentinos poderia ter custado a carreira de Branco caso ele fosse para o exame
anti-dopping. Alguma substância apareceria no exame e até explicar que focinho
de porco não é tomada, ele sofreria sanções e cairia em descrédito.
Dificilmente teria jogado a Copa de 94.
Nessa semana tomamos conhecimento
de uma reunião realizada na sede do Corinthians em que se discutiu a
moralização do futebol sulamericano. Estavam presentes, entre outros, Romário,
Careca, Maradona e Andrés Sanches.
Não bastasse a presença de
Maradona, que deixou de ter qualquer credibilidade ou autoridade moral depois
dos comentários sobre a dopagem dos brasileiros no mundial de 90, também a
figura de Andrés Sanches deslustrou a reunião.
Sanches, para quem já esqueceu,
apoiava o presidente do Corinthians, Alberto Dualib quando este fez a parceria
com a empresa MSI da qual Kia Joorabchian era o testa de ferro. Sanches era do
conselho deliberativo do clube e fez campanha pela assinatura do acordo com a
empresa que já era alvo de investigação. Seu proprietário era procurado pela
polícia inglesa por falcatruas. A revista Caros Amigos fez enorme matéria sobre
o tema. Apontou todas as irregularidades que a MSI cometeu na Europa. Mostrou
que se tratava de uma máfia. Também Juca Kfouri falou e escreveu a respeito.
Sanches não titubeou em apoiar a parceria que se concretizou bem depois que
todas as denúncias, fartamente documentadas, saíram na imprensa. Um dia a casa
caiu, deixando o clube sob visitas constantes da polícia e seu sócio, Kia
Joorabchian, pedido pela justiça.
Logo após o escândalo que
culminou com a deposição de Dualib da presidência do Corinthians, Sanches compareceu à Câmara dos deputados
para prestar esclarecimentos. Lá fez o papel que todos os pilantras
engravatados do país fazem quando são pegos em flagrante: falou do filhinho e
chorou. Sanches chorou. Sem uma lágrima, mas chorou.
Depois tornou-se presidente do clube que sob sua gestão ganhou vários títulos. A imprensa passou a elogiá-lo como
gestor. Continuou elogiando mesmo depois de Sanches ter declarado em entrevista
que o estádio do Corinthians está sendo construído por valor muito abaixo do de
mercado e que se fosse investigada a operação que possibilitou tal milagre, não
seria ele que iria sair mal da situação. Dizendo isso deixou mal seu amigo Lula
que, segundo consta, teve papel fundamental na intermediação entre o BNDES,
financiador da obra, e a empreiteira que é dona de contratos gigantescos com o
Governo Federal. Depois da entrevista, já não sei se Sanches e Lula continuam
amigos.
Como uma reunião na qual estão
presentes pessoas como Maradona e Andrés Sanches, pode gerar algo positivo?
Como pode ser moralizadora uma simples frase dita por tais personagens? Não
vejo nenhuma diferença entre Andrés Sanches e os dirigentes da Conmebol. A falta de
ética de Maradona é a mesma dos homens que comandam o futebol no continente.
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