quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Bolsa família


Imagine uma pessoa muito pobre. Imagine que essa pessoa só possa comer arroz, feijão e farinha e ainda assim falta-lhe um dia o feijão no outro o arroz e no outro a farinha.
Imagine que essa pessoa um dia comece a receber um dinheirinho extra, pouco dinheiro, muito pouco, mas esse pouco dinheiro permite que ela compre um pacote de bolachas por semana, para fazer um agrado pros filhos. Não uma bolacha cara, das de marca famosa. Uma bolacha barata. Então essa pessoa começa a comprar 4 pacotes de bolachas por mês.
Essa pessoa não é a única pessoa pobre que começou a receber esse dinheirinho extra, digamos que sejam 10 milhões delas e a todas lhe ocorra comprar o mesmo pacote de bolacha barata por semana. Aí teremos 40 milhões de pacotes de bolacha sendo vendidos por mês apenas para essas pessoas que antes nem pensavam em comprá-los.
Mas há tantas bolachas sobrando no mercado para vender para essas pessoas que nunca tinham comprado bolachas antes? Claro que não, é necessário fabricá-las, embalá-las, transportá-las. Sim, mas as fábricas podem aumentar tanto assim sua produção de bolachas de uma hora para outra? Olha que são 40 milhões de pacotes de bolachas! Realmente não podem. As fábricas terão que adquirir novas máquinas que fazem bolachas, contratar mais gente para fazer bolachas, e comprar veículos para entregar bolachas.
 Os fabricantes de embalagens de bolachas terão de fazer o mesmo. Comprar mais máquinas de fabricar embalagem de bolachas, contratar mais gente para fazer embalagens de bolachas e comprar veículos para entregar as embalagens de bolachas.
Claro, os fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolacha também terão de correr atrás: comprar maquinaria, contratar pessoal e comprar veículos.
Muitas dessas pessoas que nunca tinham comprado um pacote de bolachas, possivelmente serão empregadas pelos fabricantes de bolachas, pelos fabricantes de embalagens de bolachas, pelos fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolachas e também pelas montadoras de veículos e já não precisarão receber aquele pouco, pouquíssimo dinheiro extra que recebiam antes.
Mas aqui entramos em mais um dilema. Essas pessoas que nunca comiam bolachas e começaram a receber um dinheirinho extra, agora que têm emprego nas fábricas de bolachas, na fábrica de máquinas de fazer bolachas ou na fábrica de embalagens de bolachas, começaram a comprar também a margarina para barrar as bolachas. Acontece que não há tanta margarina sobrando no mercado e os fabricantes de margarina terão de comprar novas máquinas de fabricar margarina e contratar mais gente para operar as máquinas. E também comprar mais embalagens para envasar a margarina. Ah! Eles também precisam de mais veículos para as entregas.
Aqui não falei da dona da venda que vende bolachas e margarina nem da comprinha extra que ela agora pode fazer. É um corte de tecido, um sapato novo pro filho ou, quem sabe, uma geladeira nova no crediário.
Como há muitas vendinhas nesses interiores e nessas periferias, as donas de vendinhas são muitas e todas elas andam fazendo umas comprinhas extras. É um corte de tecido, um sapato novo pro filho e, quem sabe, uma ida ao salão de beleza uma vez ou outra. Mas como é tarde, da dona do salão de beleza, do dono da concessionária de veículos e do dono da sapataria eu falo depois.

Isso não é nenhuma estória de ficção, isto está acontecendo no Brasil e tem nome. O nome disso é economia, mas pode chamar de Bolsa Família.

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