Já dizia Nelson Rodrigues, que só os
sábios e os santos vêem o óbvio. Pobre de mim. Se a assertiva do grande
escritor estiver correta, corro o risco de tropeçar no óbvio sem me dar conta. A
sapiência passa longe de mim e quanto à santidade, passo eu, longe dela.
Mas há vezes em que o óbvio é tão
gritante, tão ululante, que mesmo pecadores e pascácios como eu dão-se conta. É
o caso das críticas que nossa imprensa de esquerda (?) vem fazendo ao Ministro
Joaquim Barbosa desde que figuras importantes do P.T foram julgadas e
condenadas pelo STF.
Em todas as críticas contra o
julgamento (que, diga-se de passagem, foi de uma transparência e legalidade
incontestáveis), o único nome citado pelos defensores do indefensável é o de
Joaquim Barbosa. Sobre ele descarregam impropérios e toda espécie de baixezas.
O editorialista de Carta Maior, Saul Leblon, chega ao ponto de grafar o nome do Ministro com j minúsculo, numa
atitude que beira o infantilismo. Até
mesmo uma foto do Ministro se divertindo com a família numa piscina, foi publicada
para insinuar que a enfermidade da qual padece Barbosa é fictícia. Tratam-no
como se fosse um moleque que gazeteasse o trabalho.
Esquecem-se, ou melhor, omitem que as
condenações dos políticos, banqueiros e publicitários que eram réus na AP 470,
foram por decisão colegiada. Nenhuma das condenações foi por maioria de um voto. Sequer
isso houve. Algumas dessas condenações tiveram 4 votos contrários e daí a
impetração dos embargos infringentes. Mas os nomes dos outros ministros que
votaram pelas condenações não são citados pela imprensa paranóica e acrítica.
Muitas das condenações só tiveram
voto contrário de Lewandowski e Dias Tóffoli, que deveria ter-se abstido de
participar do julgamento pela sua proximidade com José Dirceu, com quem
trabalhou na Casa Civil. Este fato a imprensa governista esquece-se
também de mencionar.
Outra omissão, para não dizer má fé,
que se pratica é não citar que a AP 470 foi iniciada sob a presidência do
Ministro Aires Brito. Brito, foi quem primeiro advertiu Lewandowski que
insistia em ler depoimentos de testemunhas que em nada acrescentavam para o esclarecimento
dos fatos. Quando o Ministro Lewandowski parecia estar participando das
chicanas advocatícias, Brito o chamou às falas.
Claro, Aires Brito é o oposto de
Barbosa quando de admoestar se trata. Enquanto o mineiro não mede palavras e as
profere com rispidez, o sergipano é econômico nos adjetivos e num tom baixo,
mas firme, faz-se entender sem provocar réplicas ásperas de seus
interlocutores.
A Ministra Carmem Lúcia, que desde o
primeiro momento deixou clara sua visão dos fatos que motivaram a AP 470, foi
quem melhor definiu o teor daquele julgamento. Disse a ministra que ali não se
estava julgando biografias e sim fatos. Pois foram os fatos que condenaram
Genoino, Delúbio, Dirceu, Valério, a presidente de um banco e demais réus da AP
470.
Mas nossa imprensa governista, quer
que acreditemos que tudo não passou de maquiavelismo de Joaquim Barbosa e só
citam seu nome quando tentam desqualificar o julgamento do STF. E por quê? Ora
minha amiga, o óbvio ulula: racismo. O mal disfarçado racismo que permeia nossa
sociedade. Barbosa teve tanta participação na condenação dos réus quanto os outros
ministros que viram dolo nos atos praticados. Mesmo as decisões de cunho
administrativo, foram votadas pelo plenário da Corte. Nenhuma decisão foi
monocrática, nenhuma condenação se deu pela vontade individual de quem quer que
seja.
Barbosa, o único negro a integrar a Corte, paga pelo crime de ser negro e estar no mais alto posto do judiciário
brasileiro.
A mesma imprensa que critica as
elites do país por estas não engolirem o fato de um ex-operário ter sido Presidente
da República, não consegue se desprender do racismo que aquelas mesmas elites
cultivam.
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