terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Bolinho, o nome é bolinho


Por enquanto as padarias vendem cigarros. Por enquanto, pois se a perseguição aos fumantes continuar no ritmo que está, em breve teremos que buscar os baixos fundos, o mercado negro, os traficantes para poder comprar nosso roliúde de cada dia.
A perseguição encabeçada pelos proibicionistas profissionais, conta com o auxílio luxuoso dos políticos demagogos e dos chatos de galocha naturebas que vão para a praia com seus carros de trocentos cavalos catar guimbas. Depois as exibem em fotos pelo facebook, mostrando a terrível poluição provocada pelos viciados.
Bem, mas por enquanto podemos comprar cigarros na padaria. E só para isso vou à padaria. No supermercado, o pão é melhor e o leite mais barato. Mas foi na padaria que tive um daqueles momentos de saudade doce e dolorida que as recordações dos tempos de escola trazem.
Foi por causa de um bolinho. Um bolinho tal qual um bolo grande, só que em tamanho reduzido. Vendo-o lembrei-me imediatamente de uma barraquinha que havia do lado da escola onde fiz o ginásio.
Era um desses carrinhos de madeira sobre duas rodas de bicicleta, atulhado de guloseimas. Havia um cubinho de uns dois centímetros de lado feito de pasta de amendoim. Dizziolli era a marca e assim o chamávamos. Esse era o meu preferido. Havia de tudo no carrinho: mariolas embrulhadas em plástico transparente, cocadas e pés de moleque dentro de potes que o vendeiro educadamente recolhia com uma pinça. Havia balas, que traziam de brinde um anel de plástico, bombons de marcas desconhecidas e, o que era alvo da implicância justificada dos professores: chicletes de todas as marcas e formas que existiam naqueles tempos de menos variedades. Claro, os preferidos eram os de bola que os alunos inflavam e estouravam durante as aulas para desespero dos mestres.
E havia bolinhos. Eles vinham embalados em saquinhos plásticos cuja extremidade era fincada num arame rijo que tinha como base um quadrado de madeira. Uns sobre os outros formando uma pirâmide. Eram, esses bolinhos, nosso mata-fome.  
Embora a escola fornecesse merenda, esta não era abundante e depois das duas aulas que intermediavam o recreio e a hora de ir embora, nossos corpos em crescimento pediam alguma coisa para agüentar a longa viagem de ônibus até a casa. O bolinho era a salvação. O preço era o mesmo do diminuto Dizziolli ou de dois chicletes. E era de sustança. Depois de devorado, um gole de água da torneira. Pronto.
Só as meninas comiam bolinhos com elegância. Iam mordiscando devagar enquanto subíamos o fim de ladeira que nos deixava no ponto de ônibus. Muitas vezes ainda comiam quando o coletivo já ia pela Praça das Indústrias, pelo Barreiro, já quase chegando na Gameleira.
Nunca mais vi esses bolinhos por aí. Creio que deva ter a ver com as normas sanitárias ou algo parecido. Sei lá. Depois apareceram uns bolinhos industrializados, vendidos em embalagens coloridas e herméticas. Não era a mesma coisa. Pode ser que fossem mais higiênicos e mesmo mais gostosos, mas não era a mesma coisa. Você me entende.
Bem, no dia em que fui comprar roliúde na padaria, vi aqueles bolinhos. Não estavam em sua embalagem plástica, fincada num arame, repousavam sobre uma bandeja protegido de moscas e mãos pelo vidro do balcão. Mas eram eles, os reconheci. Tinham o mesmo aspecto convidativo às mordidas, a mesma delicadeza das miniaturas, alguma coisa que lembrava risadas. Vê-los foi ver de novo aquele céu azul, aquelas tardes gulosas da meninice. Lembrei-me dos companheiros, da Simone que comia devagar dentro do ônibus Riacho das Pedras, entremeando os mordiscos com seu sorriso e sua conversa.  
Eu sabia que aquele bolinho da padaria não me daria o sabor do antigo, não me daria o sorriso de Simone, nem a companhia do Cabeção, mas quis prová-lo. Talvez...Vasculhei os bolsos e achei umas moedas. Apontei o bolinho para a padeira e perguntei:_Quanto é? _O quê- respondeu solícita- o cup cake? _Dois e cinqüenta.
Pois é, meu bolinho virou cup cake. Continua o mesmo bolinho. Sou capaz de apostar que a receita é a mesma desde aqueles tempos até hoje: farinha, ovos, leite, açúcar.  Mas mudaram-lhe o nome, deram-lhe uma identidade falsa e hoje ele passa por gringo. Foi como quando reencontramos um antigo amigo e ele diz ser outra pessoa, que estamos enganados e se vai apressado. Ficamos parados, atônitos tentando atinar com o motivo da desfeita. Aquele bolinho dizia ser outra coisa, que não sabia quem era Simone nem se lembrava de nenhum Cabeção.


