É só um palpite,
mas creio que o Supremo vá liberar as biografias não autorizadas. Acho que a corte acatará a ADI impetrada pelos editores.
O resultado prático
da decisão judicial favorável à liberdade de expressão será uma grande quantidade
de biografias saídas das penas de Rui Castro, Sérgio Cabral (pai), Fernando Morais
e outros craques. Muitas personalidades da história do país terão suas vidas
contadas, suas aventuras e desventuras narradas por essa gente que já tem um
acervo de títulos memoráveis.
Certamente que a
novidade de qualquer um poder escrever sobre a vida de pessoas famosas sem
temer demandas judiciais que venham a impedir a comercialização do livro,
atrairá outro tipo de biógrafo. Eu não estranharia encontrar em breve nas
livrarias a biografia não autorizada de Valeska Popozuda escrita por Nelson
Rubens ou a saga de Suzana Vieira assinada por Leão Lobo.
Muitos irão se
adiantar e contratarão suas próprias biografias não autorizadas. Em vez de
escritores fantasmas, biografados fantasmas. O escândalo sob encomenda pode vir
a ser uma nova moda editorial.
Mas por que
estou antevendo tantos atos vis antes mesmo que o caso seja julgado? Ora, porque
os argumentos que são usados para desqualificar os que advogam pelo direito à
privacidade são dessa índole, e me fazem pensar em interesses idem.
Hoje li na
coluna de Anselmo Gois, n’O Globo, a seguinte notinha assinada por Jorge Antônio
Barros: “Circula pelo território livre da internet um
vídeo no qual Roberto Carlos saúda o presidente do Chile, general Augusto
Pinochet, em 1975, dois anos depois do golpe militar.” Abaixo vem
a ligação para o youtube com o vídeo do festival de Viña Del Mar onde ocorreu a
saudação do Rei ao carniceiro chileno.
Roberto Carlos é
um dos que querem ver seu direito à privacidade prevalecendo sobre a liberdade
de expressão, e a retirada de sua biografia das livrarias por ordem judicial,
foi, em última instância, o que detonou o protesto de biógrafos e editores que
entraram com uma ADI junto ao Supremo.
Agora a imprensa
lembra daquele fato ocorrido em Viña Del Mar. 38 anos depois lembram daquilo. Justo
a imprensa brasileira que nunca criticou Bono Vox por suas sorridentes fotos ao
lado de Putin quando o presidente russo massacrava os chechenos.
Logo a imprensa brasileira que faz cutchi-cutchi para o herdeiro do império
britânico. A grande (?) imprensa brasileira que acha que é uma honra ser
recebido por Obama enquanto o havaiano prossegue com a matança no Iraque e
mantém aberto o campo de concentração de Guantánamo. A mesma imprensa que criticou
a política externa do Brasil por sua atuação legalista no golpe de Honduras. A
sereníssima imprensa dos Marinho, Frias, Mesquitas e afins que apoiou a ditadura brasileira. A imprensa monopolista brasileira que, em editoriais
e reportagens, sustentou a legalidade do golpe no Paraguai e a tentativa de
deposição de Hugo Chaves.
Roberto Carlos nunca
fez o gênero politizado, ao contrário de Bono Vox e outros que tais. Roberto
saudou o açougueiro chileno, eu diria, ingenuamente e não como fazia a imprensa
brasileira naquele tempo, com a euforia de um Plínio Correia, fundador e líder
da TFP (Tradição, Família e Propriedade) em sua coluna na Folha de São Paulo.
O debate em
torno da questão das biografias poderia ser rico. O lado que defende a
liberdade de expressão dos biógrafos pode estribar-se em doutrinas, pode
argumentar tendo por base o direito comparado, a declaração universal dos
direitos do homem, o bom senso, o escambau. Não precisa de advogados de porta
de cadeia que usem de expedientes tão mesquinhos.