Imagine uma
pessoa muito pobre. Imagine que essa pessoa só possa comer arroz, feijão e
farinha e ainda assim falta-lhe um dia o feijão no outro o arroz e no outro a
farinha.
Imagine que essa
pessoa um dia comece a receber um dinheirinho extra, pouco dinheiro, muito
pouco, mas esse pouco dinheiro permite que ela compre um pacote de bolachas por
semana, para fazer um agrado pros filhos. Não uma bolacha cara, das de marca
famosa. Uma bolacha barata. Então essa pessoa começa a comprar 4 pacotes de
bolachas por mês.
Essa pessoa não
é a única pessoa pobre que começou a receber esse dinheirinho extra, digamos
que sejam 10 milhões delas e a todas lhe ocorra comprar o mesmo pacote de
bolacha barata por semana. Aí teremos 40 milhões de pacotes de bolacha sendo
vendidos por mês apenas para essas pessoas que antes nem pensavam em
comprá-los.
Mas há tantas bolachas sobrando no mercado para vender para essas pessoas que nunca tinham
comprado bolachas antes? Claro que não, é necessário fabricá-las, embalá-las,
transportá-las. Sim, mas as fábricas podem aumentar tanto assim sua produção de
bolachas de uma hora para outra? Olha que são 40 milhões de pacotes de bolachas!
Realmente não podem. As fábricas terão que adquirir novas máquinas que fazem
bolachas, contratar mais gente para fazer bolachas, e comprar veículos para
entregar bolachas.
Os fabricantes de embalagens de bolachas terão
de fazer o mesmo. Comprar mais máquinas de fabricar embalagem de bolachas,
contratar mais gente para fazer embalagens de bolachas e comprar veículos para
entregar as embalagens de bolachas.
Claro, os
fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolacha também terão de correr atrás: comprar maquinaria, contratar pessoal e comprar veículos.
Muitas dessas pessoas
que nunca tinham comprado um pacote de bolachas, possivelmente serão empregadas
pelos fabricantes de bolachas, pelos fabricantes de embalagens de bolachas,
pelos fabricantes de máquinas de fazer bolachas e embalagens de bolachas e
também pelas montadoras de veículos e já não precisarão receber aquele pouco,
pouquíssimo dinheiro extra que recebiam antes.
Mas aqui
entramos em mais um dilema. Essas pessoas que nunca comiam bolachas e começaram
a receber um dinheirinho extra, agora que têm emprego nas fábricas de bolachas,
na fábrica de máquinas de fazer bolachas ou na fábrica de embalagens de
bolachas, começaram a comprar também a margarina para barrar as bolachas.
Acontece que não há tanta margarina sobrando no mercado e os fabricantes de
margarina terão de comprar novas máquinas de fabricar margarina e contratar
mais gente para operar as máquinas. E também comprar mais embalagens para
envasar a margarina. Ah! Eles também precisam de mais veículos para as
entregas.
Aqui não falei
da dona da venda que vende bolachas e margarina nem da comprinha extra que ela
agora pode fazer. É um corte de tecido, um sapato novo pro filho ou, quem sabe,
uma geladeira nova no crediário.
Como há muitas
vendinhas nesses interiores e nessas periferias, as donas de vendinhas são
muitas e todas elas andam fazendo umas comprinhas extras. É um corte de tecido,
um sapato novo pro filho e, quem sabe, uma ida ao salão de beleza uma vez ou
outra. Mas como é tarde, da dona do salão de beleza, do dono da concessionária
de veículos e do dono da sapataria eu falo depois.
Isso não é
nenhuma estória de ficção, isto está acontecendo no Brasil e tem nome. O nome
disso é economia, mas pode chamar de Bolsa Família.
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