Eu sei que coisas que conhecíamos e nominávamos no mais corriqueiro português, vão ganhando nomes gringos dados pelo caipirismo nacional tão afeito à submissão cultural. Mas aquele bolinho virar cup cake, pra mim foi demais.



sábado, 18 de janeiro de 2014

Upgrade diferenciado


Deve ser da idade, essa idade sem razão nem propósito na qual vou adentrando com passo lépido. Só para esse fim o passo ainda é o mesmo do tempo em que eu encarava longas caminhadas: da Borroca  até o Padre Estáquio; do Méier até a Praça da Bandeira; de Botafogo até a Gávea. Meus passos hoje se apressam no rumo do fim. Já não há mais um continente a ser percorrido, nem um país, sequer uma cidadezinha. Seria algo como um chopp gelado em Copacabana, andar pela praia até o Leblon, se me permite o poeta, e fim.
Deve ser também da idade essa minha má vontade com os modismos do falar e do escrever. As frasezinhas em inglês me exasperam, os neologismos paridos a fórceps me irritam, o discurso sibilino me cansa, já não os tento descascar. Quem pode ler “dislike” e não ter um troço? Quem pode ouvir “niver”, “bike”, “vibe” e não ser acometido por um piti digno de um travesti da Augusto Severo?
Não pense que exagero. Abri hoje a página virtual de um sítio educacional do governo e a primeira palavra que me atacou foi “newsletter”. Num sítio educacional! E do governo! Diante da bobagem não me contive e escrevi na caixa de comentários uma crítica pelo uso do estrangeirismo. Fui apoiado por um rapaz que escreveu:_Adorei seu comment. Tive um ataque de riso nervoso e corri pra tomar meu Gardenal. Pois é, eu sou do tempo do Gardenal.
Mas não são apenas os comentaristas da internet e das TVs que não passam sem seu inglesinho de cais do porto. Gente que eu considero séria também aderiu a moda e manda ver o esculacho em artigos e colunas dos principais sítios informativos e jornais do país. Quer exemplos? Não dou.
E tem o pessoal acadêmico. Se por um lado essa gente não abusa dos anglicismos, por outro se vale de palavras cujo uso só se faz no âmbito das universidades quando estas resolvem explicar o mundo cá de fora. Uma palavra que não pode faltar no discurso acadêmico é “contemporaneidade”. Não se pode falar da Grécia antiga, da usina de Fukushima ou do rolezinho paulistano sem que o termo contemporaneidade esteja presente.
A terminação “dade” é uma espécie de vício dos acadêmicos. Li uma notícia sobre palestra na faculdade de letras da UFRJ: “Intertextualidades por derivação em textos verbo-visuais”. Nem faço idéia do que possa tratar, mas intuo que o bagulho é doido. E mais doido deve ter sido o seminário “Arbitrariedade, composicionalidade e o círculo vicioso”.  Imagino que isso possa ter uma tradução pro verbo corrente, mas, como disse, já não tento descascar esses abacaxis lingüísticos.
No entanto o que mais me chateia são mesmo os anglicismos, o inglês de praia que se usa como distinção de classe e nível cultural. O sujeito manda um “upgrade” e já se acha “diferenciado”.

