terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O caso de Joaquim Barbosa, racismo


Já dizia Nelson Rodrigues, que só os sábios e os santos vêem o óbvio. Pobre de mim. Se a assertiva do grande escritor estiver correta, corro o risco de tropeçar no óbvio sem me dar conta. A sapiência passa longe de mim e quanto à santidade, passo eu, longe dela.
Mas há vezes em que o óbvio é tão gritante, tão ululante, que mesmo pecadores e pascácios como eu dão-se conta. É o caso das críticas que nossa imprensa de esquerda (?) vem fazendo ao Ministro Joaquim Barbosa desde que figuras importantes do P.T foram julgadas e condenadas pelo STF.
Em todas as críticas contra o julgamento (que, diga-se de passagem, foi de uma transparência e legalidade incontestáveis), o único nome citado pelos defensores do indefensável é o de Joaquim Barbosa. Sobre ele descarregam impropérios e toda espécie de baixezas. O editorialista de Carta Maior, Saul Leblon, chega ao ponto de grafar o nome do Ministro com j minúsculo, numa atitude que beira o infantilismo.  Até mesmo uma foto do Ministro se divertindo com a família numa piscina, foi publicada para insinuar que a enfermidade da qual padece Barbosa é fictícia. Tratam-no como se fosse um moleque que gazeteasse o trabalho.
Esquecem-se, ou melhor, omitem que as condenações dos políticos, banqueiros e publicitários que eram réus na AP 470, foram por decisão colegiada. Nenhuma das condenações foi por maioria de um voto. Sequer isso houve. Algumas dessas condenações tiveram 4 votos contrários e daí a impetração dos embargos infringentes. Mas os nomes dos outros ministros que votaram pelas condenações não são citados pela imprensa paranóica e acrítica. 
Muitas das condenações só tiveram voto contrário de Lewandowski e Dias Tóffoli, que deveria ter-se abstido de participar do julgamento pela sua proximidade com José Dirceu, com quem trabalhou na Casa Civil. Este fato a imprensa governista esquece-se também de mencionar.
Outra omissão, para não dizer má fé, que se pratica é não citar que a AP 470 foi iniciada sob a presidência do Ministro Aires Brito. Brito, foi quem primeiro advertiu Lewandowski que insistia em ler depoimentos de testemunhas que em nada acrescentavam para o esclarecimento dos fatos. Quando o Ministro Lewandowski parecia estar participando das chicanas advocatícias, Brito o chamou às falas.  
Claro, Aires Brito é o oposto de Barbosa quando de admoestar se trata. Enquanto o mineiro não mede palavras e as profere com rispidez, o sergipano é econômico nos adjetivos e num tom baixo, mas firme, faz-se entender sem provocar réplicas ásperas de seus interlocutores.
A Ministra Carmem Lúcia, que desde o primeiro momento deixou clara sua visão dos fatos que motivaram a AP 470, foi quem melhor definiu o teor daquele julgamento. Disse a ministra que ali não se estava julgando biografias e sim fatos. Pois foram os fatos que condenaram Genoino, Delúbio, Dirceu, Valério, a presidente de um banco e demais réus da AP 470.
Mas nossa imprensa governista, quer que acreditemos que tudo não passou de maquiavelismo de Joaquim Barbosa e só citam seu nome quando tentam desqualificar o julgamento do STF. E por quê? Ora minha amiga, o óbvio ulula: racismo. O mal disfarçado racismo que permeia nossa sociedade. Barbosa teve tanta participação na condenação dos réus quanto os outros ministros que viram dolo nos atos praticados. Mesmo as decisões de cunho administrativo, foram votadas pelo plenário da Corte. Nenhuma decisão foi monocrática, nenhuma condenação se deu pela vontade individual de quem quer que seja.
Barbosa, o único negro a integrar a Corte, paga pelo crime de ser negro e estar no mais alto posto do judiciário brasileiro.

A mesma imprensa que critica as elites do país por estas não engolirem o fato de um ex-operário ter sido Presidente da República, não consegue se desprender do racismo que aquelas mesmas elites cultivam. 

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