Por motivos que não vêem ao caso, pude
acompanhar toda a CPI dos Correios. Assisti a todas as sessões, todos os
depoimentos, todos os relatos, todas as confissões.
Lá se vão quase 9 anos e muita gente
que hoje opina nas redes sociais e nos sítios informativos defendendo os
políticos presos do P.T, sequer tinha idade para se inteirar da CPI que
redundou na AP 470. Vai aqui um breve relato de fatos incontestes e não controversos
da CPI dos Correios que serve também para refrescar a memória dos esquecidos.
Lembro bem de ver pela TV Câmara,
Silvinho Pereira entrar no plenário da comissão mista para dar seu primeiro depoimento.
Como todo baixinho, Silvinho chegou andando na ponta dos pés e cheirando nuvem.
Era a pose do homem de bem, a arrogância
a escorrer pela gravata tamanho adulto, inapropriada para seu diminuto porte.
No segundo depoimento Silvinho era
outro. Cabisbaixo, suas primeiras palavras pediam clemência. Citou que estava sem dormir e à
base de remédios, os nervos arrebentados. Claro, entre uma e outra sessão de
inquirição, foi descoberta a existência de uma Land Rover (ou similar) em seu
nome. O automóvel havia sido um presentinho de gente que tinha negócios com o
governo.
Neófito nessas questões de mimos
empresariais, e nervosinho, Silvinho confessou o recebimento do regalo
impróprio e antes mesmo de terminar a CPI, foi julgado e condenado. A pena foi
branda: trabalho comunitário. Depois disso, Silvinho sumiu do mapa.
Outra confissão foi a de Delúbio
Soares. Dizia o tesoureiro que tudo não passava de caixa dois de campanha.
Aliás, Delúbio preferia usar um eufemismo para explicar o vai e vem de
dinheiros suspeitos: recursos não contabilizados. Claro, todo mundo se lembrou
das “sobras de campanha” de Collor e da operação Uruguai. O esquema de Marcus
Valério ganhou o apelido de operação Minas Gerais por uns minutos até que a
juíza, deputada e chata profissional, Denise Frossard, protestou alegando sua
condição de mineira apesar do sotaque acariocado e de ser representante do povo
fluminense.
Nem de longe Delúbio se parecia com o
chiliquento Silvinho. Calmo e cínico, o professor Delúbio falou em entrevista após uma das sessões de
depoimentos, que a CPI logo seria esquecida e viraria piada de salão. Delúbio
se equivocou. Ao comprar a bronca pelos recursos não contabilizados (crime
meramente eleitoral), Delúbio, homem de partido, tentou livrar a cara de outros
envolvidos de alto coturno. Não deu certo.
A única vez que Delúbio baixou a
crista, foi para explicar a existência
de uma fazenda comprada, coincidentemente, quando o esquema de Marcus Valério
bombava.
Assim como vimos mais tarde na CPI do
Cachoeira, essa gente não faz negócios como todo o mundo. Também Marcondes
Pirilo e Agnelo Queiroz tiveram que dar muitas explicações sobre compra e venda de imóveis. Nenhum deles conta
uma estória simples. Algo assim como:_Fui na imobiliária e o corretor me apresentou
uns imóveis e eu escolhi esse. Não, sempre há terceiros envolvidos, parentes,
empréstimos e negócios fechados no fio do bigode.
Esses dois réus confessos, Silvinho e
Delúbio, foram julgados e condenados. Silvinho prestou, supostamente, serviços
num hospital público e Delúbio está na Papuda. No caso de Delúbio, como não
podia deixar de ser, as estórias truncadas continuam, e ele em vez de vender
sua fazenda para pagar a multa que faz parte de sua pena, viu fluir para sua
conta mais de 600 mil reais do dia para noite. Doações. Doações.
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