Mas ainda verei o dia, em que o simples uso do português corrente é que irá distinguir o idiota patológico do sujeito com dois dedos de frente.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Aliança P.T-Sarney, como explicar?


Excetuando-se uns poucos petistas como o ex-governador do Rio grande do Sul, Olívio Dutra, dirigentes, militantes, apoiadores e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores continuam insistindo em desmoralizar o Supremo na figura de seu Presidente Joaquim Barbosa.
Já não é o coro uníssono clamando pela inocência de Genoino, Dirceu, Delúbio e Cunha. As evidências, provas, depoimentos e confissões (com as de Silvinho Pereira, Duda Mendonça e do próprio Delúbio), tornam essa tese por demais esdrúxula.
Os argumentos usados agora vêem do arsenal conhecido por advogados e juristas: interpretações do arcabouço jurídico. Apenas interpretações. Acusa-se o Supremo, ou melhor, o Ministro Barbosa, de ter afrontado as leis vigentes, de ter atropelado o processo.
Ora, não passam de interpretações. As teses contrárias a esses argumentos existem, são conhecidas, foram debatidas durante o julgamento, submetidas ao pleno da Corte Suprema e por maioria de votos dos senhores ministros, e não por decisão de Joaquim Barbosa, prevaleceram. Mas quem defende o indefensável, trata matéria controversa como sendo matéria pacificada. A palavra de qualquer jurista contrário às teses prevalecentes no julgamento, é publicada pela imprensa governista como se tratasse de verdade incontestável. Mesmo que esses juristas tenham atrás de si um passado de conservadorismo e decisões mais que discutíveis.
Outra argumentação, se é que se pode chamar assim, é que o mensalão do PSDB mineiro precedeu ao do P.T e seu julgamento vem tardando, correndo-se o risco de prescrição de penas, caso seus autores sejam condenados. É uma confissão de culpa com um último esperneio. As atuações do Ministério Público e da Procuradoria da República devem ser mesmo postas em dúvida no caso do mensalão mineiro, mas nada tem a ver com o julgamento da AP 470. Um erro, a procrastinação no caso mineiro, não poderia ensejar outro. Seria fazer um tipo de justiça às avessas.
Bem, mas isso é coisa que discute-se. O que não é discutível, sob pena de afronta aos fatos, é a aliança do P.T com os Sarney no Maranhão. Tal aliança é espúria, acintosa, bastarda. É um deboche com os petistas maranhenses, com os eleitores do P.T no Maranhão.
Esse conluio, que vem desde o primeiro mandato de Lula, deixou os maranhenses entregues à sua própria sorte. Deixou de haver uma única voz, (que até então era a do P.T) para questionar os desmandos da sinistra família naquele pobre estado. Para culminar, o P.T resolveu apoiar a candidatura de Roseana Sarney ao governo do estado  quando esta trocou o DEM pelo PMDB de papai.  Tal fato levou o Deputado Domingos Dutra a fazer greve de fome e finalmente desligar-se do Partido dos Trabalhadores. O P.T perdeu um de seus quadros mais combativos e ganhou apoio no Congresso de Sarney e seus acólitos.
Mesmo quando os desmandos dos Sarney assumiram proporções nacionais com o caso dos atos secretos do senado, os deputados e senadores do P.T se recusaram a levantar a voz. Ao contrário: juntaram-se a Renan, Collor e outros da mesma estirpe para defender a permanência do último coronel na presidência daquela casa de leis. Alegava-se a governabilidade. Devia-se apoiar a podridão em nome da governabilidade.
Hoje, quando explode o caso da Penitenciária de Pedrinhas, a aliança do P.T com a família Sarney mostra sua face mais sinistra. O Partido dos Trabalhadores já não pode mais fazer vista grossa para o que praticam seus aliados Brasil a fora. Como explicar os mais de 50 milhões de reais que foram destinados pelo Governo Federal para a reforma do sistema penitenciário do Maranhão?  Como explica a imprensa chapa-branca seu silêncio durante os últimos anos, diante do descaso dos Sarney com a população maranhense? Como se explica uma aliança do P.T com a família Sarney?



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Angela.



Teve um dia, Angela, uma tarde, que eu estava fudido. Fui pra casa fudido e logo você chegou. Você chegou perto de mim e disse: _Tá com vontade de chorar, chora, chora cara. Eu abri o maior berreiro. Eu só queria mesmo era chorar, eu só podia mesmo era chorar. E você estava ali escutando meu bué. Acho que é por esse dia que eu te amo tanto. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Imprensa e opinião

O grupo de humor Porta dos fundos, postou recetemente no You tube uma de suas sátiras. Não é a melhor nem a mais engraçada dos talentosos humoristas. É um esquete que  mostra uma reunião. Quem a preside é uma mulher (obviamente uma personificação da Presidenta Dilma). Na reunião, uma reunião de políticos, a mulher pede aos presentes que roubem menos. Não que deixem de roubar ou que não o façam para sempre, apenas que roubem menos por algum tempo e que no futuro serão recompensados com  mais roubalheiras. Ao fim da reunião um dos presentes pergunta: _Quem vai falar pro Lula?
Bem, como disse o episódio não é dos mais engraçados e, convenhamos, tem um tom grosseiro ao vincular a Presidenta à roubalheira perpetrada pelos partidos que a apóiam. Mas é uma maneira de ver as coisas. A Presidenta, ativa e inteligente como é, bem que poderia dar um basta nas práticas de seus aliados. Não creio que nem ela nem Lula sejam inocentes ao ponto de não saberem o que fazem esses aliados de aluguel com os ministérios e empresas públicas que lhes são dados em troca do apoio no Congresso.
Eu sei, você sabe, a Presidenta sabe.
Mas o que mais me chamou à atenção não foi a postura dos comediantes. Um dos membros do Porta dos fundos, Antônio Tabet, desde antes da eleição de Dilma já escrevia em seu sítio satírico, Kibeloco, cobras e lagartos contra ela. É uma posição política, o sujeito é anti P.T. Nunca escondeu. O que me deixou atônito foi o que li no blog do Renato Rovai, editor da revista Forum, sobre o episódio do Porta dos fundos.
Para o articulista, que é alinhado com o governo (também uma postura política), a peça humorística seria de encomenda. Encomenda de Aécio Neves. No artigo, Rovai cita casos de agências de publicidade que fazem uso de blogs e afins para difundir seus produtos de maneira escamoteada. O ataque a Lula e Dilma no esquete humorístico, seria algo assim.  Propaganda paga pela oposição de direita de olho nas eleições de outubro.
Ora, não passa pela cabeça do Sr. Rovai que essa gente possa ser espontaneamente contra o governo? Contra Lula? Contra Dilma? O Sr. Rovai não sabe que mais de 43 milhões de eleitores votaram espontaneamente contra Dilma na eleição passada? Por que agora toda crítica ao governo tem de ser vista como matéria paga ou golpe das elites?
Quando essas críticas partem de setores que não podem ser acusados de pertencer às elites golpistas, seus autores são chamados de inocentes úteis, de esquerda que a direita adora e por aí vai.
Do outro lado do balcão dá-se o mesmo. Qualquer um que apóie o governo ou algumas de suas ações é logo tachado de vendido. Se apóia é pelas verbas publicitárias, diz o senso comum dos paranóicos. Uma simples propaganda da Caixa ou da Petrobrás encimando um sítio informativo, é logo vista como prova inconteste de que o responsável pela publicação só está atrás da verba publicitária e só por isso bajula.
Omitem, por má fé ou por miopia, que as verbas publicitárias do governo irrigam toda espécie de publicação, mesmo aquelas que, abertamente, fazem oposição a ele. Basta abrir qualquer jornal, sítio informativo, blog  ou ligar a TV ou o rádio para se constatar isso.

Esses formadores de opinião, o que menos têm feito é ajudar a formar opinião. Ou por outra, o que pretendem é que só exista uma opinião: a deles. Quem pense diferente que agüente a pecha de vendido, interesseiro ou burro.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O caso de Joaquim Barbosa, racismo


Já dizia Nelson Rodrigues, que só os sábios e os santos vêem o óbvio. Pobre de mim. Se a assertiva do grande escritor estiver correta, corro o risco de tropeçar no óbvio sem me dar conta. A sapiência passa longe de mim e quanto à santidade, passo eu, longe dela.
Mas há vezes em que o óbvio é tão gritante, tão ululante, que mesmo pecadores e pascácios como eu dão-se conta. É o caso das críticas que nossa imprensa de esquerda (?) vem fazendo ao Ministro Joaquim Barbosa desde que figuras importantes do P.T foram julgadas e condenadas pelo STF.
Em todas as críticas contra o julgamento (que, diga-se de passagem, foi de uma transparência e legalidade incontestáveis), o único nome citado pelos defensores do indefensável é o de Joaquim Barbosa. Sobre ele descarregam impropérios e toda espécie de baixezas. O editorialista de Carta Maior, Saul Leblon, chega ao ponto de grafar o nome do Ministro com j minúsculo, numa atitude que beira o infantilismo.  Até mesmo uma foto do Ministro se divertindo com a família numa piscina, foi publicada para insinuar que a enfermidade da qual padece Barbosa é fictícia. Tratam-no como se fosse um moleque que gazeteasse o trabalho.
Esquecem-se, ou melhor, omitem que as condenações dos políticos, banqueiros e publicitários que eram réus na AP 470, foram por decisão colegiada. Nenhuma das condenações foi por maioria de um voto. Sequer isso houve. Algumas dessas condenações tiveram 4 votos contrários e daí a impetração dos embargos infringentes. Mas os nomes dos outros ministros que votaram pelas condenações não são citados pela imprensa paranóica e acrítica. 
Muitas das condenações só tiveram voto contrário de Lewandowski e Dias Tóffoli, que deveria ter-se abstido de participar do julgamento pela sua proximidade com José Dirceu, com quem trabalhou na Casa Civil. Este fato a imprensa governista esquece-se também de mencionar.
Outra omissão, para não dizer má fé, que se pratica é não citar que a AP 470 foi iniciada sob a presidência do Ministro Aires Brito. Brito, foi quem primeiro advertiu Lewandowski que insistia em ler depoimentos de testemunhas que em nada acrescentavam para o esclarecimento dos fatos. Quando o Ministro Lewandowski parecia estar participando das chicanas advocatícias, Brito o chamou às falas.  
Claro, Aires Brito é o oposto de Barbosa quando de admoestar se trata. Enquanto o mineiro não mede palavras e as profere com rispidez, o sergipano é econômico nos adjetivos e num tom baixo, mas firme, faz-se entender sem provocar réplicas ásperas de seus interlocutores.
A Ministra Carmem Lúcia, que desde o primeiro momento deixou clara sua visão dos fatos que motivaram a AP 470, foi quem melhor definiu o teor daquele julgamento. Disse a ministra que ali não se estava julgando biografias e sim fatos. Pois foram os fatos que condenaram Genoino, Delúbio, Dirceu, Valério, a presidente de um banco e demais réus da AP 470.
Mas nossa imprensa governista, quer que acreditemos que tudo não passou de maquiavelismo de Joaquim Barbosa e só citam seu nome quando tentam desqualificar o julgamento do STF. E por quê? Ora minha amiga, o óbvio ulula: racismo. O mal disfarçado racismo que permeia nossa sociedade. Barbosa teve tanta participação na condenação dos réus quanto os outros ministros que viram dolo nos atos praticados. Mesmo as decisões de cunho administrativo, foram votadas pelo plenário da Corte. Nenhuma decisão foi monocrática, nenhuma condenação se deu pela vontade individual de quem quer que seja.
Barbosa, o único negro a integrar a Corte, paga pelo crime de ser negro e estar no mais alto posto do judiciário brasileiro.

A mesma imprensa que critica as elites do país por estas não engolirem o fato de um ex-operário ter sido Presidente da República, não consegue se desprender do racismo que aquelas mesmas elites cultivam. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O leilão da morte


A agenda do Congresso neste ano eleitoral promete ser das mais confusas e absurdas. De olho no voto, nossos congressistas prometem um espetáculo de demagogia e desmandos.
Temas como a diminuição da maioridade penal, questionamento de decisões judiciais por parte de parlamentares, direito de instituições religiosas impetrarem ADIs contra leis aprovadas nos parlamentos, e até mesmo leis de exceção para reprimir manifestações durante a copa, entre ouras bizarrices, podem marcar a reabertura do ano legislativo. Mas não só do Congresso devem vir atentados contra a cidadania  e os direitos humanos.
O próprio governo, ambicionando votos interioranos, que supostamente iriam para a oposição de direita nas eleições gerais desse ano, não só cooptou a líder do feudalismo, a senadora Kátia Abreu, que agora milita na sua base de sustentação, como também adere às teses ruralistas de expropriação de terras indígenas. Promete tirar a FUNAI do processo de demarcação e introduzir órgãos estaduais e municipais na discussão do tema. Segundo Marivaldo de Castro Pereira, secretário de Assuntos legislativos do Ministério da Justiça, as medidas que serão postas em prática ajudarão a dirimir conflitos na questão das demarcações. Ora bolas, por quem nos toma o Sr. Marivaldo? Crê que somos idiotas patológicos? Parece que sim.
Num simplismo que beira o cinismo, Marivaldo apela para o sentido comum e diz: _Se você briga com seu vizinho, onde é mais fácil de resolver, no mediador da esquina, com os dois se cumprimentando, ou levando o problema para o judiciário?
Acontece Marivaldo, que latifundiários nunca foram vizinhos de cumprimentar ninguém. Cumprimento desses senhores feudais é pistoleiro e jagunço. É bala.
Levar a discussão sobre as demarcações de terras indígenas para o âmbito regional é entregar a escolta das galinhas à raposa, ou pra ser mais nacional, ao lobo guará
Qualquer um sabe que entre as práticas políticas do país, está o loteamento de cargos em troca de apoio parlamentar. Não há liderança no Congresso que não tenha filhos, sobrinhos, genros e agregados dirigindo órgãos decisórios nos municípios, nos estados e na administração federal.
É nos pequenos municípios que são eleitos os membros da bancada ruralista. É lá  que sua influência mais se verifica. É  nos grotões e nos municípios do interior do país que esses políticos elegem ou indicam seus parentes e acólitos para cargos, mandatos, comissões. Pois é para lá que o Ministério da Justiça pretende encaminhar as discussões sobre as terras indígenas.
Não satisfeitos com os avanços que vêem conseguindo junto ao governo encabeçado pelo P.T, os ruralistas promoveram um leilão com o intuito de arrecadar fundos para a contratação de pistoleiros e jagunços que lhes garantam o direito de espoliar índios e trabalhadores rurais. Claro que não se trata mais do “litro de mel” de antigamente. Hoje os sicários e matadores são funcionários de empresas de segurança privada que matam com carteira assinada e descontando para o INSS.
Também fica claro que o leilão, que num primeiro momento arrecadou mais de 650 mil reais, não é necessário. Não falta dinheiro aos proprietários das capitanias hereditárias para contratar seus pistoleiros. É apenas um ato de provocação, de ostentação de seu poder crescente e de sua impunidade assegurada pela justiça que eles dominam.