Dizem que os
amigos não os fazemos, os reconhecemos. Acho que foi isso que se deu quando
conheci o Tozim.
Eu freqüentava
uma turma no Alto Barroca, um típico bairro da classe média belorizontina. Não
fazia muito tempo que eu por lá andava, um ano, pouco mais. Tinha ido parar naquelas
ruas levado pelo Eduardo e ao fim de alguns meses, fiquei mais íntimo dos caras
que ele. Principalmente do Careca, do Ronim, do Cássio e do Mazim.
Com essa turma
bebi, fumei muita maconha e comi cogumelo pela primeira vez. Também com
eles acampei várias vezes na Serra do Cipó. Foi o fim do meu ciclo nas Alterosas
e foi em ótima companhia.
Um dia, fui
praqueles cantos procurar conversas. As ruas estavam vazias na tarde quase
azul. Não achei ninguém até vir o Tozim.
Eu o conhecera
há poucos dias. Ele havia se mudado pra lá vindo do norte de Minas e talvez por
ser da mesma região de meus antepassados, eu logo simpatizei com ele, com seus
olhos apertados, os lábios finos que soltavam rápidas palavras meio de canto
com sotaque já puxando pro abaianado. Gostei de seu
sorriso sincero de camarada.
Nesse dia que
narro, falamos de cachaça. Ele era de Januária, creio, e o assunto veio naturalmente. Resolvemos beber, para conhecer,
aquela cachaça São Francisco que tinha sido recém-lançada com propaganda na TV
e tudo mais. O mote publicitário da birita dizia: “Rico também bebe cachaça”.
Não que fôssemos
metidos a besta ou algo assim. Os dizeres da propaganda para nós era apenas
uma referência de qualidade. E era disso que falávamos: da qualidade da cachaça
de Januária, tida como a melhor do Brasil. Aos 18, 19 anos já nos achávamos
expertos ou, pelo menos, queríamos
parecer para o outro. Vaidade viril de moços.
Resolvemos pela
prova da São Francisco, mas quando escarafunchamos nossos bolsos, não saíram
mais que umas moedas. Acho que cada um esperava que o outro estivesse mais
fornido. Lembro que fizemos umas diligências para conseguir uma intera, mas não
deu. As ruas estavam avaras de outros vagabundos e até as casas dos amigos
pareciam desertas.
Enquanto
batíamos perna ladeira abaixo, ladeira acima, fomos entabulando nossa conversa.
Eu nunca pequei por calado e Tozim também gostava de charla.
Por fim desistimos
de conseguir dinheiro emprestado e acabamos mesmo numa vagabundíssima cachaça
de armazém. Bebíamos enquanto íamos daqui pra lá pelas ruas tão iguais, tão burguesamente
iguais. Passando a garrafa naquele ritual de querer bem.
Não me lembro
das outras vezes que me encontrei com ele. De certo houve outras vezes, mas a
lembrança só quis guardar aquela tarde.
Meses depois fui
para o Rio e nunca mais voltei a morar em Belo Horizonte. Isso foi em 76. Nunca
mais vi Tozim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário