quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Imprensa e opinião

O grupo de humor Porta dos fundos, postou recetemente no You tube uma de suas sátiras. Não é a melhor nem a mais engraçada dos talentosos humoristas. É um esquete que  mostra uma reunião. Quem a preside é uma mulher (obviamente uma personificação da Presidenta Dilma). Na reunião, uma reunião de políticos, a mulher pede aos presentes que roubem menos. Não que deixem de roubar ou que não o façam para sempre, apenas que roubem menos por algum tempo e que no futuro serão recompensados com  mais roubalheiras. Ao fim da reunião um dos presentes pergunta: _Quem vai falar pro Lula?
Bem, como disse o episódio não é dos mais engraçados e, convenhamos, tem um tom grosseiro ao vincular a Presidenta à roubalheira perpetrada pelos partidos que a apóiam. Mas é uma maneira de ver as coisas. A Presidenta, ativa e inteligente como é, bem que poderia dar um basta nas práticas de seus aliados. Não creio que nem ela nem Lula sejam inocentes ao ponto de não saberem o que fazem esses aliados de aluguel com os ministérios e empresas públicas que lhes são dados em troca do apoio no Congresso.
Eu sei, você sabe, a Presidenta sabe.
Mas o que mais me chamou à atenção não foi a postura dos comediantes. Um dos membros do Porta dos fundos, Antônio Tabet, desde antes da eleição de Dilma já escrevia em seu sítio satírico, Kibeloco, cobras e lagartos contra ela. É uma posição política, o sujeito é anti P.T. Nunca escondeu. O que me deixou atônito foi o que li no blog do Renato Rovai, editor da revista Forum, sobre o episódio do Porta dos fundos.
Para o articulista, que é alinhado com o governo (também uma postura política), a peça humorística seria de encomenda. Encomenda de Aécio Neves. No artigo, Rovai cita casos de agências de publicidade que fazem uso de blogs e afins para difundir seus produtos de maneira escamoteada. O ataque a Lula e Dilma no esquete humorístico, seria algo assim.  Propaganda paga pela oposição de direita de olho nas eleições de outubro.
Ora, não passa pela cabeça do Sr. Rovai que essa gente possa ser espontaneamente contra o governo? Contra Lula? Contra Dilma? O Sr. Rovai não sabe que mais de 43 milhões de eleitores votaram espontaneamente contra Dilma na eleição passada? Por que agora toda crítica ao governo tem de ser vista como matéria paga ou golpe das elites?
Quando essas críticas partem de setores que não podem ser acusados de pertencer às elites golpistas, seus autores são chamados de inocentes úteis, de esquerda que a direita adora e por aí vai.
Do outro lado do balcão dá-se o mesmo. Qualquer um que apóie o governo ou algumas de suas ações é logo tachado de vendido. Se apóia é pelas verbas publicitárias, diz o senso comum dos paranóicos. Uma simples propaganda da Caixa ou da Petrobrás encimando um sítio informativo, é logo vista como prova inconteste de que o responsável pela publicação só está atrás da verba publicitária e só por isso bajula.
Omitem, por má fé ou por miopia, que as verbas publicitárias do governo irrigam toda espécie de publicação, mesmo aquelas que, abertamente, fazem oposição a ele. Basta abrir qualquer jornal, sítio informativo, blog  ou ligar a TV ou o rádio para se constatar isso.

Esses formadores de opinião, o que menos têm feito é ajudar a formar opinião. Ou por outra, o que pretendem é que só exista uma opinião: a deles. Quem pense diferente que agüente a pecha de vendido, interesseiro ou burro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário